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domingo, maio 25, 2025
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Assembleia denuncia precarização do Hospital de Bonsucesso e repudia autoritarismo do Grupo Conceição

Assembleia dos servidores do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) realizada na manhã da última sexta-feira (23/5) marcou a retomada das mobilizações contra o sucateamento da unidade e para combater o autoritarismo do Grupo Hospitalar Conceição (GHC). Inicialmente prevista para acontecer no auditório do Prédio 2 (6º andar), a assembleia teve ser realizada na Praça da Liberdade porque, na última hora, o Sindsprev/RJ foi informado de que o espaço seria ocupado por uma “reunião” convocada pela Superintendência de Administração do HFB.

No entanto, este não foi o único problema do dia. Cerca de 10 minutos antes do início da assembleia na Praça da Liberdade, seguranças do HFB tentaram barrar a entrada de Christiane Gerardo, dirigente do Sindsprev/RJ que trazia a caixa de som a ser usada para comunicação dos servidores. Após um princípio de tumulto e da ajuda dos servidores do hospital, Christiane pôde enfim ingressar no HFB com o equipamento. Ainda não se dar por vencido, o Grupo Conceição chamou a Polícia Militar para acompanhar a assembleia, numa óbvia tentativa de intimidar os trabalhadores.

Servidores estão indignados com precarização do HFB e autoritarismo do Grupo Conceição. Foto: Mayara Alves.

O autoritarismo do Grupo Conceição foi amplamente repudiado por todos os servidores e servidoras que compareceram à assembleia convocada para apresentar informes gerais e discutir pontos como remoções e cessões, programa de residência e CTUs.

“A tentativa de impedir a entrada da caixa de som do sindicato foi uma afronta a todos os servidores e ao Sindsprev-RJ, uma entidade independente de governos e que só tem um lado, que é o lado dos trabalhadores. Vamos dar uma resposta a essa postura de agressão, a esse autoritarismo. Vamos denunciar em todos os fóruns. Não precisamos de polícia porque polícia é pra bandido”, afirmou Sidney Castro, dirigente do Sindsprev-RJ, ao iniciar a assembleia.

Servidora lotada no HFB e também dirigente do Sindsprev-RJ, Roseani Villela criticou a postura do Grupo Conceição ao negar o acesso do sindicato ao auditório do Prédio 2. “Apenas na véspera é que eu fui informada de que o auditório tinha sido reservado pela administração do hospital, o que é um completo absurdo. Afinal de contas, nós já tínhamos reservado aquele espaço com muita antecedência. O que está acontecendo é um completo desrespeito com todos nós, servidores”, disse ela.

Hospital de Bonsucesso é unidade pública. Não é propriedade do Grupo Conceição. Servidores têm direito de se organizar e fazer assembleias. Foto: Mayara Alves.

Após apresentar um informe resumido sobre a tramitação do Projeto de Lei (PL) nº 3.102 (transposição para a carreira da Ciência e Tecnologia), sobre a PEC 21 (que enquadra os auxiliares como técnicos de enfermagem) e sobre a situação dos CTUs, Christiane Gerardo também não poupou críticas ao autoritarismo do Grupo Conceição. “O direito de reunião e de organização sindical é um direito previsto na Constituição. O auditório estava disponível, mas o que não queriam era que ocorresse esta assembleia porque, quando ocorre assembleia, os trabalhadores discutem a sua situação, se organizam para combater o autoritarismo, o congelamento salarial, a falta de perspectivas no desenvolvimento d3 sua carreira, a privatização e o desmonte do hospital”, frisou.

Coordenador da residência médica do HFB, o médico Claudio Pena apresentou um quadro desolador. “Os 26 programas de residência médica são apoiados em 231 preceptores médicos que estão pedindo remoção ou cessão da unidade. Os 180 profissionais restantes são temporários porque trabalham por meio de CTUs ou no GHC. A proposta desta coordenação é que esta transição seja feita com muita responsabilidade em relação a esses 26 programas de residência médica do Hospital de Bonsuceso, pois os residentes estão inseguros diante da falta de informação precisa sobre o que acontecerá com eles”, explicou.

Também médico lotado no HFB, Julio Noronha reforçou as críticas ao Grupo Hospitalar Conceição. “Primeiramente, quero dizer que é um absurdo ter a polícia aqui. Outra coisa é que neste hospital temos 2.200 estatutários, dos quais 730 optaram por ficar sob gestão do GHC. Precisamos saber o que queremos. Precisamos parar até que isto se resolva, pois já existem ações na CGU, no TCU, no Ministério Público, várias ações questionando esse processo. Deveríamos ficar em estado de greve, convocar uma assembleia permanente e um dia de paralisação.  O GHC é uma farsa porque não aumentou leitos, promoveu inaugurações fake de setores e manteve o hospital na precarização”, criticou.

Médico lotado no HFB, Júlio Noronha propôs paralisação e assembleia permanente como resposta aos absurdos do Grupo Conceição. Foto: Mayara Alves.

