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sábado, maio 11, 2024
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Evento da Consciência Negra do Sindsprev/RJ protesta contra a chacina do Salgueiro

A necessidade de ampliar a luta contra o racismo estrutural no Brasil e o genocídio da população negra, sobretudo dos jovens, e protestos contra a chacina de moradores da comunidade do Salgueiro, no último sábado e domingo, marcaram os debates do “Mês da Consciência Negra, Zumbi ontem e hoje” sobre o tema “Discriminação Racial e Intolerância Religiosa no Brasil. O evento, organizado pelas secretarias de Gênero, Raça e Etnia e de Organização do Sindsprev/RJ reuniu importantes lideranças do movimento negro, e prestou homenagem a estas lideranças e demais pessoas que se destacaram pelo engajamento e luta pela superação do racismo e pela dignidade da população negra.

Os participantes do evento lembraram dos avanços conquistados pela luta do movimento negro, como as cotas; a tipificação do racismo e da injúria racial como crimes; e os atos do Dia da Consciência Negra, em homenagem a Zumbi dos Palmares, que aconteceram em todo o país, e a transformação da data em feriado nacional, numa prova do avanço do debate sobre o racismo. Mas destacaram a inegável continuidade da discriminação da população negra, das chacinas imposta pela polícia, principalmente nas favelas – onde vive a grande é maioria do povo negro – e a farsa da abolição da escravatura.

Osvaldo Mendes, da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia falou sobre a importância deste momento, em que o movimento negro mostra a sua força, mas, ao mesmo tempo, a necessidade de ampliar a sua luta. Ivone Supo, diretora da Secretaria de Organização, ressaltou que os negros são discriminados e sofrem violência diária. “A intolerância religiosa também faz parte do racismo. A escolha de todos têm que ser respeitada”, afirmou.

Crescimento da luta

O primeiro palestrante, Ivanir dos Santos, Babalawô e pós-doutor em História pela UFRJ, fez um histórico do crescimento do movimento negro brasileiro que fez a sua primeira marcha unificada em 1983 num protesto contra uma blitz policial na estrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Na ação, a Polícia Militar prendeu jovens negros, todos homens, e os amarrou pelo pescoço, numa cena que mostrava como o racismo e as sombras da escravidão estavam e ainda estão presentes no país. A cena foi registrada pelo fotojornalista Luiz Morier e correu o mundo.

“O movimento cresceu e, em 1988 fazíamos, no Rio de Janeiro, a Marcha Contra os 100 anos da Farsa da Abolição da Escravatura. Éramos poucos na Central do Brasil, reafirmando que Zumbi dos Palmares era um herói negro a ser lembrado como referência da resistência contra a opressão do racismo, mas também para lutar contra o desemprego, a violência e a discriminação no mercado de trabalho contra negros e negras”, lembrou.

“Hoje vemos um Dia Nacional da Consciência Negra sendo realizado, lembrando de Zumbi dos Palmares como símbolo da resistência negra e mantendo as raízes da luta, realizando o ato do Rio em Madureira, na periferia. E a data ser transformada em feriado Nacional”, disse. O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, como feriado nacional, foi aprovado pelo Senado Federal no último dia 23. O projeto ainda precisa ser votado na Câmara dos Deputados. Ivanir ressaltou, entretanto, que ainda há muito o que fazer para derrotar o racismo.

“Para isto devemos fortalecer esta luta nas comunidades, mas também, elegendo representantes que defendam nossas pautas no legislativo, nas eleições do próximo ano”, defendeu.

Chacina

A professora e dirigente da Unegro, Cláudia Vitalino, frisou que a instituição do Dia de Zumbi como feriado nacional foi fruto da luta do povo negro. “Foram 50 anos de luta em que tentaram desacreditar este herói preto. Mas, agora, este governo racista quer mudar o nome da Fundação Palmares, uma homenagem a Zumbi, para Fundação Princesa Isabel. Os ataques vão continuar. É preciso resistir”, previu. O mesmo recado a professora deu em relação às cotas nas escolas e universidades.

Citou as seguidas chacinas nas favelas, entre as quais a do Salgueiro, como mais uma evidente demonstração do racismo que caça e mata o povo preto.

“Somos 56,8% da população, mas discriminados, violentados, por uma minoria de brancos que estão no poder e são 10% da sociedade. Portanto, enquanto perdurar o racismo não teremos democracia, sendo o combate a esta forma de opressão uma luta também dos brancos. As pessoas não podem ser julgadas pela cor da pele”, disse.

Por uma triste coincidência a chacina começou no dia 20, Dia da Consciência Negra, um sábado e prosseguiu no domingo. Na segunda-feira, 10 corpos foram encontrados por moradores do Salgueiro jogados num mangue após uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar. Parentes das vítimas disseram que há sinais de tortura em alguns dos corpos e alegam que havia marcas de facadas e tiros.

Segundo moradores, as pessoas foram jogadas uma por cima da outra. A Defensoria Pública e o Ministério Público investigam o caso. O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos pediu para que seja feita uma investigação, em um processo independente, sobre a chacina.

Sisreg e genocídio

Cláudia citou a discriminação existente no mercado de trabalho, com os negros e negras recebendo salários menores que brancos e brancas. Ressaltou que o Brasil teve o processo escravocrata mais longo do mundo.

“Essa abolição foi mal concluída, pois ficamos sem trabalho e sem teto, sendo expulsos das senzalas para favelas. Continuamos na base da pirâmide social, ainda recebendo menos salários do que homens e mulheres negros. E as mulheres negras ainda recebendo menos”, disse.

A deputada Enfermeira Rejane (PCdoB-RJ) falou da luta dos negros também no Parlamento e citou a conquista do piso salarial para a enfermagem, majoritariamente de mulheres e negras, como um avanço importante. Condenou o racismo e o genocídio da juventude negra nas comunidades.

Lenir Claudino, diretora da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia e do Movimento Negro Unificado (MNU), defendeu que o debate sobre o racismo seja ampliado, levado para as escolas, favelas, e para os sindicatos. “Agora mesmo foram 10 mortos negros (na chacina do Salgueiro), mas já foram 20, quase todos os dias são assassinados idosos, jovens e crianças negras. Não acredito na mudança desta realidade dentro de salas e gabinetes, temos que ir para as ruas, para as categorias, para as comunidades”, defendeu.

Advertiu que o genocídio do povo negro também acontece na saúde pública. Citou o Sistema da Regulação (Sisreg) uma fila virtual de atendimento de pacientes. A demora é muito grande, em muitos casos fatal. “O Sisreg foi criado para matar o povo preto que depende da saúde pública”, denunciou.

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