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sábado, maio 4, 2024
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Coronavírus: médico infectologista diz que é preciso ‘tornar a epidemia mais lenta’

Diretor da divisão médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ, na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, o infectologista Alberto Chebabo (foto) conversou esta semana com a reportagem do Jornal do Sindsprev/RJ. Para o Dr. Chebabo, é imprescindível que a população siga as orientações visando à prevenção da covid-19 (coronavírus), o que significa a manutenção da atual quarentena. Ele também alerta para o fato de pessoas mais jovens estarem sujeitas ao adoecimento pela covid-19, mesmo havendo os chamados grupos de risco compostos por pacientes idosos, hipertensos e portadores de outras comorbidades.

Sindsprev/RJ – Dr. Chebabo, ao nível do senso comum, muitas pessoas acham que a covid-19 afeta apenas idosos e, em razão disto, propõem ‘relaxar’ a quarentena decretada por governos e autoridades de saúde. O que o Sr. tem a dizer a respeito?

Alberto Chebabo – apesar de o risco de morte por Covid-19 entre aqueles abaixo de 50 anos, especialmente os mais jovens, de até 30 anos, ser extremamente raro, isso não quer dizer que eles estão livres de apresentar os sintomas mais graves da doença, ainda que, de fato, a probabilidade disso acontecer nessa faixa etária seja pequena. Uma das razões para a baixa mortalidade entre os mais jovens é que seu sistema imunológico é mais forte, o que os ajuda a combater o vírus e a recuperarem-se da doença. Nos idosos, o sistema imunológico já envelheceu e não produz o mesmo nível de resposta. Por isso eles têm mais risco de desenvolver os sintomas mais graves. Na Itália, por exemplo, quando começaram a registrar casos, já havia pessoas morrendo. Foi uma falha na vigilância. Isso quer dizer que a epidemia avançou silenciosamente. Foi como uma onda invisível que só foi percebida quando bateu na praia. Quando medidas de isolamento foram tomadas, já havia muitos infectados. Você começa a ver o impacto das medidas de isolamento mais ou menos 15 dias depois de elas serem implementadas. É preciso tornar a duração da epidemia mais lenta para não sobrecarregar o sistema de saúde. Se você implementa medidas tarde, quando há muitas pessoas doentes ao mesmo tempo, o resultado que as medidas vão dar será menor. Quanto mais precocemente elas são adotadas, mais lento é o aumento (e menor a sobrecarga ao sistema de saúde). A taxa de mortalidade do vírus em pessoas acima de 80 anos é estimada em 14,8%, em comparação com 0,4% para pessoas entre 40 e 49 anos, de acordo com o estudo de casos e mortes até 13 de março. Idosos e pessoas com doenças pré-existentes, como diabetes, pressão alta ou problemas cardíacos ou respiratórios, estão mais propensos a morrer se contraírem coronavírus.

Sindsprev/RJ – Quais os cuidados básicos de higienização que as pessoas devem praticar e reforçar como forma de prevenção?

Alberto Chebabo – manter as mãos limpas e não levá-las ao rosto é o melhor a se fazer, além de outros procedimentos, como cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar; utilizar lenço descartável para higiene nasal; evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca; não compartilhar objetos de uso pessoal; limpar regularmente o ambiente e mantê-lo ventilado; lavar as mãos por pelo menos 20 segundos com água e sabão ou usar antisséptico de mãos à base de álcool. Outro ponto importante é que deslocamentos não devem ser realizados enquanto a pessoa estiver doente.

Sindsprev/RJ – nas comunidades carentes da região metropolitana do Rio de Janeiro, onde é comum a falta de saneamento e de acesso a água tratada, o que fazer para evitar uma disseminação ainda mais rápida da covid-19?

Alberto Chebabo – o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, prometeu destinar R$ 1 bilhão para iniciativas como os agentes comunitários e o Saúde da Família, a fim de evitar a disseminação de vírus em comunidades pobres. Com isso, o governo mira a atenção básica em saúde, considerada a porta de entrada do SUS, para evitar que as transmissões se alastrem, especialmente em comunidades mais pobres, e para que os hospitais não entrem em colapso devido à pandemia do novo coronavírus.

Sindsprev/RJ – como o Hospital Clementino Fraga Filho está atuando na luta contra o coronavírus e de que forma a instituição disponibiliza seus serviços de atendimento e orientação?

Alberto Chebabo – o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) vai atender casos encaminhados pela Secretaria de Estado de Saúde, além de casos suspeitos de pacientes que são referenciados — possuem prontuário ativo — em nossa Unidade. O Hospital do Fundão, como é conhecido, não possui Emergência aberta. Ou seja, só atende pacientes que possuem prontuário aqui. Os pacientes suspeitos são encaminhados para a Emergência, onde há 12 leitos separados para esta demanda. Não há contato de pacientes suspeitos com pacientes não suspeitos. A coleta dos exames é feita no Hospital, porém quem disponibiliza os testes é o Laboratório de Virologia Molecular (LaVimoan). A Unidade dispõe de 16 leitos de CTI para atender aos casos graves de Covid-19. Há mais 50 leitos de CTI sendo preparados, nos próximos 15 dias, para atender a esta demanda.

 

 

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