Reunidos em assembleia na manhã desta segunda-feira (27/1), os servidores do Hospital Federal Cardoso Fontes (HCF) reafirmaram a continuidade da greve na unidade e repudiaram a tentativa do Ministério da Saúde e da organização social SPDM de forçar a exoneração de Maria Fernanda Rocha de Souza da Guia, coordenadora de enfermagem eleita pelo voto direto dos trabalhadores e trabalhadoras do hospital.
Realizada no Jardim de Inverno do Cardoso Fontes, a assembleia decidiu ainda apresentar denúncia, junto à comissão de ética do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ), contra Ana Carla Albuquerque, representante da SPDM. Na última quinta-feira (23/1), Ana Carla percorreu setores do hospital para, junto com a gestora Paula Mesquita, do Cardoso Fontes, apresentar-se como a nova chefe de enfermagem da unidade. Na avaliação da assembleia, foi uma atitude considerada inaceitável, desrespeitosa e antiética, na medida em que Maria Fernanda continua no cargo e não havia sido previamente procurada por Ana Carla antes da referida “visita”, o que só ocorreu posteriormente, quando as duas se reuniram em clima tenso. Além de Ana Carla Albuquerque, a servidora Maria Fernanda foi pressionada pelo diretor-geral do Cardoso Fontes, Rodrigo de Almeida, que teria lhe solicitado pedir exoneração da coordenação de enfermagem “antes que o DGH [Departamento de Gestão Hospitalar] o fizesse”, segundo denúncias de servidores.
Outras deliberações da assembleia foram: desautorizar Maria Fernanda a proceder à própria exoneração — como forma de protegê-la de pressões pela entrega de seu cargo — e que os servidores em funções de chefia no Cardoso Fontes entreguem seus cargos, na hipótese de Maria Fernanda vir a ser exonerada da coordenação de enfermagem pelo Ministério da Saúde. Mais duas importantes deliberações foram decretar assembleia permanente e consultar a Advocacia-Geral da União (AGU) sobre a legalidade de servidores efetivos estarem subordinados a entidades privadas como a organização social SPDM.

“Cardoso Fontes é um hospital que tem história de luta”
“O Cardoso Fontes é um hospital que tem história de luta, e parte dessa história foi a conquista da eleição direta das chefias de enfermagem pelo voto dos trabalhadores em processos eleitorais com estatuto, construção de candidaturas e o reconhecimento formal do próprio Ministério da Saúde. Mas agora o mesmo ministério quer desrespeitar essa conquista. O que a representante da SPDM fez foi uma afronta ao código de ética da enfermagem, algo inaceitável”, afirmou Cristiane Gerardo, dirigente do Sindsprev/RJ.
Em sua fala durante a assembleia, Maria Fernanda manifestou indignação. “O que me pegou de surpresa foi a forma desrespeitosa. Afinal, a gestora da SPDM foi apresentada a vários setores do Cardoso Fontes, e eu esperava que ela viesse primeiro a mim, que sou a coordenadora de enfermagem eleita pelo voto dos servidores e servidoras desta casa”, frisou.
“Por que Maria Fernanda está sendo induzida a pedir exoneração? Por que houve a chegada dessa nova gerente de forma truculenta? Para mim, isto é retaliação, é para nos afrontar porque sabem que Maria Fernanda foi eleita pela nossa categoria e porque Maria Fernanda bancou a greve no hospital. Uma greve justa e legal”, pontuou Maria Isabel Alvadia Mariano, servidora do Cardoso Fontes que integra a nova direção colegiada do Sindsprev/RJ.
Pelo direito dos servidores de pedirem remoção
Sobre o ponto relativo ao direito dos servidores do Cardoso Fontes de pedirem remoção para outras unidades, a presidente da Comissão de Ética do hospital, Elaine Viana, fez algumas ponderações. “Precisamos questionar por que o Ministério da Saúde vem negando ou não se manifestando sobre pedidos de remoção feitos pelos servidores. O fato é que, em todo esse processo, quem optar por permanecer no Cardoso Fontes terá que ter a sua lotação respeitada”, disse ela.
O tema das remoções será um dos tópicos tratados na reunião que acontecerá no próximo dia 3 de fevereiro, em Brasília, entre representantes do Sindsprev/RJ e a titular da Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe) do Ministério da Saúde, Etel Matielo. Em Brasília, o Sindsprev/RJ também se reunião com a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), relatora do Projeto de Lei (PL) 3.102, que insere os trabalhadores dos hospitais federais na carreira de Ciência e Tecnologia (C&T). Já aprovado na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, o PL está no momento em tramitação na Comissão de Serviço Público, onde será analisado em 5 sessões.
“A coletividade é que faz as coisas acontecerem. Se continuarmos unidos, a Maria Fernanda vai continuar como responsável técnica da enfermagem, como é a vontade de todos nós”, destacou Neusa Beringui, da nova direção do Sindsprev/RJ.
Durante a assembleia também foram apresentados os servidores e servidoras do Cardoso Fontes eleitos para a nova diretoria colegiada e conselho fiscal do Sindsprev/RJ.
