A revista Carta Capital publicou, nesta quinta-fera (12/9) matéria intitulada “Mídia silencia vozes contrárias à reforma da Previdência de Bolsonaro”. O texto é baseado na pesquisa feita pela Intervozes “Vozes Silenciadas – Reforma da Previdência e Mídia”. Entre as principais perguntas que nortearam o levantamento estão: “Qual foi a posição editorial dos veículos de mídia neste debate? Quais foram os (as) especialistas ouvidos (as)? Como estes (as) especialistas se posicionaram em relação à proposta apresentada pelo Governo Federal?”.
Na matéria, a revista explica que o estudo analisou as edições impressas dos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo publicadas no período de primeiro de janeiro a 30 de junho de 2019. “Nestas, 64% dos(as) especialistas ouvidos posicionaram-se favoravelmente à reforma da Previdência; 8,5% foram parcialmente contrários (mesmo índice daqueles cujo posicionamento não foi possível identificar) e 19% manifestaram-se contrariamente à proposta. Os que se apresentaram argumentos contrários focaram sobretudo na insatisfação com aspectos jurídicos específicos que poderiam ser identificados como inconstitucionais e na não inclusão dos militares no projeto”, frisa.
Na matéria, a Carta Capital lembra que a reforma da Previdência é a principal pauta econômica do governo Jair Bolsonaro (PSL-RJ) no primeiro semestre de 2019, ganhando ampla cobertura pela imprensa tradicional. A proposta deu os primeiros passos de tramitação no Senado Federal na segunda-feira 9, em sessão temática, após ter sido aprovada por ampla maioria na Câmara dos Deputados.
Mídia foi parcial
A Carta Capital informa que a pesquisa mostrou que além das matérias jornalísticas, os três maiores jornais impressos de circulação nacional utilizaram seus editoriais para defender a urgência e a importância da reforma da Previdência. Durante o primeiro semestre, 267 editoriais abordaram a pauta tanto como tema central como de forma periférica (mencionando-a como necessária ou trazendo a expectativa de sua aprovação). Na Folha de S.Paulo, foram 71 editoriais; no Estado de S.Paulo, 135, e no jornal O Globo, 61. Importante mencionar que, ordinariamente, o jornal Folha de S.Paulo e O Globo publicam dois editoriais por dia, enquanto que O Estado de S.Paulo publica três editoriais por dia – havendo dias em que a reforma Previdência apareceu em mais de um editorial, o que explica o número significativamente maior se comparado ao dos outros jornais.
Na cobertura televisiva, analisou-se quatro semanas de edições dos telejornais Jornal Nacional (Rede Globo), Jornal da Record (Rede Record) e SBT Brasil (SBT). A primeira semana de análise de cobertura foi aquela subsequente à data de apresentação da PEC 06/2019 no Congresso Nacional, a saber, entre os dias 20 a 27 de fevereiro. A segunda semana foi a subsequente à aprovação do Relatório pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, entre os dias 23 a 30 de abril. A terceira, foi a subsequente à data de aprovação do relatório sobre a reforma pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados, entre os dias 4 a 11 de julho. A quarta e última semana, a subsequente à aprovação da PEC 06/2019 pelo Plenário da Câmara dos Deputados em primeiro turno, entre os dias 12 a 19 de julho de 2019.
No caso dos telejornais, a presença de especialistas foi pequena. As respectivas edições focavam nas explicações dos pontos do projeto e davam grande espaço para as declarações de integrantes do Ministério da Fazenda responsáveis pelo texto apresentado pelo Executivo, com raríssimos contrapontos à posição oficial do governo. Dos (as) especialistas ouvidos nestes telejornais, 90% se manifestaram favoravelmente à reforma, enquanto 10% posicionaram-se contrariamente.
Mulheres silenciadas
A pesquisa também aponta a gigantesca disparidade de gênero. Nos jornais impressos, 88% dos especialistas ouvidos são do gênero masculino. Nos telejornais, a participação dos homens foi de 89%. A figura do/a “especialista” no jornalismo é aquela que, tendo estudado e conhecendo um tema específico, é escutada e apresentada pelo veículo de informação como desprovida de interesse imediato. De uso recorrente, e necessário, o/a “especialista” é quem aporta informações sobre determinado assunto a despeito do posicionamento /político-partidário que subjaz aos outros agentes envolvidos, como um ministro de Estado ou um deputado de oposição, por exemplo.