Nenhum dos policiais militares acusados do homicídio e da remoção do cadáver de Claudia Silva Ferreira, arrastada por uma viatura da PM por 300 metros na Zona Norte do Rio, foi julgado nem punido pela corporação. Em março deste ano, o crime completou seis anos, mas dois dos PMs que integravam a patrulha se aposentaram depois do homicídio e outros quatro PMs seguem trabalhando nas ruas do Rio de Janeiro, como se nada de anormal tivesse ocorrido em 2014.
Segundo reportagem do jornal O Globo publicada em março, o processo judicial contra o grupo anda a passos lentos na 3ª Vara Criminal da capital. Somente em março de 2019 — cinco anos após o crime — foi realizada a primeira audiência do caso, em que foram ouvidas testemunhas de defesa e acusação.
A reportagem cita que dois dos PMs, o capitão Rodrigo Medeiros Boaventura, que comandava a patrulha, e o sargento Zaqueu de Jesus Pereira Bueno, respondem pelo homicídio de Claudia. Já os subtenentes reformados Adir Serrano e Rodney Archanjo, o sargento Alex Sandro da Silva e o cabo Gustavo Ribeiro Meirelles respondem pelo crime de fraude processual, por terem modificado a cena do crime, removendo Claudia, já morta, do Morro da Congonha.
A Polícia Militar, por sua vez, nunca puniu os agentes. Desde 2014, não foi aberto nenhum processo administrativo para avaliar se os policiais têm condição de permanecer na corporação.
Os quatro PMs que seguem na ativa estão lotados em batalhões da Região Metropolitana e não tem qualquer restrição de atuação: podem patrulhar as ruas e até participar de operações. O comandante da patrulha foi promovido desde então: na época do crime, o capitão Rodrigo Boaventura era tenente. Hoje, ele trabalha no 41º BPM (Irajá). Dois dos PMs, o sargento Zaqueu Bueno e o cabo Gustavo Meirelles, trabalham no 7º BPM (São Gonçalo). O sargento Alex Sandro da Silva Alves trabalha no 9º BPM (Rocha Miranda), mesma unidade em que trabalhava na época do crime.
O vídeo que mostra Claudia sendo arrastada pela viatura da PM por 350 metros da Estrada Intendente Magalhães foi revelado a todo o país na época do crime. As imagens mostram Claudia pendurada no para-choque do veículo apenas por um pedaço de roupa. Apesar de alertados por pedestres e motoristas, os PMs não pararam. Antes Claudia havia sido baleada no pescoço e nas costas em meio a uma operação do 9º BPM no Morro da Congonha, onde morava.
Dirigente da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia do Sindsprev/RJ, Osvaldo Mendes criticou duramente a impunidade dos policiais.
“O que aconteceu com Claudia foi um crime de ódio. O mesmo crime de ódio cometido pelo Estado brasileiro contra o povo negro e pobre das favelas e periferias.
O mesmo crime que recentemente vitimou o jovem João Pedro numa comunidade em São Gonçalo. É preciso acabar com esse extermínio. É preciso mudar a lógica perversa do Estado. Uma lógica racista”, concluiu.