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sábado, novembro 23, 2024
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“Se for séria, CPI responsabilizará Bolsonaro pelo número de mortos, levando ao seu impeachment”

Se a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Genocídio for séria, vai comprovar a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo aumento do número de contaminados e mortos pela pandemia do novo coronavírus, tendo como consequência o seu impeachment. A afirmação é do médico Júlio Noronha (foto), presidente do Corpo Clínico do Hospital Federal de Bonsucesso. Nesta entrevista ao site do Sindsprev/RJ, ele afirmou ainda que a recusa do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em responder às perguntas da CPI sobre o boicote do governo às medidas de prevenção da doença feriu o Código de Ética Médica.

Sindsprev/RJ – O senhor avalia que, ao não responder às perguntas e não se posicionar contra o boicote do governo federal às medidas de prevenção à covid-19 que resultaram no aumento do número de mortos, o ministro da saúde, Marcelo Queiroga, teria infringido o Código de Ética Médica?

Júlio Noronha – Logo nos primeiros artigos, o Código de Ética Médica especifica que é dever do médico proporcionar tudo de melhor, mais moderno e mais efetivo para a saúde dos pacientes. Vejo que o ministro Queiroga se omitiu em seu depoimento à CPI em esclarecer as pessoas sobre o isolamento, o uso de máscaras e de medicamentos para o tratamento precoce que, na verdade, não existe. A dúvida autoriza o médico a usá-los. Mas já há um consenso mundial, tendo à frente várias instituições cientificas e a Organização Mundial de Saúde, de que a hidroxicloroquina e a ivermectina não têm nenhum efeito benéfico contra a covid-19. Se a cloroquina desse jeito, o mundo todo tinha usado. No Brasil esta questão ainda persiste. É uma grande estupidez.

Sindsprev/RJ – Pode explicar melhor?

Júlio Noronha – Quando está comprovado que o medicamento não tem nenhum efeito sobre a doença, o médico não pode prescrever, senão vira o ‘samba do branco doido’. Pelo contrário, estes medicamentos são contraindicados porque têm uma certa toxidade e uma idiossincrasia que, dependendo da sensibilidade de cada paciente, podem ter efeitos negativos imprevisíveis. O paciente pode ter insuficiência hepática aguda, nefrite intersticial, aplasia de medula, sequelas muito graves que podem matar.

Sindsprev/RJ – O dever de Queiroga – como médico e ministro da Saúde, para com a vida da população – exigia da parte dele respostas objetivas a respeito de sua concordância ou não com o negacionismo de Bolsonaro?

Júlio Noronha – Estas chamadas autoridades parecem não se importar com a vida das pessoas. Vão morrer 500 mil e eles não vão se importar. Infelizmente, o Conselho Federal e o Conselho Regional de Medicina, que deveriam, por exemplo, contraindicar o uso desses medicamentos, resolveram colocar a política se contrapondo à ética e à ciência. Da mesma forma, não se posicionaram de forma dura contra as bobagens que o Bolsonaro fala ou contra o Queiroga, que nitidamente, em seu depoimento, se omitiu, possivelmente para não perder o cargo.

Sindsprev/RJ – O senhor avalia que a CPI poderá efetivamente responsabilizar o governo Bolsonaro, principalmente o presidente, por sua política deliberada de apostar na tese criminosa da imunidade de rebanho, colaborando, desta forma, para a morte de milhares de pessoas?

Júlio Noronha – Se a CPI for uma coisa séria, há evidências de que foi tudo feito de forma premeditada, com decisões como ‘não vamos comprar vacina porque vamos fazer a imunidade de rebanho e, para deixar as pessoas tranquilas, vamos dizer que tem um remédio que cura, garantindo que as pessoas possam se expor à vontade para que a doença possa evoluir’. Isto é muito grave e, se for comprovado, vai gerar o impeachment do presidente, como responsável por uma política que fez com que chegássemos à morte, até aqui, de mais de 420 mil pessoas.

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Vê-se que a vida humana para essas pessoas não tem o menor valor.

Sindsprev/RJ – A rescisão de mais de mais de 3 mil contratos temporários de profissionais da saúde dos hospitais federais do Rio de Janeiro, em plena pandemia, deve ser investigado pela CPI do Genocídio?

Júlio Noronha – Espero que sim. Fico sem palavras para definir isso que fez o governo Bolsonaro, de, no meio da pandemia, faltando leitos, demitir profissionais de saúde em massa. O Ministério Público e a Defensoria Pública da União são muito atuantes, mas seus superiores devem estar pressionado para impedir qualquer atitude destes órgãos no sentido de reverter estas decisões desumanas, criminosas e absurdas.

Sindsprev/RJ – O corte da verba do SUS e a não previsão de dotação específica no Orçamento da União para o combate à covid-19 também seriam decisões que fizeram com que aumentasse o número de mortes?

Júlio Noronha – Reduzir a verba da saúde no meio de uma pandemia como esta, que está marcando a história da humanidade, é um absurdo sem tamanho. As pessoas que fizeram isto têm que ser responsabilizadas e punidas.

Sindsprev/RJ – Em abril do ano passado, o senhor avaliava que a flexibilização das restrições de isolamento social e o boicote do governo federal às medidas de combate à covid-19 levariam a 500 mil mortos pela covid-19. Hoje o Brasil já passou de 420 mil. O que poderia ser feito para reverter esta tendência que infelizmente se avizinha de ultrapassarmos esta previsão de meio milhão de mortos no Brasil sob a presidência de Bolsonaro?

Júlio Noronha – Se houver uma terceira onda e, dependendo da nova cepa (novas variantes) da covid-19, da velocidade de contágio e da agressividade do vírus, o Brasil vai chegar a 700 mil mortos, não tenho a menor dúvida. E isto vai acontecer devido ao festival de insanidades sanitárias, sobretudo da parte do governo.

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Sindsprev/RJ – Mas há algo que se possa fazer para reverter esta tendência de disparada do número de contaminados e mortos?

Júlio Noronha – Só vacinando 70% da população é que o país vai ter uma imunidade satisfatória, reduzindo significativamente o risco de contágio. Mas, como o governo não comprou, propositadamente, salvo maior juízo, as vacinas, e deliberadamente toma atitudes para não alcançar esta meta, por exemplo, com o presidente atacando a China, o maior fornecedor de insumos para vacinas, agravando a situação de demora no envio destes insumos, atrasando ainda mais a vacinação, não vão ser imunizados estes 70%. Estamos com só 17%, ou menos, de vacinados. Não atingindo este percentual de imunização, resta só o isolamento social, já que o vírus se propaga de pessoa a pessoa, falando, espirrando, tossindo e, eventualmente, pelo toque.

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