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segunda-feira, maio 6, 2024
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Samba no Brasil tem que ser dividido entre antes (e depois) de Antônio Candeia Filho

A música brasileira, e o samba em particular, nunca mais seriam os mesmos a partir do dia 17 de agosto de 1935, quando nascia Antônio Candeia Filho, mais conhecido como Candeia. Aquele que entrou para a história como um dos maiores compositores do gênero do Brasil, em todos os tempos, cresceu em meio às rodas de choro e samba que seu pai, também sambista, promovia seguidamente, no bairro de Oswaldo Cruz, zona Norte do Rio, com presença de nomes como Paulo da Portela, João da Gente, Dino do Violão, Claudionor Cruz e Luperce Miranda, entre outros.

Como integrante do bloco ‘Vai Como Pode’, Candeia participou do núcleo original de sambistas, músicos e compositores que fundou a Portela. Em 1953, Candeia compôs seu primeiro samba (“Seis datas magnas”) para a nova escola, em parceria com Altair Marinho. Candeia também venceria outras quatro seletivas de samba da Portela: “Festas juninas em fevereiro” (1955), “Legados de Dom João VI” (1957), “Rio, capital eterna do samba” e “Histórias e tradições do Rio quatrocentão”.

No início da década de 1960, Candeia ingressou na Polícia Civil, assumindo o cargo de investigador, mas não abandonou o samba. Ao lado de compositores como Casquinha e Picolino, dirigiu o conjunto ‘Mensageiros do Samba’, que realizou suas primeiras apresentações no antológico bar Zicartola, lançando um LP em 1964.

A carreira de Candeia como policial, no entanto, terminou de modo trágico no dia 13 de dezembro de 1965. Ao se envolver em uma batida de trânsito, acabou surpreendido por um motorista, que lhe desferiu cinco tiros.

Como resultado daquela tentativa de homicídio, Candeia perdeu definitivamente os movimentos das pernas.

A volta por cima e a consagração como compositor

Após um longo período de depressão, Candeia no entanto voltou a compor, demonstrando cada vez mais força poética e musical, como nas letras de ‘Sorriso Antigo’, faixa que compôs seu primeiro LP como intérprete (‘Candeia’), lançado em 1971:

“Guarda este sorriso tão antigo
Tenho um novo mais amigo
Que me fez lhe esquecer
Já nem me lembro da sua voz
E eu já nem sei o que se passou entre nós
Se é despeito, pode chorar
Em meu peito já não há
Lugar pra lhe abrigar”

Neste mesmo LP, Candeia também apresentou “Dia da Graça”, feito em homenagem à Portela e considerado um dos grandes sambas do compositor, com letra primorosa que afirma a luta contra o preconceito racial e a centralidade da cultura negra na formação social brasileira:

“Hoje é manhã de carnaval (ao esplendor)
As escolas vão desfilar (garbosamente)
Aquela gente de cor com a imponência de um rei vai pisar na passarela (salve a Portela)
Vamos esquecer os desenganos (que passamos)
Viver alegria que sonhamos (durante o ano)
Damos o nosso coração, alegria e amor a todos sem distinção de cor….”

Sambas de Candeia viraram obras-primas da MPB

No disco do ano seguinte, Raiz (1971), Candeia traria outras obras-primas, como ‘De Qualquer Maneira’, ‘Silêncio Tamborim’ e ‘Filosofia do Samba’, esta última regravada por Paulinho da Viola em competente interpretação.

A partir do sucesso e da consagração de suas composições —  que lhe garantiram um lugar definitivo entre os maiores compositores da história do samba no país —, qualquer lançamento de um novo disco de Candeia passou a ser esperado como uma inevitável colheita de verdadeiras obras-primas do gênero. E foi o que aconteceu nos discos seguintes: ‘Samba de Roda’ (1975), ‘Luz da Inspiração’ (1977) e ‘Axé’ (1978). Músicas como ‘Nova Escola’, ‘Olha o Samba, Sinhá’, ‘Vem Menina Moça’, ‘Amor não é Brinquedo’ e ‘Vivo Isolado do Mundo’ (esta última regravada por Zeca Pagodinho), comprovaram mais uma vez o que todos (público e crítica musical) já sabiam.

Ou seja: que o samba, no Brasil, tem que ser dividido entre dois períodos históricos distintos. Antes e depois de Antônio Candeia Filho.

Além de seus LPs individuais, Candeia participou do disco “Partido em 5”, primeiro de uma série de três volumes dedicados ao partido-alto.

Em 1975, Candeia lançou um manifesto crítico aos rumos que a Portela vinha tomando no carnaval, apresentando propostas que não foram levadas em consideração pelos então dirigentes da azul e branco de Madureira. Em razão dessas divergências, Candeia e outros compositores fundaram o Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, que se propunha a ser uma agremiação carnavalesca diferente, enfatizando sobretudo a identidade cultural afro-brasileira.

Em decorrência de complicações renais, Candeia faleceu em novembro de 1978, deixando uma lacuna irreparável para o samba, a música e a cultura do Brasil. Seu legado se soma aos de Noel Rosa, Silas de Oliveira, Wilson Batista, Ismael Silva, Ataulfo Alves, Cartola, Dona Ivone Lara, João Nogueira, Nelson Cavaquinho, Mano Décio da Viola, Donga e tantos outros que fizeram do samba um gênero musical único e respeitado no mundo inteiro.

Leia texto sobre a obra de Ataulfo Alves, outro grande compositor, clicando no link abaixo:

Ataulfo Alves

Para conhecer um pouco das composições de Candeia, clique nos links abaixo:

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