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sexta-feira, maio 10, 2024
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Estímulo à invasão de hospitais e disparos contra STF são parte da escalada de Bolsonaro para destruir a democracia

As seguidas ações de cunho autoritário de Jair Bolsonaro, de seu governo e dos grupos que lhe dão apoio, estas, muitas das vezes violentas, são parte de sua ação política, cujo objetivo é praticar e alimentar o confronto, visando acabar com a democracia. “Quem não tem projeto, como ele, está sendo usado por interesses que visam corroer, até destruir, a democracia. E é preciso que ela seja preservada contra uma escalada autoritária que, a essa altura, já beira o totalitarismo, portanto, o próprio fascismo, razão pela qual atitudes como estas serão alimentadas, estimuladas por ele, através de suas milícias”, alerta Lincoln de Abreu Penna (foto), professor aposentado de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon).

Nesta entrevista ao Sindsprev/RJ, o historiador cita, entre os mais recentes e graves episódios desta escalada, a convocação do presidente da República a seus seguidores através das redes sociais, na quinta-feira (11/6), para que invadissem hospitais com pacientes de covid-19 internados; e, no sábado (13/6), os disparos de fogos de artifício contra a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), feitos pela milícia bolsonarista “300 pelo Brasil”. Lincoln Penna avalia que o governo Bolsonaro lança mão de métodos e práticas autoritárias, típicos do fascismo clássico.

Em relação às manifestações populares antifascistas e antirracistas no Brasil, disse que atestam a vitalidade da consciência democrática, principalmente pela participação de jovens, o que é revelador do grau de indignação diante da truculência dos Poderes e da insatisfação pelos rumos de uma economia que provoca o desemprego e incrementa cada vez mais a violência através dos aparelhos repressivos do Estado.

Lincoln está para lançar o livro “O cabo, o capitão e o capital”. Editado pela Letra Capital, a publicação faz um retrospecto da vida política de Adolf Hitler e Jair Bolsonaro.
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Sindsprev/RJ – Como o senhor avalia a atitude do presidente Jair Bolsonaro, na última quinta-feira (11/6), de incitar grupos ligados a ele a invadir hospitais para filmar leitos com pacientes internados com a covid-19 e os disparos de fogos de artifício contra a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de sábado (13/6)?

Lincoln de Abreu Penna – Estes fatos me parecem mais uma das características da ação política de Bolsonaro. Ele age sempre no confronto, alimenta o confronto, pratica o confronto. Este é o objetivo fundamental da sua ação política. Quem não tem projeto, como ele, está sendo usado por interesses que visam corroer, até destruir a democracia que temos, que pode não ser a democracia que nos atenda plenamente, mas é a única que temos. E é preciso que ela seja preservada contra uma escalada autoritária que, a essa altura, já beira o totalitarismo, portanto, o próprio fascismo, razão pela qual, atitudes como estas serão alimentadas, estimuladas por ele, através de suas milícias. Hoje em dia podemos nos referir a elas no plural, ‘milícias’: não só as que agem nos bairros do Rio de Janeiro, principalmente, mas a milícia que age politicamente, procurando intimidar as forças progressistas, antifascistas e contrárias, em última análise, ao seu governo, e os Poderes da República, como aconteceu no sábado, quando um grupo ligado a Bolsonaro disparou fogos de artifício contra a sede do STF. Vão acontecer inúmeros atos de vandalismo, provocação e intimidação. É preciso entender que são parte integrante da política sistemática de ações de confronto com os Poderes da República e como parte da lógica dos objetivos do governo Bolsonaro.

Sindsprev/RJ – Bolsonaro vem se notabilizando, ainda, por atitudes contra a democracia, cometendo crime contra a saúde pública ao boicotar o isolamento social, manipulando dados relativos à pandemia, ameaçando com o rompimento institucional e, por tudo isso, enfrentando protestos de rua antifascistas crescentes. Por tudo isto vem ficando a cada dia mais isolado, dentro e fora do Brasil, prejudicando o país também do ponto de vista econômico. É suspeito de envolvimento com a milícia, vem sendo investigado pelo STF por ter se beneficiado na eleição de um esquema de notícias falsas e, mais recentemente, por interferência na Polícia Federal. O que falta para ser afastado do cargo?

Lincoln – Para o impeachment, não bastam todos estes fatores. É preciso que haja apoio considerável da população e do Congresso Nacional para a abertura do processo de afastamento do presidente. Apesar de não contar com o apoio da maioria da população, ele tem mantido seu eleitorado, assim como a oposição é ainda insuficiente para a aprovação de um impeachment. Mas o panorama tem mudado muito rápido. Ninguém imaginava, por exemplo, que Sérgio Moro fosse bater de frente (com Bolsonaro) em menos de um ano de governo.

Sindsprev/RJ – Ao mesmo tempo, Bolsonaro não esconde de ninguém sua simpatia pela ditadura e suas práticas, como a tortura. Sistematicamente participa de atos pelo fechamento do Congresso Nacional e do STF e por uma nova intervenção militar. O senhor avalia que o presidente teria apoio para impor um autogolpe?

