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Imprensa não ouve críticos da reforma da Previdência – 11/10/2019

Em matéria intitulada ‘Reforma da Previdência passa por primeira sessão de debates em segundo turno’, publicada neste dia 10 de outubro no site do Senado Federal, senadores condenam a reforma da Previdência. As críticas foram feitas na primeira audiência sobre o tema, antecedendo ao segundo turno de votação, na Casa, mas nunca aparecem na mídia comercial.

O senador Paulo Paim (PT-RS), por exemplo, afirmou que ‘essa reforma não era necessária e que necessária era uma reforma de gestão, de fiscalização, de combate à sonegação que soma R$ 600 bilhões por ano. Por que não se faz nada para combater? Ou a apropriação indébita, de empregadores que recolhem dos trabalhadores e não repassam os recursos à Previdência e chega a R$ 30 bilhões por ano?’, questionou. Mas opiniões como esta não são vistas nos jornais, revistas, tevês, nem ouvidas nas rádios.

No site do Senado, a senadora Zenaide Maia (Pros-RN) avaliou que a reforma não vai gerar emprego, não vai tirar privilégios e ainda vai atingir em cheio às mulheres, que, mesmo com jornada dupla, muitas vezes tripla, e responsável pelo sustento de 3,5 milhões de lares no Brasil, precisarão trabalhar mais sete anos para conseguir se aposentar, aos 62 anos.

— O que estão dando de presente nesse Outubro Rosa são sete anos a mais para se aposentar, numa reforma que não tira privilégio e não gera emprego, porque quem gera emprego é a demanda — opinou. As opiniões rebatem as mentiras de Bolsonaro, de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, de deputados e senadores, jornalistas e economistas que são os únicos que aparecem na mídia, de que ‘o país vai quebrar sem a reforma’, que a Previdência é deficitária, que ‘consome a maior parte do orçamento da União” e de sua aprovação ‘vai gerar milhões e empregos”.

Apresentada por Bolsonaro ao Congresso Nacional, através da Proposta de Emenda Constitucional número 6 (PEC-6), foi aprovada na Câmara dos Deputados com farta compra de votos, através de liberação de emendas aos parlamentares, foi aprovada em primeiro turno também no Senado, no início de outubro, com a liberação de royalties do petróleo. A votação em segundo turno deve acontecer na segunda quinzena deste mês.

A imprensa fez e faz uma gigantesca campanha pela aprovação, embora sua obrigação seja de ser imparcial.

Mídia defende descaradamente a reforma

Pesquisa feita pela Intervozes ‘Vozes Silenciadas – Reforma da Previdência e Mídia’.comprovou o apoio da mídia à reforma. O estudo analisou as edições impressas dos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo publicadas no período de primeiro de janeiro a 30 de junho de 2019.

“Nestas, 64% dos(as) especialistas ouvidos posicionaram-se favoravelmente à reforma da Previdência; 8,5% foram parcialmente contrários (mesmo índice daqueles cujo posicionamento não foi possível identificar) e 19% manifestaram-se contrariamente à proposta.

Os que se apresentaram argumentos contrários focaram sobretudo na insatisfação com aspectos jurídicos específicos que poderiam ser identificados como inconstitucionais e na não inclusão dos militares no projeto”, frisa.

A pesquisa mostrou que além das matérias jornalísticas, os três maiores jornais impressos de circulação nacional utilizaram seus editoriais para defender a urgência e a importância da reforma da Previdência. Durante o primeiro semestre, 267 editoriais abordaram a pauta tanto como tema central como de forma periférica (mencionando-a como necessária ou trazendo a expectativa de sua aprovação).

Na Folha de S.Paulo, foram 71 editoriais; no Estado de S.Paulo, 135, e no jornal O Globo, 61. Importante mencionar que, ordinariamente, o jornal Folha de S.Paulo e O Globo publicam dois editoriais por dia, enquanto que O Estado de S.Paulo publica três editoriais por dia – havendo dias em que a reforma Previdência apareceu em mais de um editorial, o que explica o número significativamente maior se comparado ao dos outros jornais.

Cara de pau também na TV

Na cobertura televisiva, analisou-se quatro semanas de edições dos telejornais Jornal Nacional (Rede Globo), Jornal da Record (Rede Record) e SBT Brasil (SBT). A primeira semana de análise de cobertura foi aquela subsequente à data de apresentação da PEC 06/2019 no Congresso Nacional, a saber, entre os dias 20 a 27 de fevereiro. A segunda semana foi a subsequente à aprovação do Relatório pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, entre os dias 23 a 30 de abril. A terceira, foi a subsequente à data de aprovação do relatório sobre a reforma pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados, entre os dias 4 a 11 de julho. A quarta e última semana, a subsequente à aprovação da PEC 06/2019 pelo Plenário da Câmara dos Deputados em primeiro turno, entre os dias 12 a 19 de julho de 2019.

No caso dos telejornais, a presença de especialistas foi pequena. As respectivas edições focavam nas explicações dos pontos do projeto e davam grande espaço para as declarações de integrantes do Ministério da Fazenda responsáveis pelo texto apresentado pelo Executivo, com raríssimos contrapontos à posição oficial do governo. Dos (as) especialistas ouvidos nestes telejornais, 90% se manifestaram favoravelmente à reforma, enquanto 10% posicionaram-se contrariamente.

Mulheres silenciadas

A pesquisa também aponta a gigantesca disparidade de gênero. Nos jornais impressos, 88% dos especialistas ouvidos são do gênero masculino. Nos telejornais, a participação dos homens foi de 89%. A figura do/a “especialista” no jornalismo é aquela que, tendo estudado e conhecendo um tema específico, é escutada e apresentada pelo veículo de informação como desprovida de interesse imediato. De uso recorrente, e necessário, o/a “especialista” é quem aporta informações sobre determinado assunto a despeito do posicionamento /político-partidário que subjaz aos outros agentes envolvidos, como um ministro de Estado ou um deputado de oposição, por exemplo.

(O.C.)

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