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sexta-feira, maio 3, 2024
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Videoconferência denuncia uso de agrotóxicos e propõe ações estruturais para defender a saúde dos ACEs

Com o tema ‘Saúde e trabalho dos ACEs em tempos de pandemia’, o Projeto Multicêntrico — que reúne entidades dos trabalhadores, como Sindsprev/RJ, SintSaúde-RJ e Sintrasef-RJ, além de FIOCRUZ, CESTEH, ENSP, IESC/UFRJ, INCA, UFRN e UEZO — realizou uma importante videoconferência (LIVE) no dia 26 de agosto. No evento foi abordado o processo de adoecimento e mortes causado pelo uso de agrotóxicos neurotóxicos e cancerígenos, com destaque para os malefícios (reais e potenciais) produzidos pelo Cielo — inseticida recentemente adotado pelo Ministério da Saúde em substituição ao Malathion. A conferência ressaltou ainda o agravamento do adoecimento dos trabalhadores em decorrência da pandemia de covid-19 e debateu a urgência de se buscar alternativas de controle de vetores sem o uso de substâncias químicas.

Composta de três painéis técnico-temáticos e uma exposição de cada um dos representantes das entidades dos trabalhadores, a videoconferência foi aberta com a fala do coordenador do Projeto Multicêntrico do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH) da Fundação Oswaldo Cruz, Luiz Claudio Meirelles. Após explicar ser um dos objetivos centrais do projeto o monitoramento da saúde dos trabalhadores, ele destacou a necessidade de se ter uma avaliação clínica, epidemiológica e laboratorial, e não apenas exames de colinesterase, para que se conheça o real impacto da exposição desses trabalhadores a substâncias nocivas. “Precisamos ter uma identificação das nocividades do trabalho realizado pelos Agentes de Combate a Endemias (ACEs)”, frisou, após apresentar um fluxograma de atendimentos realizados pelo ambulatório do CESTEH e laboratórios parceiros, que começou com um grupo de 50 trabalhadores da UBV.

De acordo com o fluxograma, de 442 trabalhadores acompanhados pelo CESTEH em 2010-2011, cerca de 14,4% tiveram diagnóstico de tremor essencial, prevalência 3,6 vezes maior quando comparada à situação de uma população não exposta a agrotóxicos.

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Luiz Claudio Meirelles explicou que a exposição a agrotóxicos está associada a doenças neurológicas como Alzheimer, Parkisonismo, Neuropatia Periférica e Esclerose Lateral Amiotrófica.

O fluxograma é produto da análise de mortes relacionadas ao trabalho após 25 anos de exposição a diferentes agentes agrotóxicos (neurotóxicos ou cancerígenos), como organoclorados (BHC e DDT), organofosforados (temefós e malationa), carbamatos (bendiocarbe), piretroides (deltametrina) e benzoilureias (diflubenzuron).

“Temos subsídios para nos precavermos em relação ao Cielo”, afirma médica

Pesquisadora do laboratório de toxicologia do CESTEH-FIOCRUZ-ENSP, a Dra. Ana Cristina Simões Rosa falou sobre a toxicidade do Cielo. Segundo ela, uma nota técnica do Ministério da Saúde, publicada em março deste ano para orientar o manejo do Cielo, só leva em conta uma avaliação produzida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a partir de informações da própria indústria que fabrica o pesticida.

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Ana Cristina considerou discutível a afirmação de que o Cielo teria “uma toxicidade aguda menor”. “É provável que no futuro tenhamos casos de adoecimento relacionados ao uso dessa substância [Cielo] porque, na via oral, ele possui uma toxicidade maior. Infelizmente, a nota técnica do Ministério sobre o Cielo considera mais o uso operacional do produto do que a saúde dos trabalhadores. A nota diz que a toxicidade do Cielo seria baixa porque não possuiria efeito carcinogênico ou no aparelho reprodutivo, como se não causasse efeitos nos outros sistemas. Esta luta está no início, mas já temos subsídios para nos precavermos em relação ao Cielo”, disse ela, frisando que a União Europeia já baniu a substância, por ser tóxico para as abelhas também.

Para pesquisadora da FIOCRUZ-PE, uso de veneno é solução paliativa nas endemias

Aline Gurgel, da FIOCRUZ Pernambuco, abordou a questão das arboviroses a partir de um contexto estrutural mais amplo e relacionado à falta de saneamento ambiental adequado para as populações de baixa renda do país. “O problema não está somente no mosquito aedes, mas em todo um contexto que produz adoecimento. A grande questão é a falta de acesso da população a água potável, esgotamento sanitário e coleta regular de lixo, problemas estes que são produto das desigualdades estruturais do país. Nesse sentido, usar veneno é uma solução paliativa”, afirmou. Segundo ela, um levantamento feito em Recife (PE) sobre a propagação da Zika mostrou a concentração da epidemia nos bairros mais pobres da capital pernambucana. “Não podemos simplesmente responsabilizar as vítimas desse processo, dizendo que elas não cobrem seus reservatórios de água. São necessárias ações educativas horizontalizadas, construídas com a participação das comunidades, e a adoção de controle mecânico e biológico de vetores, para que se prescinda do uso de venenos”, destacou.

Representante do Sindsprev/RJ alerta para risco à saúde de ACEs

Falando em nome do Departamento de Saúde do Trabalhador do Sindsprev/RJ, o servidor Marcos Rogério abriu sua intervenção manifestando solidariedade aos milhares de famílias brasileiras vitimadas pela pandemia de covid-19. Em seguida, fez um resgate histórico sobre o combate a pandemias e epidemias no Brasil. “Em 1899, no governo Campos Salles, foi criada a polícia sanitária. Já em 1903, Oswaldo Cruz cria as brigadas da polícia sanitária, inclusive para erradicar a febre amarela. A Brigada, com poder de polícia, surpreendia os moradores em suas casas e podia aplicar multas se houvesse a proliferação de doenças provocadas por focos de mosquitos. Em 1903 a Brigada começou a ser apelidada pela população como Brigada dos mata-mosquitos. E por falar na força que as palavras têm, o inseticida Cielo traz de maneira subliminar, no nome, o sentido de crédito. A Clarke Brasil, que produz o Cielo, acreditou que daríamos crédito a este veneno, que certamente produzirá débitos na saúde humana e mortes de trabalhadores do combate às endemias”, argumentou.

Após elogiar o Projeto Multicêntrico e seus estudos sobre o impacto da contaminação de inseticidas na saúde dos ACEs, Marcos Rogério lembrou os riscos das atividades cotidianas realizadas pelos trabalhadores. “Temos contatos diários com moradores, o que aumenta as chances de sermos contaminados pela covid, além de estarmos expostos a larvicidas e inseticidas. Atualmente, entre 12 e 13% dos trabalhadores são afastados a cada ano por motivo de doença e as mortes por câncer na categoria são altas, o que mostra os efeitos desastrosos dos agrotóxicos sobre agentes e guardas de endemias.

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Nossa imunidade já é baixa e corremos risco de morte”, concluiu.

A videoconferência também teve a participação de SintSaúde-RJ; Sintrasef; Fórum Nacional de combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos; Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida; GT de Saúde e Ambiente da Abrasco; e Defensoria Regional de Direitos Humanos no Rio de Janeiro.

O Sindsprev/RJ também foi representado, na videoconferência, pelo servidor Ébio Willis. O vídeo completo da conferência pode ser acessado na página do CESTEH-ENSP no Facebook.

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