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terça-feira, maio 14, 2024
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Atos golpistas mostram desespero de Bolsonaro, aprofundam crise e seu isolamento

Os atos golpistas convocados por Jair Bolsonaro para este Dia da Independência, 7 de setembro, aumentaram o isolamento do presidente e do seu governo, mas não se deve subestimar a força que ainda têm. A avaliação foi feita por analistas políticos, integrantes de partidos de esquerda e de centrais sindicais ouvidos pelo Sindsprev/RJ. Destacaram que os atos ficaram aquém do esperado, levando em conta terem se concentrado em três cidades – Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro – e o montante de recursos públicos e privados, bem como da máquina pública envolvidos na sua convocação, por dois meses, organização e execução.

Apontam estes atos como a bala de prata de Bolsonaro para reduzir o seu isolamento crescente devido à crise econômica, política e social, às investigações sobre o seu envolvimento em esquemas de corrupção, e inquéritos que investigam a participação do presidente, de sua família e aliados em organizações criminosas produtoras de notícias falsas em ataques à democracia. Mas o tiro parece ter saído pela culatra, com o pronunciamento, inclusive de aliados, de crítica às falas do presidente classificadas como antidemocráticas.

O cientista político Lincoln Penna, observa que o discurso bravateiro de Bolsonaro, baseado em pautas antidemocráticas, se concentrou em ataques ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. E não foi à toa. “Esse ataque ao juiz do Supremo demonstra a preocupação de Bolsonaro. Afinal, sua família tem sido alvo de acompanhamento a propósito de suas atitudes contrárias à democracia, tornando-se dessa maneira passível de sentenças condenatórias”, constatou.

Acrescentou não haver dúvida de que Bolsonaro se encontra acuado; tal como uma fera ferida, tentou e tentará com mais obsessão reverter essa situação. “E fera ferida, como se sabe, é sempre um perigo, pois se torna mais perigosa e de reações imprevisíveis”, alertou. Mas acrescentou: “Da mesma forma, a essa altura dos acontecimentos, os poderes da República devem estar operando medidas para conter os impulsos golpistas, cujo primeiro passo é, através do constrangimento, inibir iniciativas que venham a tolher as intenções de violar ainda mais os termos da Carta Magna que jurou defender”.

Bolsonaro acelerou a crise

Para Lincoln, os atos e as falas de Bolsonaro mostram desespero com seu isolamento crescente, inclusive entre os grandes grupos econômicos que derrubaram a ex-presidente Dilma Roussef, tornaram Lula inelegível e apoiaram Bolsonaro, aumentando a possibilidade de seu impeachment. “E faz isto, sabedor, a essa altura, que os representantes das velhas e novas classes dominantes estão procurando os meios adequados para removê-lo da Presidência da República, porquanto seu papel já foi cumprido, que era o de impedir a permanência do governo petista. O desespero tomou conta de sua postura altaneira”, afirmou.

Gualberto Tinoco, dirigente da central sindical Conlutas, avaliou que os atos promovidos pelo bolsonarismo chocaram os mais conservadores da ‘casa grande’. “Por todo o dia setores do empresariado, banqueiros e latifundiários reclamavam dos delírios autoritários do capitão reformado”, afirmou.

Para o jornalista e analista político Henrique Acker, o 7 de setembro foi marcado por manifestações expressivas da base bolsonarista formada pela extrema-direita e por parcela de denominações neopetencostais. Avaliou terem sido organizadas porque começaram a perder as ruas para as manifestações de maio, junho e julho, organizadas por setores da esquerda, centrais sindicais, sindicatos, movimentos populares, de descontentamento com os rumos do país e contra o governo; também devido aos rumos da Comissão Parlamentar de Inquérito que começou a chegar nos filhos de Bolsonaro, envolvidos com a Precisa em compras superfaturadas de vacinas.

“Além disto, Bolsonaro atravessa uma circunstância ainda mais complicada, com uma crise política mais geral. Bolsonaro tem hoje uma rejeição de mais de 60%. Há todo um clima que levou a extrema-direita a se mobilizar. Para os bolsonaristas, os atos foram uma resposta firme. O problema é o dia seguinte que está sendo complicado”, analisou Henrique.

