O diretor da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia do Sindsprev/RJ, Osvaldo Mendes, condenou as declarações do presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, que classificou o movimento negro como “escória maldita”, que abriga “vagabundos”, e chamou Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra no Brasil, de escravocrata, de “filho da puta que escravizava pretos”. Camargo também manifestou desprezo à agenda da “Consciência Negra”, chamou uma mãe de santo de “macumbeira” e prometeu botar na rua diretores da autarquia que não tiverem como “meta” a demissão de um “esquerdista”.
As afirmações foram feitas durante reunião com dois servidores, no dia 30 de abril. O áudio dessa reunião foi encaminhado para a Procuradoria da República no Distrito Federal, juntamente com um pedido para que Camargo responda na Justiça por improbidade administrativa.
“Ele não reconhece sua própria origem. É um negro da elite, que não tem a mínima condição de estar num cargo desta importância política e social, já que é um fascista, um neonazista, um racista. Não pode estar à frente de uma fundação tão importante para a preservação da nossa memória, tão importante para fortalecer a luta antirracista”, afirmou o dirigente do Sindsprev/RJ.
Sérgio Camargo foi indicado no rol de mudanças promovidas pelo ex-secretário especial da Cultura Roberto Alvim, exonerado após fazer referência ao nazismo em vídeo divulgado nas redes sociais. Na época, decisão judicial suspendeu a sua indicação ao cargo por avaliar que a decisão “contraria frontalmente os motivos que levaram à criação do instituto”. A decisão foi posteriormente revista pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça.
Após o anúncio da nomeação de Sérgio Camargo, diversas publicações nas redes sociais levaram a questionamentos sobre sua visão sobre o movimento negro. Ele se manifestou contra, por exemplo, ao Dia da Consciência Negra. Em seu perfil no Facebook, Camargo também afirmou que o Brasil tem “racismo nutella”.
“Racismo real existe nos EUA. A negrada (sic) daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”, escreveu.
Camargo nega escravidão
Osvaldo lembrou que essa não é a primeira vez que Camargo faz declarações racistas, tendo chegado a dizer que não houve escravidão e que os negros tinham que se considerar privilegiados por terem sido trazidos para o Brasil. Segundo Osvaldo, mais este fato confirma que Camargo não pode continuar à frente da instituição, já que o movimento negro criou a Fundação Palmares com o objetivo de defender a população negra do Brasil, sua cultura e religiosidade.
“Infelizmente, este governo, que é neonazista e racista coloca como presidente da fundação um elemento que tem também estas características. Por isso ele faz estas declarações contra o movimento negro, mães de santo, yabás e babalaôs que têm um papel fundamental para a nossa religiosidade”, afirmou. E acrescentou: “Ele quer acabar com a nossa memória, dizendo que não existiu a escravidão, que ela foi um privilégio para o povo negro. Trata-se de um psicopata”, disse.
Vazamento
Segundo a jornalista Ana Mendonça, do jornal O Estado de Minas, a reunião em que Camargo fez as declarações foi realizada com dois servidores, no dia 30 de abril, tendo sido convocada para tratar do desaparecimento do seu celular corporativo. Ao ser questionado sobre o assunto, o presidente da fundação fica nervoso e afirma que o aparelho sumiu por decisão judicial. No diálogo, ele chega a dizer que havia deixado o celular numa gaveta da fundação e insinua que o furto poderia ter sido proposital, com o intuito de prejudicá-lo.
“Eu exonerei três diretores nossos (…). Qualquer um deles pode ter feito isso. Quem poderia? Alguém que quer me prejudicar, invadir esse prédio para me espancar, invadir com a ajuda de gente daqui… O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita”, diz o presidente da Fundação Palmares no áudio. “Agora, eu vou pagar essa merda aí”, completou, numa referência ao telefone.
Racista
Ao falar sobre “liberdade de expressão” Camargo faz críticas a Zumbi. “Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que, para mim, era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar agenda consciência negra. Aqui não vai ter, vai ter zero da consciência negra. Quando cheguei aqui, tinha eventos até no Amapá, tinha show de pagode no Dia da Consciência Negra”, diz.
O presidente da instituição ainda afirmou ter sido afastado do comando, o que ocorreu por três meses, por uma liminar que “censurou suas opiniões em redes sociais”. Na época, a Justiça considerou suas declarações, minimizando o crime de racismo, incompatíveis com o cargo.
Durante a gravação, o presidente da Fundação Palmares assegurou que o processo para tirá-lo do comando da autarquia “não vai dar em nada” porque teria havido “usurpação” do poder do presidente Jair Bolsonaro. “Esses filhos da puta da esquerda não admitem negros de direita. Vou colocar meta aqui para todos os diretores, cada um entregar um esquerdista. Quem não entregar esquerdista vai sair. É o mínimo que vocês têm que fazer”, afirmou.
Camargo ainda se referiu a uma mãe de santo como “macumbeira”.
Ele diz firmemente que não daria verba para terreiros, locais usados para cerimônias de matriz africana. “Tem gente vazando informação aqui para a mídia, vazando para uma mãe de santo, uma filha da puta de uma macumbeira, uma tal de Mãe Baiana, que ficava aqui infernizando a vida de todo mundo”, diz.