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domingo, novembro 24, 2024
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Rede D’Or São Luiz: uma vida em péssimas companhias na construção de um império monopolista na saúde

No ano de 2010, com a sociedade de André Esteves, do Banco Pactual, a Rede D’Or, que cresceu rapidamente no Rio de Janeiro, adquiriu dois hospitais em São Paulo. Sob o patrocínio do banqueiro, não faltariam recursos para a expansão do império D’Or no Brasil. Segundo jornais publicaram na época, o investimento do Banco Pactual na Rede chegou à cifra de R$ 600 milhões.

Jorge Moll, cardiologista especializado em exames, começou a construir seu reinado em 1977, com a abertura de seu primeiro laboratório, que, com o empurrão dos amigos ricos, hoje conta com mais de 50 unidades, entre hospitais e laboratórios.

Jorge Moll chegou a ter sua fortuna avaliada em R$ 40 bilhões, construída a partir do empreendedorismo de observar que as deficiências crônicas do SUS, como filas, burocracias e falta de investimento, abriam o mercado para a assistência privada à saúde.

Jorge Moll, sempre bem acompanhado por amigos de carteira cheia, teve, como um dos primeiros sócios, outro velho conhecido da ralé corrupta de Sérgio Cabral: ninguém mais ninguém menos que Jacob Barata, que recebeu o Hotel Copa D’Or como pagamento de uma dívida do antigo dono, Gaspar Dorey. Jorge Moll, após o articulador da propina da Fetranspor, Jacob Barata,  perder seu filho, convence-o a transformar o antigo hotel em hospital.

Jacob Barata e Moll tornaram-se sócios, dando início ao império da Rede D’Or em 1995, quando Moll foi convidado a se tornar cotista de um hospital que estava em construção na Barra da Tijuca e que viria a se tornar, em 1998, no Barra D’Or. Moll, de convite a acionista, acabou comprando as partes dos médicos envolvidos na empreitada, com a grana emprestada de Jacob Barata, que saiu da sociedade em 2007.

O banco Pactual chegou a deter 25% da Rede D’Or São Luiz. Porém, em 25 de novembro de 2015, o presidente do banco, André Esteves, foi preso, acusado de conspirar para obstruir a investigação da Lava Jato. Sua prisão foi em conjunto com a do então senador Delcidio Amaral, que tentou subornar Nestor Cérvero para que não aceitasse a delação premiada sobre a trágica compra da refinaria de Pasadena. André Esteves, o banqueiro dos amigos, seria supostamente o financiador da mesada de 50 mil de Cérvero, prometida pelo senador Delcídio.

Com o advento da lei nº 13.097/15, que abria o setor de saúde à exploração do capital estrangeiro, no dia 2 de dezembro de 2015, com necessidade de fazer caixa e seu presidente Esteves preso no Bangu 8, o Banco Pactual vende suas ações para o Fundo Soberano de Cingapura, por R$ 2.38 bilhões, que passaria a deter 16% da rede.

Em 28 de setembro de 2012, o então Secretário Estadual de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, assina o contrato de gestão nº 033/2012, passando para a Rede D’Or, através de uma Organização Social da rede, o Hospital da Criança de Cirurgia e Oncologia. Hospital cuja qualidade dos serviços aos pequenos é “marejar os olhos de marmanjos”, segundo o site da Rede D’Or. No entanto, o convênio, de 2012 a 2016, repassou mais de R$ 300 milhões à Rede D’Or, segundo os jornais brasileiros publicaram já em 2014, informando também que Sérgio Cortes começava a fazer parte dos quadros da Rede D’Or.

Ao sair da Secretaria de Saude do Estado, Sérgio Côrtes vira Diretor Médico da Rede D’Or, representando justamente o Fundo Soberano de Cingapura, que detém 16% das cotas da Rede D’Or de São Luiz.

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Em abril de 2017, Sergio Cortes foi preso na operação da Policia Federal Fatura Exposta, e a Rede D’Or, implacável como sempre em afastar qualquer suspeição sobre sua empresa, tratou rapidamente de demiti-lo e afirmar em nota que “não era sócio da empresa, mas somente representante do Fundo Soberano da Cingapura”. Durante as operações foram apreendidos papéis que sinalizaram repasse da Rede D’Or na ordem de 300 mil a um dos operadores do esquema Cabral, fato este refutado pela empresa.

Em sua jovem e poderosa história, a Rede D’Or teve como sócios e diretores pessoas bem conhecidas no cenário das investigações da Policia Federal:  André Esteves, Jacob Barata, Sérgio Côrtes, pessoas que investiram pesado para que a Rede D’Or se tornasse o gigante no mercado de prestação de serviço de saúde.

Tamanho poder em um serviço tão essencial fez o Ministério Público Federal (MPF) propor, há 8 anos, restrições à aquisição de novas unidades de saúde pela Rede D’Or no Distrito Federal.

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Em parecer enviado ao Cade, o MPF ja apontava concentração que poderia suscitar em monopólio na saúde, com a Rede D’Or administrando 50% dos leitos da Cidade. Na época o Conselho Regional de Medicina já denunciava, por meio de representação, que se levasse em conta o investidor por trás da Rede D’Or-Banco Pactual, que chegaria a um monopólio de 90% dos leitos do Distrito Federal. Em 2001, a Rede D’Or já detinha 10% dos leitos do Rio de Janeiro. De lá pra cá, só cresceu e o Cade parece não ter incomodado a empresa em nada.

Na história da relação entre o público e o privado na saúde, sempre somos surpreendidos pelo conflito do interesse do enriquecimento ilícito e das vantagens pessoais.

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A experiência da terceirização da gestão pública se transformou em uma academia de crimes, onde falta o básico ao usuário e sobram privilégios aos gestores e políticos envolvidos na empreitada.

Na ruptura dos convênios, não raro unidades públicas de saúde fecham as portas, abandonando trabalhadores e usuários à própria sorte.

O que deseja a poderosa Rede D´Or com os 500 leitos de alta complexidade da Rede Federal? Aumentar seu domínio na saúde do Estado? Receber mais 300 milhões? Quais são os reais interesses de um conglomerado que traz em sua história gente tão pesada nas páginas criminais do Rio de Janeiro?

A Rede Federal não precisa de Estadualização ou de gestão da Rede D’Or! Não precisamos (principalmente) da ingerência do senhor Flávio Bolsonaro.

A Rede Federal precisa de concurso público; precisa que sejam recontratados os demitidos do último certame; precisa de gestões oriundas de sua carreira, eleitas pelos servidores; precisa de autonomia administrativa e do controle das instituicões de fiscalização dos recursos públicos.

Fora isto são as velhas invencionices de quem quer lucrar com a coisa pública.

Chris Gerardo – dirigente regional do Sindsprev/RJ

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