O comentário de Jair Bolsonaro, ‘vai respingar em mim’, feito em uma transmissão pela internet nesta quarta-feira (22/6), foi uma maneira de tentar amenizar os fortes impactos que a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, e o aprofundamento das investigações, deverão ter para o próprio presidente. Batizada de Acesso Pago, a operação da Polícia Federal que prendeu Ribeiro nesta quarta-feira (22/6) investiga prática de tráfico de influência e corrupção na liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão ligado ao Ministério da Educação a pastores evangélicos.
Mas as investigações comprovam também o envolvimento de Bolsonaro no esquema. E, mais grave ainda, a ordem para a liberação irregular de verbas do MEC teria partido do presidente, sendo, portanto, o mandante.
Nos áudios colhidos pela PF Ribeiro disse liberar verbas da pasta por indicação de dois pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura, a pedido de Bolsonaro.
E frisava: “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) defendeu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o esquema de corrupção no MEC. E ressaltou que não é apenas o ex-ministro a ser investigado: “Tem que prender quem manda também!”, afirmou, numa referência a Bolsonaro.
Acrescentou ainda: “Aos interessados quero lembrar que faltam apenas 2 assinaturas para pedirmos a CPI do MEC. Por tudo que conseguimos apurar através da Comissão de Educação do Senado, o #BolsolãodoMEC é ainda maior do que parece”.
Corrupção
Na época da demissão, Bolsonaro, disse que o que estavam fazendo com Ribeiro era ‘covardia’ e que colocava a ‘cara no fogo’ por ele. Na live feita nesta quarta-feira, após a prisão, mudou o discurso e disse que ‘se a PF prendeu é porque tem um motivo’ e que é o ex-ministro ‘quem tem que responder por seus atos’, tratando de tirar sua responsabilidade pelas irregularidades.
O ex-ministro é investigado por suspeita de corrupção passiva; prevaricação (quando um funcionário público ‘retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício’, ou se o pratica ‘contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal’); advocacia administrativa (quando um servidor público defende interesses particulares junto ao órgão da administração pública onde exerce suas funções); e tráfico de influência.
O inquérito foi instaurado depois da imprensa revelar, em março, a existência de um “gabinete paralelo” dentro do MEC controlado pelos dois pastores. Dias depois, a “Folha de S. Paulo” divulgou áudio de reunião em que Ribeiro afirma que, a pedido de Bolsonaro, repassava verbas para municípios indicados pelo pastor Gilmar Silva.
Após a revelação do áudio, Milton Ribeiro deixou o cargo.
Registros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) apontam dezenas de acessos dos dois pastores a gabinetes do Palácio do Planalto.