Uma assembleia virtual, que reuniu servidores do INSS e integrantes do Comando Nacional de Greve, realizada na última sexta-feira (4/10), decidiu pela continuidade da greve dos trabalhadores do Instituto. A paralisação, que completou 80 dias, também é contra as medidas autoritárias do governo, que determinou corte de ponto, ameaça de judicialização e código de “falta injustificada”.
Participam do movimento os servidores que atuam em agências do instituto e aqueles que fazem análise de benefícios, ou seja, os servidores que avaliam e concedem aposentadorias, pensões e auxílios — muitos dos quais trabalham de maneira remota.
As reivindicações são relacionadas a um acordo de greve de 2022, até hoje não cumprido integralmente. Além do reajuste salarial, uma das pautas é a reestruturação de carreira. Nesse caso, a exigência de ensino superior para ingressar no cargo de técnico do seguro social e atribuições exclusivas para os servidores que compõem a Carreira do Seguro Social.
O encontro da última sexta-feira (4) serviu ainda para decidir sobre reforçar a mobilização em Brasília nesta semana, além de analisar a mobilização no Rio de Janeiro, considerada frágil pelos servidores. A próxima assembleia será realizada na sexta-feira (11/10) para avaliação do movimento e definição dos próximos passos da greve.
Paulo Américo, dirigente do Sindsprev-RJ, considera a greve fragilizada, apontando números que comprovam a sua análise. “Se formos analisar os números, não temos 10% dos servidores em greve. No Rio de Janeiro, existe uma greve pequena, pulverizada. Temos que entender que o governo Lula não é fraco. Este governo está mais fortalecido. Essa reforma administrativa já está na pauta, na mídia. Vai acabar sendo o centro das atenções. Estamos vendo uma direção nacional dividida. Apesar de tudo, há possibilidade de luta. O Rio de Janeiro pode fazer um último esforço de tentar essa semana colocar algumas pessoas no movimento. Estamos fragilizados por conta do governo fortalecido com o apoio do centro e da direita”, avaliou ele, que também chama a atenção para as mobilizações desta semana: “Na minha opinião, a semana é a última forma. Ou sai bem ou sai dessa greve de forma crítica. Tenho o maior respeito pelas pessoas que aderiram. Está na hora de dar um passo atrás. Ainda assim, devemos fazer alguma coisa. É preocupante enfrentar a reforma administrativa, grande parte comprada pelo centro de direita. Sabemos que ela vai passar, não como eles queriam, mas vai passar”, avaliou.
Para o servidor Camilo de Jesus, a greve é fraca, está com 80 dias respirando, pode ser decretada como uma falência de órgãos, mas toda semana continua de pé.
“A questão é como tem colegas do Rio de Janeiro e Niterói que desconhecem a greve. Tem colegas que estão ativos na greve. Eles vão cortar o ponto. Vai haver corte de salário. 2022 não foi corte total. O presidente do INSS falou que a nossa liminar sairia na terça-feira. Ele está dizendo que vai cortar o salário da gente. Ele está fazendo o jogo dele. Qual é a nossa obrigação? Fortalecer a caravana para Brasília. o presidente e o ministro não vão mais negociar. Temos que agora levar gente para Brasília, para onde o Lula estiver, para abrir margem de negociação”, sugeriu.
Rolando Medeiros, também dirigente do Sindsprev/RJ, ressaltou que os servidores do INSS têm um mandado de segurança que não fala da legalidade e abusividade da greve, pois é um direito do trabalhador. “O fato de estar em greve não dá direito de não trabalhar e receber o salário integralmente. A única forma de proteger o servidor seria o acordo. A informação que eu recebi é que o INSS está no azul na questão do serviço represado. A greve não abala o funcionamento das agências. A sinalização é que quem está em casa está colocando o serviço em dia. Temos a informação que aderiu, mas não temos a informação de quem correu. Eu não sei se a greve diminuiu. Eu desconfio que a greve diminuiu. Conclusão: se temos o sentido de solidariedade aos companheiros, podemos fazer esforço de ir adiante. Não vou me iludir: essa greve já deu. Não atinge o objetivo, não força o governo à negociação”, destacou.
O dirigente do Sindsprev-RJ comentou ainda que a possibilidade de falta injustificada pode gerar demissão. “Se cair em uma comissão covarde, será demitido. Hoje, com o número que nós temos é mais fraca para quem está na greve. Pelos boatos, quem está no governo está fortalecido. Vai cair para cima. Existe uma greve regionalizada. A greve nacional não é forte. Não quer dizer que não temos vontade de lutar. Espero por essa próxima semana”, destacou o dirigente.