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sábado, novembro 23, 2024
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Governo Bolsonaro prevê aumento da Selic. Medida não fará cair a inflação, devendo agravar a crise econômica

A desvalorização do real frente ao dólar, associada ao reajuste dos combustíveis acompanhando os preços do mercado internacional, ambos parte da política econômica do governo Bolsonaro, são algumas das causas da disparada da inflação. Na avaliação do economista Adhemar Mineiro, ex-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a subida de preços tende a se manter porque está atrelada a estes fatores e à dolarização de vários preços da economia, como os dos produtos exportados pelo Brasil e a recente alta da energia elétrica. O aumento da taxa básica de juros, a Selic, a ser decretada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, não vai resolver o problema, que não é causado pelo excesso de demanda, acabando por gerar mais estagnação econômica, desemprego, queda na renda e fechamento de empresas.

A inflação acumulada no ano foi de 3,22%, e a dos últimos 12 meses, de 8,06%, acima dos 6,76% registrada nos 12 meses imediatamente anteriores.

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O maior impacto individual do mês veio da alta da energia elétrica (5,37%), que sozinha respondeu por 0,23 ponto percentual do IPCA. Mas outros aumentos também pesaram no bolso da população em maio, tendo a ver com a desvalorização do real: gás de botijão (1,24%), gás encanado (4,58%), gasolina (2,87%), etanol (12,92%) e óleo diesel (4,61%). No ano, a gasolina acumula alta de 24,70% e, em 12 meses, de 45,80%. Tevê, som e informática (2,16%), grande parte, importados com preços mais altos também pela desvalorização.

Imprensa Sindsprev/RJ – Como se explica a disparada da inflação, com impactos negativos sobre toda a economia, mas sobretudo sobre os mais pobres se a economia está estagnada?

Adhemar Mineiro – Este aumento de preços reflete os efeitos inflacionários da desvalorização do real frente ao dólar e também da dolarização dos preços. Basta ver que estão subindo mais aqueles vinculados ao dólar. Entre estes, os das comodities que o Brasil exporta e que estão cotados no mercado internacional, como as carnes – de boi, frango, porco – os derivados de soja, como o óleo, açúcar e álcool, e assim por diante. Esse conjunto de comodities está com os preços disparando. O segundo conjunto é o de produtos que têm um número alto de componentes importados cujos preços sobem e isto reflete na inflação aqui no Brasil. O terceiro elemento de pressão inflacionária é o de produtos que têm como referência o índice Geral de Preços (IGP) da Fundação Getúlio Vargas, que reflete a variação do dólar. Hoje, uma série de contratos estão vinculados ao IGP. Desde o Plano Real se fala em desindexação, mas, como se vê, há vários preços indexados ao IGP como aluguéis, residenciais e comerciais, contratos de concessões, como os de energia e pedágios, corrigidos pelo IGP exatamente para aumentar o interesse de investidores internacionais. E, finalmente, a inflação sobe pressionada pela decisão do governo Temer, mantida pelo governo Bolsonaro, de fazer o preço do petróleo e derivados acompanhar os valores do mercado internacional. Estes preços vão subindo e arrastando outros para cima também.

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É um efeito em cascata que impacta toda a economia.

Sindsprev/RJ – Já se pode falar em estagflação, que seria alta da inflação mesmo em uma economia estagnada, ou seja, uma alta de preços que não é consequência do aumento do consumo, mas sim, como você disse, da alta do dólar estimulada pela política econômica do governo?

Adhemar – Estamos numa economia estagnada com inflação. É uma taxa que está fora da política de metas. E a situação deve se agravar ainda mais. Mantendo o programa de metas de inflação, o Banco Central acabará elevando a taxa de juros que é um ‘remédio’ para uma inflação gerada pela demanda (alta do consumo). Mas não há uma inflação de demanda, pelo contrário, a demanda está lá embaixo por conta da crise gerada pela política econômica contracionista do governo, com alto desemprego, falta de renda das pessoas agravada pela pandemia. Neste contexto o governo aplica um remédio previsto no programa de metas, mas que não vai baixar a inflação, cuja disparada nada tem a ver com excesso de demanda, mas com este impacto de custos do dólar aqui dentro.

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Sindsprev/RJ – Mas, o BC vai aumentar a Selic, a taxa básica de juros, mesmo sabendo que isto não vai baixar a inflação?

Adhemar – Sim, vai. Com certeza.

Sindsprev/RJ – Mas esta medida não só não vai resolver o problema da alta de preços, como irá provocar o aumento da estagnação da economia, com impactos extremamente negativos sobre empresas, produção, consumo e alta ainda maior do desemprego.

Adhemar – Sem dúvida. O aumento da Selic vai puxar ainda mais o freio de mão da economia.

Sindsprev/RJ – O remédio pode matar o paciente, então?

Adhemar – Dentro do programa de metas de inflação, o BC está condicionado a aumentar a taxa de juros sempre que há um processo inflacionário em curso. Isso vai reduzir ainda mais a atividade econômica e a demanda. Mas a inflação vai continuar subindo, porque a alta dos preços tem a ver com o dólar.

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