Lincoln – Não acredito, o que não quer dizer que Bolsonaro não flerte com esta possibilidade. Ele tem saudade dos tempos da ditadura, gostaria de ser um daqueles ditadores. Mas daí a ter apoio das Forças Armadas, creio que as condições para um golpe clássico, típico dos anos 1960, 1970, não estão dadas no momento. O empresariado hoje, por exemplo, tem muito mais vinculações com o circuito capitalista mundial e não embarcaria nessa aventura. Afinal, eles contam com o Guedes à frente da política econômica do governo, e os militares também pouco teriam vontade política, ou determinação, ou unidade para embarcarem numa aventura desta natureza.
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Sindsprev/RJ – Qual a importância dos protestos nacionais contra o racismo, o fascismo e em defesa da democracia e pelo afastamento de Bolsonaro da Presidência?

Lincoln – São manifestações que atestam a vitalidade da consciência democrática, principalmente pela participação de jovens, o que é revelador do grau de indignação diante da truculência dos Poderes e da insatisfação pelos rumos de uma economia que provoca o desemprego e incrementa cada vez mais a violência através dos aparelhos repressivos do Estado.

Sindsprev/RJ – Acadêmicos e integrantes de entidades da sociedade civil apontam traços fascistas no governo Bolsonaro (como a defesa da ‘eliminação’ dos comunistas e de toda a esquerda, os ataques sistemáticos a negros, indígenas, mulheres e gays, à imprensa, a defesa da tortura e dos torturadores, o uso da propaganda mentirosa como arma para se manter no poder, o estímulo à criação de milícias e grupos coercitivos dentro e fora das polícias) e a alusão a práticas nazistas por parte de membros do seu governo. Como o senhor avalia esta análise?

Lincoln – A política de militarização do governo Bolsonaro é evidente. Eu distingo os regimes fascistas dos fenômenos fascistas, que lançam mão de métodos e práticas autoritárias, típicos do fascismo clássico. A obsessão pela massificação de armas, supostamente para a defesa do cidadão, é, na verdade, uma ação visando a criação de uma milícia a serviço do seu governo, de modo que esse paralelo com os regimes nazifascistas, sem dúvida cria uma enorme expectativa e certo temor porque a democracia pode vir a ser afetada caso este projeto venha a se concretizar, o que eu, no entanto, não acredito.

Sindsprev/RJ – Semana passada, o presidente do STF, ministro Dias Tofolli, criticou posições que classificou como ‘dúbias’ de Bolsonaro que geram instabilidade para o país, e, ao mesmo tempo, defendeu o que chamou de ‘trégua’ entre os Poderes. Como o senhor avalia estas declarações?

Lincoln – A classificação de dúbio, em relação ao comportamento de Bolsonaro, já cria uma dificuldade para se acordar uma trégua. Não me pareceu um pronunciamento contundente de maneira a fortalecer as instituições políticas da República. O regime republicano se caracteriza pela transparência dos atos públicos. A dubiedade é exatamente a não-transparência.

Sindsprev/RJ – Os seguidos cortes de direitos impostos aos trabalhadores pelo governo federal, aprovados pelo Congresso Nacional, justificariam o apoio de setores do empresariado, sobretudo dos bancos, ao governo federal. Mas o que explicaria o apoio à administração Bolsonaro de uma parte da parcela mais pobre da população?

Lincoln – A parcela mais pobre da população tem ficado refém de medidas paliativas e não estruturais para a resolução de seus problemas. Diante da pandemia essa dependência cresceu ainda mais e o governo já está de olho nas próximas eleições, o que garante esta política populista que, além dos mais, enfraquece a organização popular e estabelece uma relação direta com o presidente.

Sindsprev/RJO senhor poderia detalhar mais esta avaliação?

Lincoln – Algo que explicaria o apoio parcial dos mais pobres, seria a condição de miserabilidade que o neoliberalismo tem provocado nestas últimas décadas, sobretudo a partir da crise de 2008 que, a rigor, não foi superada, e que aprofundou ainda mais o grau de dependência, a ponto destas pessoas – em geral sequer vinculadas em algum momento ao sistema formal de trabalho, muitas delas não tiveram em momento algum carteira de trabalho assinada, vivendo de biscates, de atividades de baixa ocupação, em termos de recursos – serem facilmente reféns de qualquer política assistencialista, mesmo sendo a mais perversa que possa existir, como agora.

Sindsprev/RJO senhor acredita que esta situação persista…

Lincoln – Há uma segunda observação que eu tomo emprestada do filósofo Antônio Gramsci, que criticou as esquerdas, se referindo à militância comunista na Itália, em relação a setores da população que desprezavam um maior contato e participação nos grandes eventos políticos que eram articulados pelas organizações de esquerda. Ele chamava a atenção de que estes partidos e movimentos, inclusive o movimento sindical, sempre caracterizaram estas pessoas como alienadas politicamente, não entendendo que elas possuem uma visão de mundo, ainda que fundamentalmente baseada no senso comum e na extrema dependência do discurso autoritário e de autoridade, tanto do Estado, dos governantes, quanto das suas vinculações com o poder eclesiástico, seja católico, seja confessional, ou de qualquer outra natureza, sendo, por tudo isso, vítimas da ação ideológica que forma e reforça justamente o chamado senso comum. Estas pessoas estão distantes dos grandes temas, não sabem o que seja direita, esquerda, centro-direita, centro-esquerda, ideologia. Elas acreditam no poder religioso e no poder temporal, e ficam sempre à mercê destes discursos. Gramsci entendia que estas pessoas deviam ser trazidas para a luta social e não abandonadas por não compreenderam estas lutas.
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