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sábado, novembro 23, 2024
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Política econômica do governo leva à recessão da economia

Em consequência da política econômica do governo Bolsonaro, a economia brasileira tende a se contrair cada vez mais, a curto e médio prazos, trazendo queda da produção e da oferta de emprego. Mesmo que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tome medidas de incentivo ao consumo, que sempre criticou, os efeitos, se houver, só serão sentidos daqui a dois anos. A avaliação foi feita pelo economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socio-Econômicos (Dieese), Adhemar Mineiro, em palestra no sábado (20/7), pela manhã, no segundo dia da 21º Conferência Interestadual dos Trabalhadores do Ramo Financeiro do Rio e Espírito Santo. O encontro teve início na sexta-feira (19/7), no auditório do Sindicato dos Bancários do Município do Rio.

 

“O quadro da economia brasileira a curto e médio prazo é muito ruim do ponto de vista da produção e do emprego, realidade que vai se perpetuar nos próximos anos”, frisou. Paulo Guedes abandonou o tripé econômico que vinha desde 1998 – câmbio flutuante, taxa de juros condicionada às metas de inflação e política fiscal para a geração de superávit primário –, ao adotar uma política de contração econômica que gerou redução drástica da receita com impostos e o consequente déficit primário. “Como isto está sendo feito no interesse do sistema financeiro, de olho no que é público, não houve críticas”, constatou.

Recessão tende a se agravar

Segundo Adhemar Mineiro, a conjuntura econômica internacional de baixo crescimento e instabilidade gerada por diversos fatores – inclusive pela disputa pela hegemonia mundial entre China e Estados Unidos, por exemplo – também não ajuda o Brasil a sair da recessão provocada pelas seguidas medidas tomadas internamente pelo governo federal. Até porque a administração Bolsonaro tem se aproximado cada vez mais dos EUA e feito críticas à China, gerando queda no investimento chinês no Brasil, um dos únicos países que continuavam abrindo negócios aqui.

“A recessão no Brasil foi de 0,2%, comparados o primeiro trimestre deste ano com o anterior. Mesmo as previsões de crescimento para este ano feitas pelo mercado vêm sendo revistas cada vez mais para baixo, tendo caído de 2,5%, no início de 2019, para 1%, hoje”, constatou. Citou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), que mostram a estagnação da renda e do emprego no país. “A política econômica contracionista tem gerado mais desemprego, que está entre 12% e 13%”, explicou.

Comércio exterior não ajuda

Com a recessão, mesmo o sistema financeiro, com lucros enormes dos bancos, teve crescimento discreto: 0,3%. “O comércio exterior também não servirá para dar algum fôlego à economia brasileira, já que deverá cair 3% nos próximos meses. Para piorar, a Argentina, um dos nossos principais parceiros comerciais, está numa situação política e econômica complicada, o que não nos ajuda em nada, e o acordo a ser assinado entre o Mercosul e a União Europeia não nos é favorável: garante à UE a abertura do nosso mercado de serviços e industrial e abre o mercado agrícola deles. O que vai agravar ainda mais a situação por aqui. Nossa indústria não tem como competir com os produtos deles. E é sabido que o agronegócio brasileiro gera pouco emprego, devido à alta mecanização. O impacto, para nós, será muito negativo”, previu.

Liberação do FGTS: tiro no pé

A utilização de mecanismos de incentivo ao consumo, inicialmente criticada e rejeitada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, já começou a acontecer, devido ao agravamento da crise econômica. Um destes mecanismos, a autorização do saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) pelo trabalhador empregado, pode ter efeito contrário ao esperado, caso os recursos sejam usados para quitar dívidas, e não no consumo.

“O que acontecerá será o desmonte do principal mecanismo de financiamento da compra da casa própria e de obras de saneamento, com impacto na construção civil, setor importante e que mais empregos gera no país. Se for usado para quitar dívidas, o saque do FGTS não vai gerar qualquer efeito sobre o crescimento econômico e ainda vai gerar mais dificuldades no setor da construção civil”, argumentou o economista.

Ajuste fiscal aumenta recessão

Adhemar explicou que a radicalização das medidas de ajuste fiscal do governo, entre elas o corte de 50% no investimento público, faz crescer ainda mais a recessão. “Sem investimento público, com um quadro complicado no mercado internacional, o empresário nacional não vai investir na produção. E o empresário estrangeiro também não virá para cá”, constatou.

Instabilidade internacional

Segundo o economista, vários são os motivos geradores de instabilidade na economia mundial com impacto sobre o Brasil e demais países. Entre estes, citou a disputa comercial e pela hegemonia entre China e EUA; a disputa militar entre EUA e Rússia; a reorganização de áreas de influência na América Latina, Ásia e África; o esvaziamento de organismos multilaterais de regulação entre os países, como a ONU, OCDE e FMI, por conta de políticas adotadas pela China e Estados Unidos, entre elas, acordos e outras formas de ações bilaterais.

Geram também mais instabilidade mundial as novas tecnologias, entre elas o comércio pela internet e suas consequências imprevisíveis. Adhemar Mineiro lembrou que neste sistema o produto não é mais o que você compra, mas a venda das informações sobre os consumidores. É a Economia 4.0. Além dela, competindo com a robótica, que substituiu seres humanos no trabalho, vem a impressão 3D, a “internet das coisas”. “Com estas tecnologias vai se criar um sistema cujas consequências para a economia são difíceis de mensurar, ajudando a criar ainda mais instabilidade”, concluiu.

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