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quinta-feira, novembro 21, 2024
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Abril Verde: hospitais têm mais acidentes de trabalho do que construção civil

O setor saúde está à frente da construção civil no número de casos de acidentes de trabalho – acidentes propriamente ditos e as mais diversas formas de adoecimento. A informação foi dada por Jorge Andrade, especialista em segurança no trabalho e controle ambiental, durante a palestra “Saúde do trabalhador e saúde ocupacional” que proferiu pela manhã no II Encontro Abril Verde, realizado nesta sexta-feira (26/4), no auditório do Sindsprev/RJ.

O evento foi organizado pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora do Sindsprev/RJ (DPSATT) em parceria com a Secretaria de Organização do Sindicato. Como lembrou Enilton Felipe, coordenador do Departamento, o Encontro é uma forma de lembrar o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho, celebrado em 28 de abril, um momento de reflexão sobre questões relacionadas à prevenção de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.

O dirigente classificou como contraditória a situação dos trabalhadores da saúde que figuram à frente da construção civil no número de acidentes de trabalho, por serem eles os que cuidam da saúde da população, e, ao mesmo tempo, serem os mais afetados pela falta de medidas preventivas e de fiscalização do poder público.

Jorge Andrade classificou como grave a situação dos profissionais da saúde. “O setor passou, a partir de 2015, a ter mais casos de acidentes de trabalho do que da construção civil que infelizmente era o mais atingido pelo problema. Segundo dados do Ministério da Previdência Social a saúde teve naquele ano 38.995 notificações de acidentes de trabalho (21,9% do total), contra 38.424 (21,6%) da construção civil. Só ficou atrás da área de operação de veículos e máquinas, com 66.113 dos casos, ou 37,1% do total”, afirmou.

Mesa de discussão sobre Conjuntura Política e Saúde do Trabalhador no Brasil, com participação do deputado federal Dimas Gadelha (PT-RJ). Foto: Mayara Alves.

“Há diversas causas, entre elas, a não realização efetiva de programas de saúde do trabalhador, o que leva ao não levantamento dos riscos presentes no ambiente de trabalho, inviabilizando a implantação de medidas preventivas e corretivas para evitar acidentes e o adoecimento; além disto, há uma baixa fiscalização do Ministério do Trabalho e do próprio Sistema Único de Saúde; faltam equipamentos de proteção individual; e existe ainda uma ausência de informação aos profissionais por comissões de segurança do trabalhador”, disse.

O especialista ressaltou a importância da ação dos sindicatos, no sentido de cobrar dos governos a instalação de comissões de segurança no trabalho em cada unidade. “O governo faz todo o ano campanha de conscientização sobre a importância da saúde do trabalhador, mas deixa de fazer o dever de casa nos setores que administra”, criticou. “É preciso reconhecer os riscos, informar aos trabalhadores e tomar as medidas necessárias para defender estes profissionais”, disse.

Sindicatos são a resistência

A segunda palestrante, Mônica Olivar, pesquisadora do Centro de Estudos de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, frisou que eventos como o II Encontro do Abril Verde, são uma resistência importante para organizar a cobrança do efetivo funcionamento da saúde do trabalhador nos órgãos públicos. Disse que os casos de acidente de trabalho aumentaram a partir da ampliação do corte de direitos trabalhistas, da terceirização e de outras formas de precarização das relações de trabalho.

“O fim de inúmeras garantias e direitos fizerem disparar o número de adoecimentos no Brasil e no mundo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) morrem mais pessoas de acidentes de trabalho, do que nas guerras”, exemplificou. “Vale a pena registrar que o Brasil ocupa um vergonhoso quarto lugar neste quesito, ficando apenas atrás da China, Índia e Indonésia”, disse.

Acrescentou que a ampliação do agronegócio com o uso extensivo de venenos nas plantações também teve papel importante na piora dos números de adoecimento. “O sucateamento ainda maior do serviço público, o crescimento da informalidade, associados ao corte de direitos nos últimos governos agravou a situação. Oito em cada 10 casos de adoecimento são de terceirizados”, afirmou.

Encontro representa esforço para dar centralidade às questões sobre saúde do trabalhador. Foto: Mayara Alves.

Na sua opinião, as empresas privadas pouco se interessam em fortalecer a prevenção no local de trabalho para cortar custos e ampliar seus lucros, quando a prevenção, na verdade, aumenta a produtividade ao evitar o adoecimento causado pelo ambiente de trabalho. “Mas o setor público não fica atrás. Na Fiocruz, 70% da força de trabalho é terceirizada. Nos hospitais quase não há política de prevenção, nem de combate ao assédio moral, que também adoece”, exemplificou.

Sustentabilidade e alimentação

Terminando as atividades da manhã do Encontro Abril Verde, Thaiane Viana, mestre em sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, falou sobre a importância da segurança alimentar e da sustentabilidade. Lembrou que a sustentabilidade é a forma correta de produção de alimentos que respeita o meio-ambiente; e a segurança alimentar é a garantia de que este alimento chegue ao alcance de todos, sendo, ambas, questões importantes para a saúde e a vida da população.

“A alimentação saudável inibe as doenças, como as cardiovasculares, diabetes, fortalece a imunidade, sendo fundamental para a qualidade de vida de todos”, frisou. Aconselhou a compra de produtos orgânicos, a procura por pequenos produtores, tanto para um consumo mais benéfico, quanto para a preservação do meio-ambiente.

Lembrou que o Brasil vai presidir em novembro a reunião dos 20 países mais desenvolvidos do mundo, o G-20. E que os temas serão combate à fome e à miséria e desenvolvimento sustentável. “São temas fundamentais que estão na ordem no dia em todo o planeta. Devido à importância é preciso debatê-los em todos os fóruns. O Brasil é um dos principais produtores de alimentos. É possível continuar sendo, preservando o meio-ambiente, por exemplo, utilizando terras degradadas, sem desmatar. É importante que toda a sociedade se prepare para estes debates”, sugeriu.

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