Em entrevista coletiva realizada na última quarta-feira (8/3), o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, ao comentar a situação dos hospitais federais do Rio de Janeiro, confirmou o que o Sindsprev/RJ, o Sindicato dos Médicos do Rio (Sinmed-RJ), conselhos profissionais e movimentos sociais já denunciam há bastante tempo, que é o intenso processo de sucateamento e precarização imposto a essas unidades, onde a falta de insumos e a carência de profissionais têm sido a regra.
Na referida entrevista, Mandetta admitiu que a rede federal de saúde não tem plenas condições para atender os pacientes acometidos pela covid-19, contrariando promessa anteriormente feita pelo próprio governo, que chegou a eleger o Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) como ‘unidade de referência’ no atendimento de coronavírus. Após admitir a carência de profissionais necessários ao atendimento da covid-19 — consequência da não realização de concursos públicos em nível suficiente para repor a força de trabalho —, Mandetta afirmou que uma possível ‘solução’ do problema seria a contratação de trabalhadores terceirizados.
As declarações do ministro foram uma das maiores demonstrações de cinismo por parte do atual governo, que, na mesma linha da gestão Temer, aprofundou o processo de desmonte da saúde pública em níveis sem precedentes. Afinal, é a gestão Mandetta, por exemplo, que vem ignorando solenemente todas as solicitações de concurso público feitas repetidas vezes por entidades como Sindsprev/RJ, Sinmed-RJ, Fenasps, Coren-RJ, Cofen, Cremerj e Conselho Federal de Medicina, além dos conselhos de saúde atuantes no âmbito do SUS. É inaceitável que o ministro, ao falar da precária situação vivida pelos hospitais e institutos federais, comporte-se como se sua gestão nada tivesse a ver com o caos por que passam essas unidades, onde clínicas inteiras fecharam as portas (literalmente) por falta de pessoal, jogando milhões de pacientes na mais completa desassistência.
Antes da fatal entrevista de Mandetta, reportagem do RJTV veiculada na última terça (7) já havia demonstrado que, de 220 leitos prometidos pelo Ministério da Saúde para o Hospital Federal de Bonsucesso, só 30 estarão disponíveis, e que o motivo para tal deficiência é a falta de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, entre outros profissionais.
Em resposta às cínicas declarações do ministro da saúde, o Sindicato dos Médicos do Rio (Sinmed-RJ) publicou manifesto nesta quinta-feira (9/4). No texto, o Sinmed-RJ lembra as denúncias de precariedade da saúde federal que a entidade vem há anos divulgando. O Sinmed-RJ também afirma estar estudando a proposição de ‘medidas judiciais cabíveis de reparação por perdas e danos a todos os afetados pela política predatória e devastadora da administração federal, além de solicitar a pronta recomposição das carreiras dos trabalhadores da rede federal, com a imediata realização de concurso público para provimento dos milhares de postos de trabalho abandonados pelo governo’. O documento também questiona a inclusão do Hospital Federal de Bonsucesso no rol de unidades de referência para internação de casos graves de covid-19.
‘Nunca acreditamos neste governo’, afirma servidor
“A fala do ministro Mandetta, admitindo que será impossível atender os casos de covid-19 na rede federal, confirma o que sempre denunciamos. Nós, do Sindsprev/RJ, nunca acreditamos nessa história de que o Hospital de Bonsucesso teria plenas condições de atender os pacientes afetados pelo coronavírus, como também nunca acreditamos em nada do que é dito ou proposto por este governo. Exigimos mais investimentos públicos no SUS, esta é a nossa prioridade. A população não pode sofrer as consequências da perversa política de saúde praticada pelo governo Bolsonaro”, afirmou Sidney Castro, dirigente do Sindsprev/RJ.
Também dirigente do Sindsprev/RJ, Osvaldo Mendes reafirmou as críticas à fala de Mandetta. “O ministro é parte de um governo que vem implantando uma nefasta política que visa desmontar a saúde pública em todo o país. As consequências de todo o desmonte do SUS estão aparecendo agora, neste momento de grave pandemia do coronavírus, quando a população vai precisar ainda mais do atendimento na rede pública de saúde. O que os governos vêm fazendo com o SUS é inaceitável, sob todos os pontos de vista”, completou.
Em sua entrevista, Mandetta afirmou, erroneamente, que a saúde federal está há 30 anos sem concursos públicos. Na verdade, houve sim concursos públicos na saúde federal, em 2005 e 2009, realizados por pressão de entidades como o Sindspre/RJ, o Sindicato dos Médicos e os conselhos profissionais de enfermagem. Os referidos concursos, porém, não foram suficientes para promover a necessária reposição de profissionais na rede federal de saúde.