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quinta-feira, novembro 21, 2024
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Desespero com derrota iminente leva Bolsonaro a sinalizar possibilidade de golpe

A três meses das eleições Jair Bolsonaro (PL-RJ) vê se afastar a cada dia mais a possibilidade de se manter encastelado na Presidência da República. Ele se encontra mais de 10 pontos atrás do líder das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta segunda-feira (18/7), viu sua imagem se desgastar ainda mais no Brasil e em todo o mundo, ao se reunir com um grupo de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para desqualificar o processo eleitoral brasileiro e classificar como fraudadas as eleições de 2014 e 2018.

Novamente levantou suspeitas sem provas sobre a segurança do processo eleitoral. Em seu discurso, atacou especialmente o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, e os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal). Barroso presidiu o TSE até fevereiro desse ano, quando deu lugar a Fachin, e Moraes estará à frente do tribunal durante as eleições, em outubro. Deu a entender diversas vezes que estes ministros estariam aliados ao candidato ‘do outro lado’.

Desespero

O historiador Lincoln Penna disse não descartar a possibilidade de militares do governo e Bolsonaro estarem preparando um golpe de Estado, avaliando que o desespero diante de uma possível derrota pode engendrar atos como este. “Não descarto porque às vésperas do golpe de 1964 não achava que haveria golpe. Precaução é sempre bom, mas a conjuntura mundial é outra, não comporta intervenção como em 1964.

E internamente não vejo essa possibilidade. Se Bolsonaro apostar pode se dar mal, mesmo tendo uma base social não desprezível”, argumentou.

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“Acho que é mais desespero do que armação golpista. E se acontecer será um ato suicida”, afirmou.

Para o jornalista e analista político Henrique Acker é preciso que a população se mobilize para evitar uma tentativa de golpe.

“É preciso mobilização popular. Para isto é fundamental as oposições se unificarem, sobretudo as candidaturas, não só para exigir uma resposta das instituições, como TSE, o Ministério Público, até porque este tipo de atitude, de chamar embaixadores estrangeiros para denunciar possível fraude no processo eleitoral brasileiro, denunciar o Tribunal Eleitoral, sem provas, é um atentado contra a democracia. Ao fazer isto, Bolsonaro estaria ameaçado de ser processado. Mas, o que decide é a rua. O problema é que as ruas e as praças continuam vazias” lamentou. Para o jornalista, não é possível conter um processo como este deixando a solução apenas dependendo do bom-senso das instituições.

Desmoralizado

Para o ex-embaixador brasileiro Sergio Florêncio a reunião convocada por Bolsonaro com embaixadores foi desastrosa. “A repercussão internacional desse gesto do presidente é extremamente negativa porque é inusitada, constrangedora e vergonhosa. Inusitada porque um político que durante 28 anos se elegeu com esse sistema de voto eletrônico, inclusive presidente, agora aparece questionando a lisura do processo”, analisou.

Embaixadores ouvidos pelo jornal Estado de S. Paulo sob o compromisso de anonimato fizeram uma avaliação que não descarta o golpe de Estado. Para a maioria dos diplomatas, o discurso de Bolsonaro é de candidato derrotado por antecipação e sinaliza a intenção de realmente não aceitar o resultado das urnas. Obviamente, sua escalada contra as urnas eletrônicas é uma campanha de anticandidato, passa para o mundo – e internamente – a ideia de que pretende se manter no poder mesmo perdendo.

Sem provas

Antes da reunião, Bolsonaro prometeu que iria compartilhar provas sobre fraudes no sistema eleitoral brasileiro, porém o presidente apenas repetiu o discurso de um suposto ataque hacker ao TSE nas eleições de 2018, que foi vencida pelo próprio Bolsonaro. Na apresentação, o presidente exibiu um vídeo editado que supostamente mostra uma urna eletrônica com defeito, mas as imagens foram desmentidas ontem pelo TSE. Agências de verificações de fatos do Brasil também já classificaram o vídeo como falso.

O jornalista Henrique Acker disse ser difícil afirmar que o bolsonarismo trama um golpe tradicional. “O bolsonarismo quer construir um processo que crie dificuldades para que as eleições aconteçam, o que pode ser entendido como um golpe. Só que isso tem muitas limitações, a primeira seria o isolamento internacional. Algumas semanas atrás Bolsonaro esteve nos Estados Unidos, muito a contragosto, conversando com Biden sobre este tema e levou um não no meio da cara”, lembrou.

“Fez uma coisa maluca: foi pedir apoio a Biden vítima de uma tentativa de golpe por parte do Donald Trump. Como é que o presidente dos EUA vai abalizar esta tentativa de Bolsonaro de criar constrangimentos ao processo eleitoral brasileiro, sendo que o próprio presidente brasileiro foi eleito através das urnas eletrônicas?” questionou. Para Acker a reunião com embaixadores faz parte de uma construção sequenciada para desacreditar o TSE, as urnas eletrônicas, e tentar algum artifício que gere uma reação social que justifique uma parceria entre o Congresso Nacional e Bolsonaro para interromper e adiar o processo eleitoral.

“Mas acho isto difícil de acontecer até mesmo porque alguns de seus aliados, sobretudo o Centrão, dependem do processo eleitoral para se manter na vida política. O que está em curso é uma tentativa de tumultuar o processo eleitoral, porque é assim que o bolsonarismo age, mobilizando a sua base, inclusive, já para a posse do novo presidente. O importante para o bolsonarismo neste momento em que ele se vê acuado pelos resultados das pesquisas, e sabe que está numa posição difícil, é manter a sua base mobilizada”, argumentou.

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