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terça-feira, abril 1, 2025
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Pesquisa mostra que 21,4 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses

A pesquisa ‘Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil’, iniciada em 2017 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que 21,4 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses. O número representa 37,4% do total de mulheres no país. Os dados foram divulgados na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março, que lembra lutas sociais, políticas e econômicas das mulheres.

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, o Sindsprev-RJ realizou um debate no último dia 14 sobre o combate à discriminações de gênero, racismo e LGBTfobia, quando foram debatidos os desafios da mulher no ambiente de trabalho: assédio moral; sexual; empoderamento; protagonismo e precarização; e também no ambiente familiar: educação; o papel de provedora familiar; vida social e violência doméstica, incluindo os impactos na saúde mental.

Cristiane dos Santos, dirigente da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia do Sindsprev-RJ, destacou que é urgente a necessidade de entender que não estamos falando de posse. “A violência doméstica cresce exponencialmente a cada ano. A mulher pode e deve fazer o que quiser, e isso precisa ser respeitado. Lembrando que a violência se dá em todos os cenários. O assédio moral e sexual também tem recorde de gênero. São as mulheres que mais sofrem em seu local de trabalho. E o impacto disso é um grande número de trabalhadoras afastadas das atividades laborativas com diversos comprometimentos mentais e emocionais”, apontou.

A dirigente do Sindsprev-RJ adiantou que a ideia é levar o debate sobre a violência contra a mulher para as unidades de saúde do Rio de Janeiro. “O objetivo é alertar sobre o aumento da violência para que juntos possamos contribuir para que menos mulheres sofram essas agressões e que, se sofrerem, denunciem”, enfatizou.

A pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta ainda que 5,3 milhões de mulheres, 10,7% do total da população feminina do país, relataram ter sofrido abuso sexual e/ou foi forçada a manter relação sexual contra a própria vontade nos últimos 12 meses, ou seja, uma em cada 10.

No Brasil, o percentual de mulheres que sofreram alguma violência ao longo da vida por parceiro ou ex-parceiro é superior à média global: 32,4% contra 27%, de acordo com relatório recente da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O elevado percentual de agressões na frente dos filhos também levanta a questão sobre os impactos da violência doméstica e familiar na vida de crianças. Estudos apontam que as consequências do testemunho da violência entre os pais podem ser tão ou até mais prejudiciais do que a violência direta contra a criança.

Segundo a pesquisa, a convivência com conflitos intensos dentro de casa está associada a distúrbios emocionais, cognitivos e comportamentais, além de contribuir para uma percepção da família como um ambiente inseguro e caótico.

O levantamento destaca ainda que “as evidências científicas também sugerem que crianças que testemunham violência doméstica têm maior probabilidade de serem afetadas pela violência na vida adulta, seja como vítimas ou como agressoras. A violência doméstica pode se perpetuar entre gerações”.

Ato pelo dia Internacional da Mulher, no Centro do Rio. Foto: Mayara Alves

Pesquisa registrou os principais tipos de violência:

Ofensas verbais: 31,4% das mulheres relataram insultos, humilhações ou xingamentos, um aumento de 8 pontos percentuais em relação a 2023. Isso representa cerca de 17,7 milhões de brasileiras.

Agressão física: 16,9% das mulheres sofreram batidas, tapas, empurrões ou chutes, a maior prevalência registrada desde 2017. Aproximadamente 8,9 milhões de mulheres foram vítimas desse tipo de violência.

Ameaças de agressão: 16,1% das mulheres foram ameaçadas de sofrer algum tipo de agressão física, totalizando cerca de 8,5 milhões de vítimas.

Stalking: 16,1% das mulheres foram vítimas de perseguição, também representando cerca de 8,5 milhões de brasileiras.

Abuso sexual: 10,7% das mulheres sofreram abuso sexual ou foram forçadas a manter relações sexuais contra sua vontade, afetando aproximadamente 5,3 milhões de mulheres.

