É cada vez maior o abismo entre as pessoas que se informam apenas pelas redes sociais e as que preferem fazê-lo acessando diretamente os aplicativos ou sites das tradicionais organizações de mídia. Esta foi a principal conclusão do Relatório Digital News Report publicado ano passado pelo Instituto Reuters de Estudos de Jornalismo, baseado em Oxford (Inglaterra).
Elaborado a partir de entrevistas realizadas em 46 países, incluindo o Brasil, o estudo apontou que 30% dos entrevistados manifestaram preferência pelas redes e plataformas digitais como canais de acesso à informação, contra 22% que declararam preferir o acesso a notícias diretamente em canais de empresas jornalísticas. A situação é praticamente a inversa do cenário constatado em 2018, quando o relatório começou a ser elaborado. Naquela época, 32% dos leitores preferiam se informar diretamente pelos canais da imprensa tradicional, contra 22% dos que o faziam pelas plataformas e mídias sociais.
Segundo o Relatório de 2023, a virada aconteceu por causa dos jovens de 18 a 24 anos, que demonstram preferência pelo acesso a notícias via mídias sociais, incluindo conteúdos de entretenimento e com mistura de áudio, vídeo e texto. Entre este público mais jovem, há também uma maior atenção sobre os influenciadores digitais do que jornalistas, sobretudo em plataformas como TikTok, Instagram e Snapchat.
Outra constatação do Relatório do ano passado foi que um quarto (ou 25%) dos entrevistados disseram preferir se informar em sites e motores de buscas como o Google, o que também é superior aos 22% de entrevistados que declararam preferir os canais digitais de notícias oferecidos pelas organizações tradicionais de mídia e jornalismo.
Como panorama geral, a pesquisa do Reuters Institute de 2023 apontou a tendência de queda no consumo de notícias por meio das mídias e canais tradicionais (como TV e jornais/revistas impressos).
Uma importante constatação foi quanto ao interesse pelo gênero ‘notícia’. Segundo o Relatório, menos da metade (48%) dos 94 mil entrevistados em 46 países, incluindo o Brasil, disse estar muito ou extremamente interessado em notícias, uma queda acentuada em relação aos 63% de entrevistados que, em 2017, afirmaram o mesmo.
Em relação à confiabilidade das notícias, em todos os mercados, 56% dos entrevistados disseram se preocupar em identificar a diferença entre notícias verdadeiras e falsas na internet, um aumento de dois pontos percentuais em relação ao ano de 2022.
Em todos os 46 países onde a pesquisa da Reuters foi realizada, a maioria dos usuários online disse que ainda prefere ler as notícias em vez de assisti-las ou ouvi-las. Entretanto, o consumo de notícias em vídeo tem crescido constantemente em todos os mercados, sendo a maioria do conteúdo acessada pelo YouTube ou Facebook.
O ceticismo de parte do público em relação à seleção de notícias oferecida por mecanismos de busca e algoritmos de mídias sociais e plataformas digitais também é apontado no Relatório. Segundo a pesquisa, menos de um terço (30%) dos entrevistados diz que ler matérias selecionadas com base no consumo anterior é uma boa maneira de obter notícias. Apesar de baixo, o percentual ainda é superior aos 27% de entrevistados que preferem uma seleção de notícias e assuntos elaborada por jornalistas e organizações da mídia tradicional.
Um último ponto de destaque do Relatório é a chamada ‘fadiga de notícias’, ou seja, o percentual de consumidores que dizem evitar notícias. Segundo o Reuters, este grupo de pessoas compõe 36% da amostra total de entrevistados e se divide entre aqueles que evitam periodicamente todas as fontes de notícias e os que restringem sua busca de notícias em momentos específicos ou para determinados tópicos.
Por fim, a maioria dos entrevistados afirmou não estar procurando mais notícias, e sim notícias que lhes pareçam mais relevantes e os ajudem a entender os problemas que enfrentam.