A cena do governador do estado do Rio de Janeiro descendo aos pulos de um helicóptero, comemorando a morte do sequestrador de um ônibus na Ponte Rio-Niterói, neste dia 20 de agosto, foi patética. Wiliam Augusto, 20 anos, foi abatido com oito tiros disparados por policiais do Bope. Wilson Witzel comemorava mais uma morte causada por sua política de extermínio que tem tirado a vida de jovens negros moradores das favelas cariocas.
Mesmo tendo a polícia militar afirmado que o rapaz que sequestrou o coletivo estava desorientado e portando arma de brinquedo, Witzel justificou a extrema violência, afirmando que as autoridades de segurança estão “revidando” a violência de criminosos do estado e que isso está resultando em mortes. Não lamentou mais este homicídio, pelo contrário, mostrava felicidade como se estivesse num estádio de futebol comemorando um gol.
Rio: cemitério de pobres e negros
As imagens da comemoração chocaram o mundo que vê com tristeza o Rio de Janeiro transformar-se num cemitério de pobres e negros abatidos pelo Estado. Os policiais podem não ter tido outra opção no caso da morte no sequestro, mas não há justificativa para o excêntrico comportamento do governador.
Trata-se um político que não mostra preocupação com a gravidade do assassinato de jovens negros e pobres na periferia em ações policiais, como aconteceu recentemente: foram cinco jovens mortos em seis dias em megaoperações policiais. Eram estudantes e uma mãe com sua filha no colo, mortos pelo discurso estúpido de que “é para atirar na cabecinha”, segundo o próprio Witzel.
Ações em maior número e mais letais
Em junho passado, durante visita a Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o governador disse que, “se estivesse em outros lugares do mundo, nós tínhamos autorização para mandar um míssil naquele local e explodir aquelas pessoas”. Cientista social e coordenadora do Observatório de Segurança, Sílvia Ramos diz que as operações policiais este ano estão mais frequentes, mais letais e mais assustadoras em relação ao ano passado.
“As operações cresceram 42%, e a letalidade dessas ações aumentou 46%. O Rio está repetindo o pior de suas políticas de segurança dos últimos 20 anos, com predominância dos tiroteios e confrontos. Governadores de triste memória para o Rio, Moreira (MDB) e Marcello Alencar (PSDB, morto em 2014), também disseram, no início de suas gestões, que com eles os criminosos não teriam vez. Adotaram as políticas do confronto e o Rio entrou na escalada da expansão das armas que conhecemos”, diz.
Segundo levantamento feito pelo site UOL, o número de registros de mortes de suspeitos em intervenções de agentes do estado vêm batendo sucessivos recordes. Na comparação do primeiro semestre deste ano com o mesmo período de 2018, o aumento foi de 14,6%.
É no detalhamento por área integrada, porém, que as estatísticas ganham um contorno mais alarmante.
É o caso da Aisp 14 (Bangu), que congrega outros nove bairros. A região registrou 76 mortes de suspeitos em ações da polícia no primeiro semestre, 60 a mais do que havia sido computado no mesmo período de 2018. Em Niterói, do outro lado da Baía de Guanabara, houve um salto de 24 vítimas fatais, entre janeiro e junho de 2018, para 73 no mesmo período deste ano.