Outros tipos de violência

Lesão por objeto atirado: 8,9% das mulheres sofreram lesão em decorrência de um objeto que lhes foi atirado, representando cerca de 4,4 milhões de vítimas

Espancamento ou tentativa de estrangulamento: 7,8% das mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento, totalizando 3,7 milhões de vítimas

Ameaça com faca ou arma de fogo: 6,4% das mulheres foram ameaçadas com faca ou arma de fogo, afetando cerca de 3 milhões de brasileiras

Divulgação de fotos ou vídeos íntimos: 3,9% das mulheres tiveram fotos ou vídeos íntimos divulgados na internet sem seu consentimento, impactando 1,5 milhão de mulheres

Agressores

Os principais agressores são parceiros íntimos ou ex-parceiros:

Cônjuges, companheiros ou namorados: 40%

Ex-cônjuges, ex-companheiros e ex-namorados: 26,8%

Local

57% das mulheres entrevistadas indicaram que a violência mais grave ocorreu em sua residência

11,6% disseram que foi na rua

Perfil das Vítimas

Faixa etária: Mulheres entre 25 e 34 anos concentram um percentual maior de vitimização, mas a violência é prevalente em todas as faixas etárias, especialmente entre 16 e 59 anos

Grau de instrução: 32,9% das mulheres com ensino superior relataram insultos, humilhações e xingamentos, enquanto mulheres com ensino fundamental apresentaram maiores índices de vitimização por espancamento, tentativa de estrangulamento e ameaças com faca ou arma de fogo

Perfil racial: 37,2% das mulheres negras relataram ter sofrido violência no último ano, com 41,5% das pretas e 35,2% das pardas tendo alguma experiência com a violência no período. Entre as mulheres brancas, o índice foi de 35,4%

Quando consideramos a religião declarada pelas respondentes, 49,7% das mulheres evangélicas relataram ter vivenciado uma das situações citadas. A prevalência entre católicas foi de 44,3%.

Considerando a situação conjugal, as divorciadas (60,9%) apresentaram prevalência superior à das solteiras (53%), casadas (44,4%) e viúvas (51,8%). Isto é, o rompimento pode ser mais um fator de vulnerabilidade

O dado sobre situação conjugal “torna evidente como é fundamental que as políticas públicas sejam capazes de estimular que a mulher rompa o ciclo de violência, ao mesmo tempo em que forneçam redes de apoio estruturadas que possibilitem à mulher estar segura para tomar essa decisão quando decide sair da relação”.

Segundo o levantamento, o recorte de grau de instrução indica que os tipos de violência mudam em contextos educacionais distintos: 32,9% das mulheres com ensino superior relatam ter sido alvo de “insultos, humilhações e xingamentos”, mas sua experiência com formas de violência mais aguda como “ameaça com faca ou arma de fogo” ou “esfaqueamento ou tiro” é quase nula.

Já as mulheres com apenas ensino fundamental apresentam menores índices de vitimização em relação às ofensas verbais, mas elevados níveis de vitimização por espancamento, tentativa de estrangulamento, ameaças com faca ou arma de fogo e até ferimentos por faca e arma de fogo.

Assédio

Mais de 29 milhões de brasileiras foram vítimas de assédio no último ano, representando 49,6% das mulheres com 16 anos ou mais entrevistadas.

Os tipos mais comuns de assédio incluem:

Cantadas e comentários desrespeitosos na rua: 40,8% das mulheres

Assédio no ambiente de trabalho: 20,5% das mulheres

Assédio em transporte público: 15,3% das mulheres

Agarradas ou beijadas sem consentimento: 9% das mulheres.

Atitudes das Vítimas

A reação mais comum diante da agressão mais grave sofrida foi a inação, relatada por 47,4% das vítimas.

Outras respostas incluíram procurar apoio de um familiar (19,2%), recorrer a amigos (15,2%) e buscar ajuda na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (14,2%) ou em uma delegacia comum (10,3%).

No último ano, apenas 25,7% das mulheres que sofreram violência recorreram a órgãos oficiais, enquanto 33,8% buscaram apoio entre familiares e amigos.

Como pedir ajuda

Em caso de emergência, quando há necessidade de intervenção imediata, ligue 190.

Em caso de violência contra meninas e mulheres que não requerem intervenção imediata, disque 180.

 

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