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sexta-feira, maio 17, 2024
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‘Governo é cúmplice das ações de madeireiros, grileiros e especuladores de terras’, afirma ambientalista

Militante da causa ambiental há mais de três décadas, o jornalista Ricardo Portugal (foto) ressalta a urgência de a sociedade civil também reagir aos desmandos do governo Bolsonaro na área ambiental, dentro e fora do país. Em conversa com a reportagem do Sindsprev/RJ, ele comentou a recente denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), também conhecido como ‘ministro motosserra’. Ricardo Portugal também falou sobre a Reserva Biológica do Tinguá, uma das mais importantes unidades de conservação ambiental do Brasil.

Sindsprev/RJ – recentemente, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), que considera a gestão dele como ‘temerária’ e contrária à preservação do meio ambiente no Brasil. Como você interpreta esta decisão?

Ricardo Portugal – a medida foi um avanço, com certeza. Foi bom saber da decisão do Ministério Público de denunciar o Ricardo Salles por improbidade. A gestão dele é mesmo temerária e contrária à preservação do meio ambiente no Brasil, inclusive por ele já ter sido condenado quando era secretário de meio ambiente do Estado de São Paulo. Ricardo Salles é um sujeito a serviço do agronegócio e das empresas que poluem o meio ambiente. Ele precisa ser realmente punido para que a punição sirva de exemplo às outras autoridades que teimam em desrespeitar a lei e atacar os direitos coletivos da comunidade.

Sindsprev/RJ – o governo Bolsonaro tem se destacado, no cenário internacional, como um governo complacente com madeireiros, grileiros e grandes especuladores, além de inimigo dos povos indígenas e quilombolas. Um governo que dificulta as ações de fiscalização do IBAMA e minimiza os graves impactos que já estão sendo causados pelo aumento sem precedentes do desmatamento e da destruição de inúmeros biomas no país. O que fazer para deter as políticas destrutivas do atual governo?

Ricardo Portugal – temos que promover o impeachment do governo Bolsonaro. Um governo genocida do meio ambiente e da sociedade.

Já são quase 70 mil os brasileiros mortos pelo coronavírus, e tudo por conta da política irresponsável do atual governo, que não leva em conta a vida humana, só considera os lucros das empresas e a ótica do capital. No meio ambiente não é diferente. O governo é cúmplice das ações de madeireiros, grileiros, especuladores de terras e latifundiários que destroem inúmeros biomas. A prova disso foi a própria fala de Ricardo Sales na reunião ministerial de 22 de abril deste ano, quando ele propôs a desestruturação legislativa e administrativa do ministério do meio ambiente enquanto as atenções estão voltadas à pandemia do coronavírus. Foi quando ele disse que era importante ‘passar a boiada’. Aquela fala dele foi desmascarada perante a sociedade. Foi uma fala criminosa que merece total repúdio da opinião pública e dos trabalhadores. Estão destruindo o IBAMA e o ICMBio, que é o Instituto Chico Mendes. Essas instituições deveriam ser responsáveis pela fiscalização das reservas indígenas e unidades de conservação do país, mas o governo não quer que isto aconteça.

Sindsprev/RJ –  no Estado do Rio, existem importantes biomas a serem preservados, como a reserva biológica do Tinguá, patrimônio natural da humanidade, a Floresta da Tijuca, as lagoas de Jacarepaguá e de Maricá, entre outras. Como evitar que essas importantes reservas sejam destruídas por madeireiros, grileiros e especuladores? Existem ameaças imediatas a esses biomas?

Ricardo Portugal – para que essas e várias outras áreas — como o Parque Nacional da Serra dos Órgãos e a Reserva Biológica de Poço das Antas — sejam preservadas e salvas da destruição, é preciso reforçar a fiscalização. O governo tem que contratar mais fiscais, via concurso público, e destinar mais recursos financeiros à política ambiental do país, por meio do Ministério do Meio Ambiente. O Ministério tem que se voltar à preservação dos biomas, e não à sua destruição.

Isto é necessário para que os biomas de Mata Atlântica, do Cerrado, da Amazônia e do Pantanal não sejam destruídos. Há também preocupação no exterior, sobretudo quanto à Amazônia. Importante que, aqui no Estado do Rio, a Reserva Biológica do Tinguá é considerada pela UNESCO, um órgão das Nações Unidas, como patrimônio natural da humanidade em razão de sua rica biodiversidade de flora e fauna e de seu fabuloso potencial hídrico, que abastece 400 mil pessoas.

Sindsprev/RJ – Há quanto tempo você milita na área ambiental? Como você começou a atuar nessa área?

Ricardo Portugal – comecei na década de 80, no Grupo de Defesa da Natureza, em Nova Iguaçu. Na época iniciamos um movimento pela preservação do Tinguá porque então havia florestas sem qualquer proteção legal e ainda não existia uma unidade de conservação. Me lembro que discutimos se o modelo a ser adotado deveria ser o de reserva biológica ou parque nacional. Aí concluímos que o melhor seria criar uma reserva biológica, que foi constituída em 1989, a partir de uma ampla mobilização que teve o apoio de universidades como UFRJ, UFRRJ, UniRio e UERJ, além de entidades da sociedade civil. Foi a época do movimento pró-Reserva Biológica do Tinguá. Em 1992, a Reserva do Tinguá teve reconhecida a sua importância, ao ser declarada pela UNESCO como patrimônio natural da humanidade. Além da luta pelo Tinguá, participo de mobilizações pela preservação do Parque Estadual da Serra de Madureira e dos rios da Baixada Fluminense. A biodiversidade do Brasil é única no mundo e tem de ser preservada.

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