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domingo, novembro 24, 2024
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Insistência do governo Bolsonaro no desmonte do setor público agrava crise econômica

Os gestores das empresas multinacionais podem ser tudo, menos despreparados. A saída das três fábricas da montadora Ford no Brasil, da fábrica da General Mills de Nova Prata (RS) – responsável pela marca Yoki – da Sony de Manaus e de 11 lojas da gigante varejista Forever 21, todas anunciadas neste mês de janeiro aconteceram devido à insistência do governo Bolsonaro em manter a política de contração da atividade econômica, aprofundando o ajuste fiscal, o que inviabilizará a retomada da atividade econômica, seja em função do gigantesco corte de investimentos públicos, das reformas, do desmonte do setor público (serviço público e estatais), seja com demissões em massa no segmento, redução de sua estrutura e privatizações. Tudo isto, agravado pela pandemia do novo coronavírus.

O economista Adhemar Mineiro lembra que esta política do governo Bolsonaro, comandada pelo ministro da Economia Paulo Guedes, já vinha reduzindo dramaticamente a atividade econômica no primeiro e no segundo ano de governo Bolsonaro agravando a crise. Embora as decisões da Ford, Yoki e Forever 21 estejam relacionadas ao momento da crise gerada pela pandemia do coronavírus, nos últimos anos a situação no Brasil provocou a saída ou a redução de atividades de várias empresas estrangeiras.

E a fuga de capitais.

Para a economista e professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Esther Dwueck para recuperar a economia brasileira, o governo Bolsonaro deveria fazer o que estão fazendo os de outros países, como os da União Europeia, fortalecendo a participação do Estado, através de um forte aumento dos investimentos púbicos, com o fim do teto de gastos (instituído pela PEC 95), de modo a financiar a retomada do crescimento, do emprego e da renda, sendo fundamental para isso a aprovação de uma reforma tributária progressiva, que aumente a capacidade de investimento público, com impostos mais altos para os mais ricos.

Saída de empresas agrava crise fiscal

“Todos os países estão revendo suas políticas e, durante a pandemia, voltando a promover uma participação mais forte do Estado, via investimento público para minimizar os efeitos da pandemia e permitir a recuperação mais rápida da atividade econômica. No Brasil, ao contrário, o governo fala em cortar gastos, insistindo na tese do ajuste fiscal, o que levará a uma maior queda do Produto Interno Bruto (PIB), e a uma redução da arrecadação de impostos, o que, ao contrário do que diz o governo, levará agravamento da crise fiscal”, previu.

A Ford já havia encerrado suas operações com caminhões. Outras marcas conhecidas são os laboratórios Roche e Eli Lilly, o aplicativo Glovo e a fabricante de equipamentos de fotografia Nikon. Em março de 2019, o grupo farmacêutico Roche, com sede na Suíça, comunicou que as atividades de sua fábrica localizada em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, deverão ser totalmente encerradas entre quatro e cinco anos.

Adhemar alerta que a saída de grandes empresas é mais um sinal preocupante de aprofundamento da desindustrialização do país. “Aparentemente estamos, por uma decisão política, ou talvez por indecisão política, condenados a não ter política industrial, em um momento em que o exemplo chinês mostra a importância da indústria no processo de crescimento e desenvolvimento econômico. Por aqui, seguimos andando sem estratégia. E quem tenta funcionar sem estratégia, é parte ou sofre os efeitos da estratégia de alguém”, disse, referindo-se a retirada das empresas do Brasil e da sua manutenção em países com política econômica diversa da imposta pelo governo brasileiro.

Brasil vira patinho feio

Um levantamento do IBGE divulgado em outubro passado mostra que o Brasil fechou mais empresas do que abriu nos últimos anos. Esse quadro é reflexo do cenário econômico brasileiro. Em 2019, pela primeira vez, o país desapareceu do Índice Global de Confiança para Investimentos Estrangeiros, publicado pela consultoria americana Kearney. A partir de entrevistas com 500 executivos das maiores multinacionais, o índice mede a perspectiva de investimento nos próximos três anos.

