O aprofundamento das investigações sobre os mandantes e demais executores do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e a punição dos envolvidos serão as principais exigências das manifestações que ocorrerão neste dia 25 de julho, como parte do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Na véspera desta data tão importante, o ex-PM Élcio de Queiroz firmou delação premiada com a Polícia Federal (PF) e com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi criado pela Organização das Nações Unida (ONU), durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992. O objetivo é lembrar a luta e a resistência dessas mulheres contra racismo, o machismo, a violência, a discriminação e o preconceito dos quais elas ainda são vítimas. Outra reivindicação é a reparação, em decorrência da escravidão.
Osvaldo Mendes, diretor da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia do Sindsprev/RJ, convocou a categoria a participar da Marcha da Mulher Negra. O movimento acontece neste dia 30 de julho, domingo, na Praia de Copacabana. Será uma manifestação contra o racismo, o machismo, a violência, todo o tipo de opressão, a discriminação e o preconceito dos quais elas ainda são vítimas.
No Brasil nesta neste dia 25, é comemorado também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, por meio da lei 12.987/2014. Conhecida como “Rainha Tereza” liderou a resistência do povo negro à frente do Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso, durante o século XVIII. “É um símbolo da luta contra a discriminação à mulher negra no nosso país”, afirmou Maria Ivone Suppo, diretora do Sindsprev/RJ.
A delação
Na delação, Élcio Queiroz deu detalhes do atentado que tirou a vida de Marielle e do seu motorista Anderson Gomes, a tiros, em 14 de março de 2018. Pela primeira vez contou detalhes da organização do crime e confirmou que seu comparsa Ronnie Lessa, assassinou a ex-vereadora. Élcio dirigia o carro do assassinato.
O delator contou que chegou com seu carro, deixou o veículo na garagem de Lessa e seguiu com ele até um ponto, alguns metros atrás do condomínio, onde havia um carro à espera. Élcio contou que deixou seu telefone no carro de Lessa a pedido dele.
No carro, Lessa ficou no banco do carona. Élcio contou que viu do retrovisor quando Lessa colocou um casaco preto, tirou uma submetralhadora da bolsa, instalou o silenciador, colocou uma touca e pegou um binóculo para observar o movimento. Foi ali que contou que estavam indo ao encontro de Marielle Franco e que a questão era pessoal.
O ex-PM apontou outro envolvido, o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o ‘Suel’, e explicou toda a dinâmica do crime. O ex-bombeiro foi preso por agentes da Polícia Federal por envolvimento na execução, neste dia 24 de julho.
Mais um participante preso
Maxwell já tinha sido condenado por atrapalhar a investigação da execução de Marielle e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2022. A pena foi de quatro anos de prisão domiciliar, que ele cumpria em sua casa no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Este é o primeiro passo público dado pela investigação da Polícia Federal durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem entre seus ministros a irmã de Marielle Franco, a jornalista e professora Anielle Franco, que chefia o Ministério da Igualdade Racial.
Cogita-se que a delação e a prisão do bombeiro, podem fazer com que as investigações confirmem as ligações entre o crime, a milícia no Rio de Janeiro, as instituições policiais e o sistema político. Como se sabe, políticos chegaram a defender publicamente a milícia e homenagear seus integrantes, como é o caso da família Bolsonaro. A CPI da Mílicia, presidida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo, colocou na cadeira alguns políticos, comprovadamente ligados à organização criminosa.
Lessa foi vizinho de Jair Bolsonaro, no Condomínio Vivendas da Barra. É também pai da ex-namorada de Jair Renan, o filho mais novo do ex-presidente.
Mandantes
No entender do ministro da Justiça Flávio Dino, a delação faz com que as investigações apontem outros envolvidos no crime e possíveis mandantes, assim mesmo, no plural. Segundo Dino, a delação ocorreu há 15 ou 20 dias e foi homologada na Justiça.
Dino celebrou o que chamou de “avanço” na investigação, durante entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, na sede do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em Brasília. Representantes do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e da Polícia Federal acompanharam o ministro na coletiva.
“A partir daí, as instituições envolvidas terão os elementos necessários ao prosseguimento da investigação.
Não há, de forma alguma, a afirmação de que a investigação se acha concluída, pelo contrário. O que acontece é uma mudança de patamar da investigação”, explicou o ministro.