Publicada recentemente, a 6ª edição do Atlas da Notícia apontou redução de 8,6% no total de municípios brasileiros sem nenhum órgão ou veículo de imprensa. O Atlas também constatou um expressivo crescimento no número de veículos de jornalismo digital, que hoje lideram os percentuais de novas iniciativas neste campo de atividade, na comparação com veículos analógicos e tradicionais, como rádio, TV aberta, jornais e revistas impressos.
Para o Atlas, a predominância do digital para explicar a diminuição dos desertos de notícias se associa em grande parte às novas configurações de produção e consumo de conteúdo jornalístico. Segundo a pesquisa, a maior parte dos veículos mapeados são os digitais (5.245) e as rádios (4.836), correspondendo a 70% do total das empresas na base de dados do Atlas da Notícia.
No entanto, o mesmo Atlas da Notícia revela que 21,5% dos veículos jornalísticos digitais que fazem coberturas locais não obtiveram nenhuma receita financeira em 2021. O que indica grande dificuldade de sobrevivência para essas organizações e consequente precariedade das condições de trabalho. “Identificamos que há [nesses veículos] excesso de trabalho, salários baixos e formação deficiente dos jornalistas”, destacou Sérgio Lüdtke, coordenador do Atlas da Notícia e também presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor). Ainda conforme o levantamento do Atlas da Notícia, em 40% dessas organizações digitais todo o trabalho é feito de forma remota, e apenas 25,7% delas possuem sede própria. Outras características são que 45,7% (ou quase metade) desses veículos contam apenas com uma pessoa para a produção de conteúdo, 28,5% nunca fizeram planejamento estratégico e quase 60% deles dependem de verbas publicitárias. Uma curiosidade é que, dos veículos digitais pesquisados pelo Atlas da Notícia, apenas 22% publicam seus princípios editoriais em site. Quanto ao expediente — aquele espaço que traz informações básicas sobre endereço, telefones de contato, e-mails e membros das redações —, 61% dos veículos não o fazem em seu site.
Como meio de reduzir a precariedade financeira e de funcionamento dos veículos digitais, Sérgio Lüdtke defendeu, em declaração ao portal UOL, a criação de fundos de financiamento para impulsionar veículos menores que não conseguem publicidade, a maior fonte de financiamento do setor. Ele também sugeriu quatro caminhos para um jornalismo sustentável no setor: definição de publicidade e compromissos editoriais, capacitação para gestão, diversidade de fundos de financiamento e criação de fundos públicos e privados para o jornalismo.