“Reúne-se milhares de pessoas nas ruas, mas, no discurso, Bolsonaro ataca dois ministros do Supremo, um que é também presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que é o Luis Roberto Barroso, e outro que é o Alexandre de Moraes, a pedra no sapato do bolsonarismo. Criou um constrangimento político seríssimo, chamando o presidente do STF, o ministro Luiz Fux, a intervir, a segurar os demais ministros, como se aquilo fosse um quartel. Isso é desastroso e cria uma crise institucional de monta que eu não sei se o Centrão, mesmo com cargos, ministérios, verba, emendas, tem condições de segurar”, questionou, lembrando que Bolsonaro é como um ‘cachorro louco’: faz acordo e desfaz no dia seguinte.

“Ao incitar a sua base social contra o processo eleitoral – cujas regras foram mantidas pelo Congresso Nacional – contra o TSE e contra o STF criou uma situação sem precedentes. Bolsonaro é um estorvo para o país, é a crise ambulante. Se por um lado as manifestações foram uma demonstração de força, por outro, foram uma pisada no acelerador da crise”, disse.

Impeachment

Sobre a abertura de um processo de impeachment, Henrique Acker entende que há uma necessidade, mas não sabe se há possibilidade de ser posta em prática. E acrescentou: “Este não é um governo para atender a demandas da sociedade, mas para criar crises. Parece contraditório, mas o governo vive de crises, porque a extrema-direita não tem solução para os problemas existentes. Ela se propõe a gerar crises para oferecer o autoritarismo como saída. É assim que ela se comporta em todos os países do mundo e no Brasil não é diferente”, frisou.

Cyro Garcia, ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e dirigente do PSTU, também compartilha da opinião de que as manifestações comprovam o desgaste e o isolamento em que se encontra o presidente de República. Avaliou que não foram mobilizações que permitissem uma mudança na correlação de forças, apesar de fortalecer parcela do eleitorado mais identificado com Bolsonaro e suas pautas, mais facilmente manipulado pelos empresários ligados a ele e que financiaram as manifestações.

PEC 32

Lembrou que vários setores do empresariado, inclusive do agronegócio, bancos, a indústria, que apoiavam o governo, já o abandonaram. “A grande questão é que eles ainda não apoiam o impeachment. Na minha visão, mesmo com as falas golpistas, não me parece que tenha mudado o humor, principalmente da classe dominante, dos empresários, que querem distância de Bolsonaro, mas preferem derrotá-lo nas urnas, em 2022”, argumentou.

Disse que estão numa sinuca de bico entre Lula e a construção de uma terceira via e ainda apostam que, apesar de todas as dificuldades, o governo ainda tem o que chamou de ‘caixinha de maldades’ para abrir. “Principalmente as reformas de Paulo Guedes, sobretudo a reforma administrativa (PEC 32), privatizações de estatais e outros ataques aos direitos dos trabalhadores. No meu entender não há espaço para o impeachment também porque setores da esquerda também estão comprometidos com as eleições de 2022, inclusive tendo boicotado o Grito dos Excluídos, alegando ser necessário evitar o confronto com os atos bolsonaristas”, disse.

Para Ivan Pinheiro, dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Bolsonaro vai continuar tentando impor um golpe de Estado, mas não vai conseguir. “Apesar dele ter jogado todas as fichas nos atos deste 7 de setembro, pariu um mico. Os atos foram muito abaixo das expectativas deles, e era um feriado, tinha muito dinheiro envolvido na preparação das manifestações organizadas há mais de um mês, com a participação de muita máquina pública e do setor privado e igrejas evangélicas”, disse. Na avaliação de Pinheiro, Bolsonaro e o bolsonarismo bateram no teto.

“Ele perde, a partir de agora, na quantidade e na qualidade dos apoios. Nesta dinâmica, as mobilizações bolsonaristas caem e as da oposição crescem.

Os atos foram concentrados em Brasília, São Paulo e no Rio de Janeiro. Vimos lugares onde manifestações foram suspensas para que a boiada pudesse ser transportada para os locais onde estavam previstas as concentrações mais importantes”, frisou.

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