O que seria o primeiro dia da gestão do Grupo Hospitalar Conceição no Hospital Federal de Bonsucesso, na verdade, não foi. Cerca de 100 servidores da unidade não deixaram representantes da empresa entrarem na unidade, na manhã e tarde desta terça-feira (15/10). A Polícia Federal esteve presente. No entanto, os servidores e servidoras não se intimidaram e houve votação unânime dos funcionários para que a gestão do Hospital de Bonsucesso não seja entregue ao grupo empresarial gaúcho.
O vereador Paulo Pinheiro, presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, disse que estava decepcionado com a postura do Governo Lula em conduzir a situação do Hospital Federal de Bonsucesso. “Tenho muitos anos de vida pública e de gestor público. Fui deputado, vereador. Estou aqui desde cedo. Nunca vi de um governo de esquerda um planejamento executado pela polícia. Ao invés de ser pensado e planejado. Se esse hospital está nessa situação, a culpa não é dos funcionários, que seguraram esse hospital na pandemia. O hospital foi destruído por várias gestões do Ministério da Saúde. Aqui sempre o couro comeu. Os funcionários se dedicaram sempre. Várias gestões tiraram recursos e os funcionários continuaram salvando vidas”, elogiou.
Paulo Pinheiro também lamentou a iniciativa do governo em entregar o hospital para um grupo empresarial do Rio Grande do Sul. “Absurdo trazer uma instituição fora do Rio de Janeiro para gerenciar o Hospital de Bonsucesso. Temos aqui a menos de três quilômetros uma instituição que é formadora de recursos humanos de gestores para o Brasil inteiro que é a Fiocruz. Por que trazer de fora? Fazer um contrato de 260 milhões de reais para fazer um diagnóstico que pode ser feito pelo próprio Ministério da Saúde. Não há razão para esse tipo de trabalho. Isso tudo foi mal conduzido. Resultado hoje é a vergonha que é isso aqui. O grupo Conceição tentando entrar aqui na hospital. Não conseguindo entrar por conta da resistência de funcionários, presença da Polícia Federal, uma série de pessoas e vários profissionais vindo de fora à toa, o que é inaceitável”, comentou o parlamentar, afirmando que tentará abrir diálogo para um possível acordo. “Todos os profissionais que estão aqui não concordam com esse tipo de conduta do Ministério da Saúde. Um grande erro do Ministério é esse fatiamento da rede. Começando muito mal pelo Hospital de Bonsucesso”, criticou.
Sidney Castro, dirigente do Sindsprev-RJ, chamou a atenção para a importância da presença do maior número de servidores na unidade para mostrar resistência contra a entrada do Grupo Conceição nos Hospital Federal de Bonsucesso. “O Sindsprev-RJ não tem lado de governo ou partido político. O nosso lado é em defesa da categoria e contra a entrega dos hospitais federais. A gente consegue entender o medo das pessoas. No momento, o importante é fazer com que nossos colegas tenham um entendimento, tenham consciência de estar na resistência. A gente não vai deixar de fazer essa resistência, seja administrativa ou terceirizada. A gente sabe da importância dos nossos valorosos companheiros. Fora rede Conceição. A gente não precisa de vocês. Ela está aqui para pegar o dinheiro e aplicar nos acordos políticos. Converso com os companheiros servidores e terceirizados para irem para a rede social para fazer campanha pela resistência”, sugeriu.
Cristiane Gerardo, dirigente do Sindsprev-RJ em Jacarepaguá, ressaltou que os profissionais de saúde reclamam das condições de trabalho e repudiam o fatiamento da rede federal de saúde. “Existe uma narrativa falaciosa de que a rede federal não funciona e não trabalha. Isso não é verdade. O governo federal, que era o gestor das unidades, não nos dá condições básicas de trabalho. Nosso orçamento não é reajustado há 10 anos. Nós temos um déficit profissional na ordem de mais de 8 mil profissionais”, afirmou.
Enfermeira do Hospital Federal de Bonsucesso e integrante do Comando de Greve, Roseane Vilela destacou que o governo tentou fazer com que a população acreditasse na incompetência dos servidores, trazendo um super-herói, que é o Grupo Conceição, para gerir o Hospital Federal de Bonsucesso. “A gente está para o tudo ou nada. Não aceitamos essa entrada de maneira obscura. Não houve transparência”, reclamou. A enfermeira acrescentou ainda como será a abertura da emergência, caso o hospital seja entregue ao grupo empresarial. “Eles vão encher a emergência de pacientes crônicos que é o que acontecia no passado. Esses pacientes crônicos serão internados nos leitos. Quem vai morrer? O paciente que está na frente esperando. O paciente que é atendido no ambulatório não terá oportunidade de entrar para ser atendido e tratado porque os leitos estarão ocupados por pacientes terminais. Eu não desmereço o paciente terminal, mas a gente precisa ter critério em relação ao controle dos leitos e isso não vai acontecer porque já vivemos isso há muito tempo. Vão abrir a emergência a qualquer custo porque eles precisam mostrar para a população que eles são os super-heróis, os capacitados em fazer uma boa gestão”, apontou.