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quinta-feira, maio 9, 2024
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Fim do uso obrigatório de máscara ao ar livre aumenta risco de contaminação

Apesar do avanço da vacinação e do recuo do número de contaminações e mortes, médicos têm alertado sobre o risco que representam decisões de governadores e prefeitos de relaxamento das medidas de prevenção ainda com a pandemia do novo coronavírus fora de controle. No último dia 26, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), aprovou projeto de lei de autoria do deputado André Cecliano (PT-RJ) acabando com a obrigatoriedade do uso de máscaras ao ar livre, sancionado pelo governador Cláudio Castro, no dia seguinte, sem vetos.

Para a flexibilização da máscara, as prefeituras deverão seguir os critérios de distanciamento social, ambiente aberto e fechado, percentual de vacinação da população, realização de eventos-teste, além de outros critérios. Para o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), o infectologista Renato Kfouri, ao retirar a máscara, mesmo em ambientes externos, as pessoas vão aumentar o risco de contaminação, por menor que seja. “Quem vai pagar a conta é quem está desprotegido. Tirar a máscara neste momento não traz benefício nenhum ao indivíduo ou à sociedade”, afirmou.

O infectologista Gerson Salvador lembra que países como a Inglaterra, que suspenderam o uso de máscaras ao ar livre, e os Estados Unidos, tiveram que voltar atrás diante do crescimento dos casos de contaminações e mortes. “A retirada da máscara pode ser pensada, mas em um momento posterior, quando estivermos em uma situação de maior controle. Ainda temos uma média elevada de casos e mortes, comparadas com outros países”, avaliou.

Mesmo os que admitem a possibilidade de não manter a obrigatoriedade do uso de máscaras ao ar livre, o fazem com restrições, como o infectologista Celso Ramos, presidente da sociedade medicina e cirurgia do Rio. “Os indicadores epidemiológicos, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, são favoráveis à decisão. Mas, para evitar o contágio, tem que ficar bem definido o que é ar livre. Se for caminhar no calçadão, pode ir sem máscara. Mas um grupo de pessoas ao ar livre, porém aglomeradas, um pagode no quintal, não é a mesma coisa”, exemplificou.

“Até porque, quando eu falo, grito, ou canto, elimino uma quantidade muito maior de partículas de saliva, de secreção. Se eu estiver infectado aumento a quantidade de vírus no ambiente.

Se estiver fazendo este tipo de atividade vou respirar mais fundo e, assim, aumentar a minha possibilidade de infecção”, explicou.

Eventos-teste

Celso fez questão de frisar que a máscara tem que ser usada dentro do transporte público, mas também em qualquer situação em que haja aglomeração, numa fila, mesmo ao ar livre, onde as pessoas vão estar mais próximas. E ressaltou que as regras de higiene de não botar a mão na boca para tossir, usar lenço descartável, lavar as mãos, inclusive com o uso de álcool para isto, vão permanecer.

O médico advertiu que se os indicadores piorarem, tem que voltar atrás imediatamente. E criticou colegas médicos que orientam as pessoas a passarem a levar a máscara no bolso, ou na bolsa, para colocar quando não estiverem ao ar livre.

“Não acredita que isto vá funcionar. Acho difícil. Até porque máscara usada no bolso não é uma boa ideia”.

O infectologista criticou outra medida que faz parte da flexibilização que é a realização dos chamados eventos-teste.

“Há coisas nesta decisão que me incomodam: uma são os chamados eventos-teste. Não sei o que eles querem testar. Fazer um jogo de futebol para ver o que vai acontecer com a pandemia daqui a duas semanas… pode não acontecer nada e ter tido transmissão dentro deste grupo. Se é para verificar se as normas sanitárias estão sendo cumpridas, basta pegar fotos de torcidas durante um jogo que você vai ver que, no caso específico, as normas não estão sendo cumpridas, está todo mundo junto, está todo mundo sem máscara, comemorando”, observou.

Na Europa não deu certo

Já o médico Júlio Noronha, presidente do Corpo Clínico do Hospital Federal de Bonsucesso, criticou a decisão. Lembrou que estamos frente a uma doença infeciosa, gravíssima, sobre a qual a ciência não tem conhecimento pleno sobre como é a evolução do vírus. Acrescentou que dos 27 países da Zona do Euro, 20 estão, novamente, com aumento do número de casos de contaminações, internações e mortes, após relaxarem medidas de prevenção, como o uso de máscaras. “Com este vírus, pouco conhecido, não se pode relaxar”, afirmou.

Criticou que decisões com estas de baixar a guarda para o vírus sejam politizadas. “Não se pode politizar como uma doença grave, mortal. Qualquer interferência, como flexibilizar o uso de máscara nas ruas vai abrir brechas para que as pessoas não usem também nos outros ambientes como no ônibus, no metrô”.

Lembrou que mesmo os vacinados podem contrair a doença e morrer. “E não é porque a vacina não funcione, não, todas são muito boas. O grande problema é que a ciência não sabe como a doença se comporta, ainda. Então qualquer medida destas, de cunho político, não é aconselhada”.

Paes liberou geral

Como parte da política do ‘já passou a pandemia’, no dia 14, a prefeitura deixou de exigir para os chamados eventos-teste a realização de exames de quem já completou o esquema vacinal contra a covid. Antes, a pessoa devia comprovar estar em dia com a vacinação e ainda apresentar um teste negativo para o coronavírus realizado nas últimas 48 horas. Na segunda-feira passada (18), Paes liberou 100% de lotação em teatros, cinemas, centros comerciais e eventos, mas manteve a proibição para boates.

O que passa a valer na capital: máscaras deixam de ser obrigatórias em áreas abertas; boates, casas de show e pista de dança podem funcionar com 50% da capacidade; estão liberadas competições esportivas em ginásios e estádios com 100% do público, com apresentação de passaporte de vacina ou teste PCR feito, no mínimo, 48 horas antes; quando 75% da população estiver com o esquema vacinal completo, as máscaras serão obrigatórias apenas no transporte público e em unidades de saúde.

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