Ex-vereador pelo PSOL e médico de formação, Paulo Pinheiro fez um chamado à resistência. “Querem nos transformar em seres em extinção, mas não vamos entrar para o Ibama. Todos nós, estatutários e CTUs, mantivemos este hospital funcionando, um hospital que sempre foi de ponta. Nos últimos meses, na Zona Norte, os pacientes baleados estão sendo enviados ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, e não para o HFB, onde a emergência referenciada é uma fantasia. É uma emergência fake, trouxeram o Lula para inaugurar uma emergência fake. O Hospital da Lagoa também está ameaçado.  É uma unidade com 900 pacientes de câncer sendo acompanhados, e lá vão fechar serviços. Para onde vão esses pacientes e os 180 residentes médicos dali? Temos que continuar lutando e resistir”, destacou.

Servidor da saúde federal lotado em Niterói, Sebastião José de Souza (Tão) criticou a tentativa do Grupo Conceição de tratar as atividades dos servidores como “caso de polícia”. “É um absurdo o aparato policial presente aqui. Não estamos vivendo aqui o que aconteceu em 8 de janeiro de 2023. Estamos fazendo uma assembleia de trabalhadores que é garantida pela Constituição, que nos dá o direito de nos organizarmos. Vamos denunciar esse autoritarismo ao Ministério da Saúde e em outros fóruns. Não podemos mais ficar sendo vigiados pela repressão. Vamos repudiar sempre esta posição autoritária. Não podemos aceitar que o aparato policial seja usado contra nós, trabalhadores”, disse ele.

Claudio Oliveira, dirigente do sindicato lotado no Hospital Federal de Ipanema, reforçou as críticas. “O Grupo Conceição tentou evitar que os trabalhadores deste hospital se reunissem para deliberar sobre suas prioridades, o que é inaceitável. Queria falar também sobre o projeto Papo Reto, idealizado por mim e pela companheira Aparecida Vaz, do Hospital Federal da Lagoa. É um projeto que visa mais aproximação com a base da nossa categoria, mostrando que alcançamos nossos interesses quando estamos unidos”.

PMs chamados pela administração do HFB para “acompanhar” a assembleia. Grupo Conceição trata servidores como “caso de polícia”. Foto: Mayara Alves.

Em sua fala, Aparecida Vaz resumiu o que está acontecendo no Hospital da Lagoa, onde o corpo clínico também luta contra a entrega daquela unidade ao Instituto Fernando Figueiras, da Fiocruz. “Nâo sabemos se o Instituto Fernando Figueiras vai se apoderar no todo ou em parte do Hospital da Lagoa e estamos muito preocupados com isto. O fato é que nós servidores sofreremos, mas os maiores prejudicados serão os pacientes. São pessoas muito carentes, vindas em sua maioria da Rocinha. Pessoas que dependem por completo do serviço público federal de saúde. Por isso lutamos por manter o Hospital da Lagoa como unidade cem por cento vinculada ao Ministério da Saúde”, pontuou.

Servidora cedida ao SUS em Niterói e dirigente do Sindsprev-RJ, Ivone Suppo chamou atenção para o fatiamento como ameaça a todo o serviço público de saúde. “O que acontece no Hospital de Bonsucesso e em outras unidades é o fim do serviço público e da nossa luta em defesa do SUS. Se esta unidade estivesse funcionando de acordo com a sua potência, todos os usuários estariam sendo atendidos aqui. Isto é muito diferente de fazer fake news para dizer que a emergência vai funcionar ou que as cirurgias voltarão a todo vapor. Digo isto porque, quando as reinaugurações fake saem dos holofotes, quem sofre é a população. Quando os residentes não têm condições de se capacitar, quem sofre também é a população que precisa desta unidade, um hospital com história de luta e resistência. E nessa história o Sindsprev-RJ nunca se vendeu. Contem com o Sindsprev-RJ para resistir”, convocou.

“Querem nos aniquilar, mas precisamos nos preservar quando escolhemos sair da unidade para mantermos a coesão e a dignidade necessárias para trabalhar. Mas isto não significa que vamos abandonar as nossas unidades. E digo que vocês não estarão abandonados porque o sindicato jamais vai deixar de estar nas trincheiras de luta de vocês. Foi muito triste o que aconteceu hoje, com a tentativa de barrar a nossa entrada numa unidade como esta, para fazer a livre manifestação da classe trabalhadora, e ainda ver a PM com fuzil no pátio do Hospital de Bonsucesso. A nossa voz ninguém vai calar. E a única luta que a gente perde é aquela na qual não entramos”, ressaltou Maria Isabel Mariano, dirigente do Sindsprev-RJ.

“O que vem acontecendo no HFB é tudo o que dissemos que aconteceria após a entrada do Grupo Conceição. Recentemente, chegou aos nossos ouvidos que estão exigindo que os técnicos empurrem macas, pois o Grupo Conceição não contrata maqueiros. Também há denúncias de assédio de chefias do GHC sobre servidores. Temos que nos impor. Qualquer denúncia de assédio deve ser comprovada, e por isto é muito importante que os trabalhadores gravem as situações de assédio. Temos que nos mobilizar contra tudo isto”, concluiu Sidney Castro, no encerramento da assembleia.

Roseani Villela, servidora do HFB e dirigente do Sindsprev-RJ, fala durante a assembleia. Foto: Mayara Alves.

 

 

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