Servidores da rede federal do Rio e do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) fizeram, na manhã desta quinta-feira (24/10), um ato unificado contra a fusão do HUGG com o Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Realizado em frente ao prédio do Gaffrée e Guinle, na Tijuca, o ato denunciou a intenção do Ministério da Saúde e da reitoria da Universidade Federal do Estado do Rio (UniRio) de criarem um hospital universitário, após a fusão do Gaffrée e Guinle com o HFSE. Unidade cuja gestão ficaria a cargo da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
“O Ministério da Saúde já entregou à UniRio um Termo de Acordo de Cooperação Técnica com a intenção de montar um Grupo de Estudos para apresentar uma proposta a ser avaliada em 6 meses. No entanto, a verdade é que já querem implementar o processo de fusão dos dois hospitais. Quero lembrar que, aqui no Gaffrée e Guinle, a gestão da Ebserh tem sido marcada por falta de insumos e de medicamentos nos ambulatórios e centros cirúrgicos. São problemas denunciados diariamente, relatando situações em que cirurgias foram suspensas na última hora por falta desses insumos. Acho que os R$ 8 bilhões de reais colocados à disposição da Ebserh para investimentos poderiam ser usados com mais eficácia se fossem aplicados pela administração direta”, afirmou Rodrigo Ribeiro, coordenador da Associação de Servidores da UniRIo (AsuniRio).
“Nós não queremos a Ebserh”, afirma servidora
Servidora do HFSE, Cristina Venetilho manifestou sua oposição às propostas do atual governo. “Nós não queremos Ebserh, nós não queremos o Grupo Hospitalar Conceição e nenhuma outra forma que implique a entrega das unidades federais de saúde. Nós queremos sim é o servidor concursado que entra na carreira e se dedica, recebe e ampara os pacientes. Um governo que se diz de esquerda, como o atual, tem que investir num serviço público de qualidade, e não fazer coisas que não interessam à população. Reafirmamos o nosso compromisso com a saúde pública de qualidade e seremos incansáveis nesta luta”, frisou.
Também servidora do HFSE, a enfermeira Clélia de Carvalho Pereira reforçou as críticas. “Hoje atendemos grande parte da população do Estado do RJ em dezenas de especialidades. Somos referência, mas uma referência que está ameaçada por toda esta manobra política do Ministério da Saúde. Nós somos profissionais de saúde com consciência do que é o SUS, mas hoje infelizmente vemos o governo promover a precarização e a comercialização da saúde oferecida à população brasileira”, completou.
“Ontem [23/10] houve uma reunião da prefeitura com o Ministério da Saúde, na qual o prefeito Eduardo Paes não teria manifestado muita vontade de assumir as gestões dos hospitais Cardoso Fontes, do Andaraí e de Ipanema. Isto porque, com a plena abertura das emergências dessas unidades, haverá mais cobranças da população e a consequente responsabilização da prefeitura por eventuais problemas. Outro ponto é que, no momento, não há condições estruturais de incorporar esta demanda pela Prefeitura. Por isto que agora o foco do governo está no fatiamento do HFSE. E por isto que não podemos permitir a fusão do HFSE com o Gaffrée e Guinle e a extinção desse importante hospital”, afirmou Cristiane Gerardo, dirigente do Sindsprev/RJ.
Servidores criticam audiência sobre fusão do HUGG com HFSE
Imediatamente após o ato unificado, os servidores dirigiram-se ao auditório do HUGG, onde a reitoria da UniRio promoveu uma audiência pública para apresentação das linhas gerais do Acordo de Cooperação Técnica com o Ministério da Saúde e a Ebserh, visando preparar a fusão do Gaffrée e Guinle com o HFSE. A fala inicial do evento foi proferida pelo reitor da UniRio, José da Costa, que defendeu a necessidade de um cronograma de debate do assunto sobre as bases do acordo proposto, embora as supostas “bases” do acordo não tenham, em nenhum momento, sido objetivamente apresentadas, com dados e números, à plateia composta por servidores da UniRio e da rede federal de saúde.
Em seguida falou o diretor-geral do Hospital Gaffrée e Guinle, João Marcelo Ramalho. Após iniciar seu discurso comparando a fusão do HUGG com o HFSE a um “casamento”, o diretor foi bastante criticado pelos servidores, que responderam com gritos de ‘fora Ebserh’ e algumas vaias. Em complemento à sua fala, João Marcelo disse ainda que a fusão dos dois hospitais seria a “solução” para os problemas de infraestrutura do HUGG, instalado num prédio que, segundo ele, tem mais de 100 anos.
“Fechar hospital é retrocesso, parem de vender a saúde”
Enquanto isto, na plateia, servidores levantaram cartazes com os seguintes dizeres: “fechar um hospital é retrocesso” e “parem de vender a saúde”. Na frente da mesa de abertura, os servidores já haviam afixado a faixa do Sindsprev/RJ com a frase: “Não ao fatiamento”.
Primeira a falar quando a palavra foi aberta ao plenário, a servidora Maristela, da UniRio, criticou o modelo de gestão proposto no Acordo de Cooperação. “O que está acontecendo aqui é a privatização da saúde e da universidade pública. Querem dar de graça para o capital financeiro explorar. Dia 18 de novembro, no G-20, as nações exploradoras estarão aqui. Aí vêm com o discurso de que não tem dinheiro. Por isso que devemos defender a luta pela reestatização do SUS e fora Ebserh”, afirmou ela, sob aplausos.
Representando o Sindsprev/RJ, Cristiane Gerardo fez duras críticas ao caráter da audiência pública convocada pela reitoria da UniRio. “Ao tomar conhecimento desta audiência, eu esperava que fossem apresentados os dados de que precisamos para ter conhecimento e assim julgar a viabilidade deste projeto de fusão. Ao contrário, o que vimos foi uma fala jocosa comparando a fusão a um casamento. A questão é que um casamento pressupõe a livre vontade de ambos, e não a vontade de um só. Quando a vontade é de um só, isto tem outro nome. É estupro. O que está acontecendo aqui e agora não pode ser considerada uma audiência pública porque nos faltam os dados para que possamos fazer algum juízo de valor. Quem hoje propõe a fusão não conhece a realidade do HFSE, que também é um prédio antigo com graves problemas estruturais. Para o bem da democracia, quero propor outra audiência pública para que possamos expor nossas posições, uma audiência fundamentada com dados técnicos e científicos sobre a fusão. E que qualquer projeto passe por plebiscito no HFSE e no Hospital Gaffrée e Guinle”, afirmou ela, em um discurso recebido por aplausos de todos os servidores, o que gerou grande constrangimento dos representantes da reitoria e do diretor-geral do HUGG, João Marcelo Ramalho.
Aos gritos de “a nossa luta é todo dia porque saúde não é mercadoria”, os servidores manifestaram mais uma vez o seu repúdio a qualquer proposta que implique a fusão dos dois hospitais e sua entrega à Ebserh.