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sexta-feira, novembro 1, 2024
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Serviço público tenta se adaptar ao trabalho híbrido que virou tendência após Covid-19

A crise sanitária e humanitária causada pela pandemia da Covid-19, em 2020, mudou o rumo do planeta em vários aspectos, especialmente em relação à prevenção da doença. Os cuidados para evitar a infecção respiratória causada pelo Coronavírus e sua transmissão chegaram a níveis alarmantes no mundo.

A população mundial ficou assustada diante da doença que matava milhões de pessoas. Foram adotadas medidas de prevenção e combate à doença em todos os países. Os trabalhadores então recorreram ao trabalho híbrido, valorizado e adotado por governos e empresas para evitar a contaminação e a disseminação da doença.

Embora tenha sido uma realidade em alguns setores no período do Coronavírus, o home office representou para o setor público um espaço de experimentação. Sem uma estrutura planejada para essa transição, servidores públicos se deparam com alguns desafios neste atual momento. O acesso a equipamentos de trabalho, uma boa rede de internet, um espaço adequado e tranquilo, o entendimento das tarefas a serem realizadas e novos softwares foram alguns deles. Além disso, existem também as questões emocionais, a conciliação de trabalho e tarefas domésticas em um mesmo ambiente.

Essa mudança para o trabalho remoto mostrou que a inclusão digital e o acesso à tecnologia no Brasil são precários. No país, a maioria da população utiliza a internet pelo celular ao invés de um computador, prejudicando o andamento de atividades requeridas no trabalho.

Ainda há muitas pessoas sem acesso a ferramentas básicas, como um computador e uma internet em casa. Enquanto o acesso à internet não é democratizado, servidores públicos se deparam com a falta de estabilidade e acessibilidade de Wi-Fi e sinal 3g, falta de equipamentos como o computador e poucas habilidades diante de ferramentas tecnológicas que só podem ser acessadas pelo celular.

Passada a crise da Covid-19, dos mais de 550 mil servidores do Poder Executivo, 16,6% trabalham de casa, seja de forma integral ou híbrida, o que representa um em cada seis servidores. Esses trabalhadores têm dispensa de registro de ponto eletrônico, e o trabalho é medido por metas e resultados.

Segundo o secretário de Gestão e Inovação do MGI, Roberto Pojo, são 84,2 mil funcionários públicos federais em Teletrabalho. Desse total, 40,8% estão em regime integral, 58,8% no modelo híbrido, com parte do trabalho exercido no prédio público, e 0,3% trabalha no exterior.

No pós-pandemia, o home office no serviço público ganhou força após a instituição do Programa de Gestão e Desempenho (PGD), que troca o regime de ponto por um acompanhamento do trabalho feito por meio da produtividade do servidor. Na modalidade home office, o servidor pode trabalhar em um local definido por ele, em comum acordo com a chefia da unidade.

Roberto Pojo explica ainda que o programa estabelece critérios gerais para o funcionamento do home office entre servidores públicos e deixa as normas mais específicas para serem definidas por cada órgão, que decide qual grupo de servidores poderá trabalhar a distância.

O programa está em processo de implementação e os gestores de ministérios avaliam que há uma tendência de aumento do home office por causa de novas regras.
O Governo definiu que só poderão ingressar no home office aqueles que já tenham cumprido um ano de estágio probatório.

Os ministérios da Previdência e da Educação lideram a lista entre as pastas com mais servidores em Teletrabalho, em números absolutos. Na Previdência cerca de 10 mil servidores, do total de 30 mil, estão em Teletrabalho integral ou parcial.

Prós e contras

Em entrevista ao jornal da Universidade de São Paulo (USP), a psicóloga Larissa Silva, pesquisadora e mestre pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP, destaca que o trabalho híbrido pode trazer muitos benefícios para as pessoas que têm um ambiente familiar considerado saudável, o espaço propício em casa para realização das tarefas e trabalham em uma empresa que respeita os horários de jornada de trabalho.

“A pessoa está economizando o tempo de ida e volta do trabalho, que pode ser utilizado para uma atividade de lazer, uma atividade física, cozinhar e ter uma alimentação mais saudável, ou para passar mais tempo com a família. Esses aspectos são fatores importantes, que afetam a autoestima da pessoa que, com uma autoestima elevada, acaba se sentindo melhor, oferecendo o melhor desempenho. Então é um benefício tanto para a pessoa como também para a organização, mas nem todo mundo tem esse ambiente familiar adequado”, explica.

A psicóloga, no entanto, adverte que, apesar dos possíveis benefícios da adoção desse modelo, este também pode ser responsável por potencializar e ocasionar doenças mentais, como depressão, ansiedade, estresse e burnout, em alguns trabalhadores, caso não seja bem implementado, de forma pensada e cautelosa. Segundo Larissa Silva, alguns exemplos das desvantagens são o acúmulo de funções que algumas pessoas, especialmente mulheres, podem ter, e a mistura do convívio familiar com as atividades laborais, necessitando o desenvolvimento da habilidade de gerenciamento do tempo.

“Nós podemos ter a falha na comunicação, a sensação de estar sempre trabalhando e não conseguir desligar, a má gestão do tempo, que pode afetar nas entregas e nos resultados, pressionando e frustrando a pessoa, a menor relação interpessoal formal e informal e o isolamento social, profissional e político. Inclusive, no futuro, pode haver uma mudança cultural na sociedade, em que a parte da socialização pode ficar muito comprometida. Por isso é importante não só olhar como desvantagens, mas fatores que merecem atenção, para pensarmos em formas estratégicas de fazer dar certo”, comentou.

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