As unidades do INSS estão virando foco de covid-19.
A morte do chefe da seção de Logística do Instituto, Valter Assunção Mota, em decorrência da doença, e a contaminação do gerente-executivo, Marcos de Oliveira Fernandes, ambos da Gerência Duque de Caxias, comprovam o alto risco da retomada do trabalho presencial no Instituto em setembro último, decisão tomada irresponsavelmente pelo governo Bolsonaro, mesmo com os alertas feitos pelas entidades sindicais que representam os servidores. Valter morreu no último dia 25, um dia após ser internado no Hospital São José, em Caxias. Marcos apresentou sintomas, como dores no corpo, febre e tosse. Afastou-se do trabalho e testou positivo. Após ser atendido no hospital, voltou para casa, onde está sendo acompanhado pela esposa que é médica.
Apesar dos dois casos de covid-19, o prédio da Gerência de Caxias, com uma agência no térreo, não foi fechado. Não se sabe ainda se foi sanitizado ou higienizado.
Marcos trabalha no sexto andar e Valter no sétimo, mas circulavam pelos demais andares e pela agência, sobretudo Valter.
Moacir Lopes, diretor da Federação Nacional dos Sindicatos de Trabahadores em Saúde, Previdência, Trabalho e Assistência Social (Fenasps), lamentou a morte do servidor e responsabilizou o governo federal, lembrando que em seguidas reuniões virtuais e ofícios, foi dito à presidência do INSS e à secretaria da Previdência Social que a volta do atendimento ao público aumentaria o risco de contágio e morte, o que está se concretizando. Acrescentou que as informações que chegam dos estados dão conta do aumento do número de contaminações e óbitos, mas que não há um dado oficial, devido à recusa do INSS em fornecer as informações.
“Não temos dados oficiais no estado e em todo o país porque o INSS se nega a fornecer. Estes casos, como o do Valter e do Marcos, no Rio de Janeiro, são uma demonstração de que a covid é um perigo real, ao contrário do que diz o presidente da República”, afirmou. Frisou ter a Fenasps alertado o governo sobre o risco que representaria a reabertura do INSS. “Nossa proposta era manter o teletrabalho e autorizar a concessão automática de benefícios, para não prejudicar o segurado e evitar o contágio, e colocar os processos em auditoria”, disse. “Mas de nada adiantou. O governo Bolsonaro é um governo genocida, assassino, e para ele não importa muito quantos vão morrer”, argumentou.
Fechamento da unidade
Paulo Américo, diretor do Sindsprev/RJ, disse que o sindicato prepara um documento exigindo o fechamento da unidade. Citou casos de agências de outros locais do estado, que foram fechadas em decorrência de casos de covid-19. Disse ainda que o governo foi alertado de que o aumento da contaminação pela covid ia acontecer com a reabertura das agências. “Mas não nos ouviu, agindo com total irresponsabilidade e descaso com a vida humana. As unidades do INSS viraram focos de covid-19”, afirmou.
Assédio institucionalizado
A pressão do governo e da direção do INSS sobre os gestores e servidores é muito grande e talvez ajude a explicar por que Valter estava trabalhando no prédio da Gerência Caxias, mesmo sendo do grupo de risco: ele tinha 64 anos e está há 42 no Instituto. Um dos elementos de pressão é a fixação de metas inatingíveis, reforçada pelo termo de acordo assinado em setembro entre o governo, o procurador-geral da República, Augusto Aras e o INSS, impondo prazos para analise de pedidos de benefícios, apesar do déficit de 21 mil funcionários e da recusa do Ministério da Economia (ao qual a Previdência Social passou a ser subordinada) em realizar concurso para novas admissões, que funciona como um assédio moral institucional.
Rolando Medeiros, diretor do Sindsprev/RJ, falou da tristeza com a notícia do falecimento de Valter e do contágio de Marcos.
“Mas, além disto, estamos preocupados, por que, como grande parte dos servidores do Instituto, são do grupo de risco. E estes casos acontecem no meio de uma pandemia que se aproxima de 200 mil mortes. Observamos que este governo, que nega a pandemia, acaba obrigando o servidor a produzir mais, impondo metas, exigindo a presença no seu local de trabalho, com a idade que tem. A direção do INSS tinha, em vez de pressionar pelo comparecimento, proibir o servidor do grupo de risco de estar presencialmente trabalhando”, ressaltou. Lembrou que o servidor do INSS corre o risco de se contaminar trabalhando, levar o vírus para casa, de trazer o vírus no transporte ou do seu meio social para o local de trabalho.
“Nos preocupa e revolta esta política do governo em pressionar os funcionários do INSS a cumprirem metas, muitas delas presenciais. É uma situação sem cabimento, de falta de humanidade. Nós do Sindsprev/RJ reponsabilizamos a gestão do INSS por mais esta morte e por outras que possivelmente virão, com o aumento da exposição ao covid-19, no Rio de Janeiro e em todo o país”, afirmou.