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quinta-feira, maio 16, 2024
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Mil dias sem punição para mandantes e executores do assassinato de Marielle

Parece impossível que um caso possa chegar a mil dias sem que as investigações tenham apontado e punido os mandantes e executores de um duplo assassinato político. Mas é o que acontece com a morte a tiros da vereadora do PSOL Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes. O crime, meticulosamente planejado, com monitoramento da vida da ex-parlamentar de esquerda durante cerca de dois meses, aconteceu em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio.

A #mildiassemmarielle foi criada como forma de lembrar a data, cobrar agilidade nas investigações e protestar contra tanto tempo sem chegar a uma conclusão. Você também pode participar. Basta clicar na hashtag. Um ato em frente à Câmara dos Vereadores e protestos em vários pontos do Rio foram a forma de exigir a prisão e punição dos responsáveis pelo crime.

O deputado Marcelo Freixo criticou a demora. “A gente sabe que não é um crime fácil, mas mil dias é muita coisa. Tenho acompanhado de perto as investigações e sei que em nenhum momento elas pararam. Sei que eles estão produzindo provas. Mas o que mais a gente espera é que os investigadores cheguem, o mais breve possível, no mandante”, afirmou. Adiantou existirem informações novas, como a quebra de senhas de telefones. “E é nisso que a gente espera que surjam novas informações para se chegar no mando”, disse.

Destacou que foi um crime muito sofisticado e bem planejado para uma pessoa que nunca recebeu uma ameaça. “Por trás daquele assassino frio há um mandante de grandes negócios no Rio, que viu na Marielle uma forma de se vingar”, argumentou.

Intervenção militar

Não se sabe exatamente por que a investigação demora tanto e não chega a lugar nenhum. Segundo o jornalista Bob Fernandes, quem teria todas as condições de ajudar nas investigações seria o general Walter Souza Braga Netto, que comandou a intervenção militar no Rio de Janeiro, entre fevereiro e dezembro de 2018. Desde 18 de fevereiro de 2020, passou a Chefe da Casa Civil, a convite de Jair Bolsonaro. Segundo Fernandes, Braga Netto, a quem ficaram subordinadas todas as forças de segurança fluminenses, teria mapeada toda a milícia do estado, podendo ajudar a desvendar o caso que envolve pessoas ligadas a estas forças paramilitares.

Para outro jornalista, Luis Nassif, a demora na elucidação da morte de Marielle é a prova que não foi encomenda de meros milicianos. “Não tem lógica prender o assassino e, depois de mil dias, não saber quem encomendou. E, de tempos em tempos, divulgar informações irrelevantes como se representassem avanços”, afirmou em mensagem postada no Twiter.

Enquanto isso, seguem presos os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz desde março de 2019, o primeiro acusado pelo Ministério Público de ter feito os 13 disparos que mataram Marielle e Anderson; o segundo de dirigir o carro na noite do crime. Meses depois, agentes da Polícia Civil estiveram no presídio de Porto Velho (RO), onde a dupla está presa, para tentar fazer com que eles confessassem o crime. Não tiveram sucesso. “Para fazer o link entre a execução e o mandante, é necessária uma confissão. Muita gente foi presa por causa desta investigação. Ainda vão falar”, acredita uma das pessoas que atua no caso, sob anonimato a jornalista da CNN. Ambos foram denunciados pelo MP e só devem ir a júri popular no final de 2021.

O máximo que se conseguiu até agora foi a prisão dos dois milicianos apontados como executores. Ambos fariam parte do Escritório do Crime, suspeito de ser comandado pelo ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, condecorado em 2005 pelo então deputado estadual, hoje senador, Flávio Bolsonaro, por orientação do pai Jair Bolsonaro, com a Medalha Tiradentes, por seu trabalho como policial. Nóbrega foi morto a tiros na Bahia, ano passado. Tem ligações com Fabrício Queiroz, que empregou a mãe e a ex-mulher de Adriano, no gabinete de Flávio.

Google

O MP do Rio deposita parte de suas esperanças de encontrar um mandante e encerrar o caso em uma decisão judicial que obrigue o Google a fornecer uma série de dados que podem ajudar na identificação de um mandante para o crime.
Depois de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concordar que o pleito dos investigadores não traz riscos à privacidade, a empresa entrou com novo recurso, agora no Supremo Tribunal Federal – o caso ainda não tem relator.

O MP, segundo a CNN, pede acesso aos dados de geolocalização de todos os usuários que estavam nos arredores do pedágio da Transolímpica, Zona Oeste do Rio, na noite de 2 de dezembro de 2018 – foi lá que foi visto pela última vez o carro usado pelos réus do duplo homicídio, e quer saber quem fez pesquisas sobre os locais em que Marielle estaria na semana anterior a sua morte.

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