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sexta-feira, maio 10, 2024
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“Governo Bolsonaro não se comove diante das mortes provocadas pela covid”, afirma Júlio Noronha

Médico do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) e diretor do Corpo Clínico da unidade, Júlio Noronha (foto) conversou com a reportagem do Sindsprev/RJ sobre a evolução da pandemia de covid no Brasil, que esta semana superou a triste marca de 270 mil mortos, colocando o país em segundo lugar no número de óbitos provocados pela doença.

Sindsprev/RJ – Em junho do ano passado, o Sr. alertou para a possibilidade de o Brasil chegar a 500 mil mortes por covid, se os governos flexibilizassem as medidas de distanciamento. Com os recentes e tristes recordes diários de mortos no país, o Brasil não estaria caminhando para o cenário apocalíptico que o Sr. mencionou?

Júlio Noronha – só não chegamos aos 500 mil mortos em 2020 porque foram adotadas algumas medidas restritivas importantes que, infelizmente, começaram a ser flexibilizadas a partir de agosto. Mas agora, considerando o agravamento da situação em todo o país, não descarto a possibilidade de chegarmos aos 500 mil mortos de covid até junho próximo. Em Santa Catarina, por exemplo, há 340 pessoas na fila por uma vaga em CTI, mas o governador daquele estado decretou que podem continuar abertos os shoppings e as academias de ginástica. A isto somam-se a confusão e o caos provocados pelo governo federal, que tem um ministro da saúde que não é médico e não entende do assunto. É incompreensível e inaceitável que, num momento em que predomina a variante P1 da covid, mais contaminante, ainda haja governantes que flexibilizem as medidas de prevenção à covid. Já existem alguns indícios de que a variante P1 está atingindo jovens e crianças, o que era raridade na primeira onda da covid. Quando faço essa triste previsão do aumento no número de mortos, também levo em consideração o ritmo lento e a escassez de vacinação. Ao contrário de outros países, que começaram a planejar suas vacinações já em agosto do ano passado, o Brasil não se antecipou. Lembro que, quanto mais o vírus se multiplicar, maior será a possibilidade do surgimento de novas e mais agressivas variantes. Não é à toa que vários países, inclusive da América Latina, vetaram a entrada de brasileiros. Eles sabem que o Brasil transformou-se numa experiência viral a céu aberto.

Sindsprev/RJ – Em plena curva ascendente da pandemia, o Ministério da Saúde demitiu recentemente mais 1.419 profissionais contratados que atuavam na rede federal do Rio, o que levou à interdição de centenas de leitos. Como o Sr. vê esta situação?

Júlio Noronha – a demissão desses profissionais em pleno ascenso da covid no país não surpreende. Basta nos lembrarmos das políticas adotadas pela atual gestão do Ministério da Saúde, que nunca fez nada de palpável para combater a disseminação da doença, como estimular o uso de máscara e a prática das medidas de distanciamento social. A verdade é que o governo Bolsonaro não se comove diante das mortes provocadas pela covid. Não se sensibiliza com o sofrimento e a dor de milhares de famílias. Um governo que, para piorar, não tem a mínima ideia do que seja a rede federal de saúde. Um exemplo é o que aconteceu no Hospital de Bonsucesso após o incêndio de 2020 na unidade, quando o Ministério da Saúde transferiu servidores de áreas-chave para outras unidades. Em vez disso, o Ministério poderia ter aberto leitos no próprio Hospital de Bonsucesso para o atendimento das patologias de maior complexidade, enquanto prosseguem as obras no prédio 1, onde ocorreu o incêndio. Sobre essas obras, sugiro ao Sindsprev/RJ que envie ofício ao Crea-RJ, pedindo uma vistoria. Na minha avaliação, o prédio 1 poderá ser entregue à população em até 120 dias, de forma segura.

Sindsprev/RJ – qual o déficit de médicos do Hospital de Bonsucesso e em que especialidades a falta de médicos é mais visível?

Júlio Noronha – na situação atual de Hospital de Bonsucesso, funcionando precariamente no prédio 2, temos só 400 cirúrgicos, sendo um deles exclusivo para a maternidade, que continua funcionando. Temos operado mais em baixa complexidade, quando poderíamos fazer muito mais em média e alta complexidades. Mas para isto deveríamos ter uma retaguarda de médicos de CTI. É um grande problema a falta de intensivistas em Bonsucesso. Cerca de 16 médicos que atuavam no CTI e mais seis do pós-operatório foram transferidos para o Hospital Federal do Andaraí. Se eles retornassem, seria bom para Bonsucesso, que também está com insuficiência de pessoal na enfermagem. Uma parte dessa enfermagem foi para o INTO e outra, para o Andaraí.

 

 

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