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No ranking da Kearney, o Brasil caiu para sexto lugar em 2015, 16º em 2017 e foi para último colocado em 2018, até deixar a lista em 2019.

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No ano passado, o país retomou um lugar no ranking, ficando em 22º lugar entre 25 países.

Ao contrário de outros país que investiram pesadamente recursos públicos para combater a crise social e econômica gerada pela pandemia do novo coronavírus para minimizar e assim tornar o menos difícil possível a retomada pós-pandemia, o governo do Brasil investiu muito pouco, e o fez reclamando, repetindo que a solução para a crise seria o ajuste das contas públicas, com mais reformas, mais cortes de investimentos públicos; recusando-se a investir na vacinação em massa contra a covid-19; na manutenção do auxílio emergencial e desmontando a estrutura de setores importantes do serviço público, como a do Sistema Único de Saúde (SUS), do INSS e de estatais importantes, como o Banco do Brasil, programando o fechamento de mais de 300 agências e a demissão de pelo menos 5 mil funcionários, deixando desassistidos milhões de brasileiros em plena pandemia, preparando a sua privatização.

Desmonte de mais estatais

Mas o desmonte das estatais não para por aí. A Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest) aprovou oito PDVs para 2020 e 2021: BB; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Banco do Nordeste (BNB); Caixa; Correios; Dataprev; Finep; e Serpro. Segundo a Secretaria, a Petrobras também divulgou a abertura de PDV, mas a empresa não necessita submetê-lo à Sest.

Esther Dweck frisou que as privatizações, ao contrário do que diz o governo, não ajudam a resolver as crises econômica e fiscal, pelo contrário, vão agravá-las. “As estatais, sobretudo os bancos públicos, são instrumentos importantes para o investimento na economia e, como são lucrativos, capitalizam o Estado com seus dividendos. Ao desfazer-se delas, o Estado reduz a sua capacidade de investimento e perde na arrecadação de impostos, levando a mais crise”, advertiu.

Afirmou que as medidas adotadas pelo governo para o combate à pandemia foram totalmente insuficientes, como o auxílio-emergencial de R$ 600, que só chegou a esse valor por decisão do Congresso Nacional, pois o governo queria R$ 200; pouco investimento no auxílio a empresas para minimizar os efeitos da pandemia sobre as empresas e trabalhadores; e ausência de coordenação do combate direto à disseminação do novo coronavírus, o que fez com que a doença se espalhasse rapidamente. “A economia já vinha mal, estagnada, em consequência dos efeitos da política contracionista do governo. Com isto, a queda do PIB deve ficar entre 6,4% e 11%, com mais de 14 milhões de desempregados, sendo que as medidas anunciadas devem tornar ainda pior este quadro”, alertou.

Fuga de capitais

Para Adhemar Mineiro, o posicionamento do governo Jair Bolsonaro contrário ao isolamento social o desqualifica junto aos demais países e ao mercado internacional, agravando a crise econômica, com consequências extremamente negativas para o Brasil. Acrescenta que uma das tendências deste descrédito é o crescimento da fuga de capitais, movimento de saída de bilhões de dólares desde o fim de 2019 devido à estagnação cada vez maior da economia brasileira em função da política econômica e da aversão dos investidores internacionais ao risco.

O principal motivo da saída destes capitais é a aversão ao risco. “O Brasil, assim como todos os países emergentes, é visto como um local arriscado para ter capitais neste momento e, portanto, os especuladores, os investidores internacionais, tentam ir para ‘portos mais seguros’, basicamente, investindo em títulos públicos dos Estados Unidos. E, obviamente, as turbulências maiores no Brasil, a imagem de um governo desqualificado no plano internacional, tudo isso só piora essa situação”, avalia.

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