Má fé, incompetência ou decisão política? A que se deve atribuir a quase total falta de cobertura jornalística da Campanha Nacional Unificada dos Servidores Públicos Federais, iniciada em fevereiro de 2023, com a entrega oficial ao governo da minuta de reivindicações? O caso no mínimo de omissão injustificada se torna ainda mais grave por se tratar da maior categoria de trabalhadores do Brasil: são mais de 1,2 milhão servidores.
Apesar de ser a maior campanha salarial do país e de um setor estratégico, salvo raras exceções, foi ignorada pela imprensa comercial. Este ‘descuido’ ficou evidente quando a mídia estampou em 2 de abril último com alarde e uma aparente surpresa, a informação de que a educação federal entraria em greve nacional a partir de 15 de abril.
Se os jornalões tivessem feito o dever de casa como mandam os manuais de jornalismo saberiam que a greve já havia começado na educação federal quando em 11 de março os servidores administrativos das universidades entraram em greve. A paralisação, no entanto, foi totalmente ignorada pela imprensa que só passou a tratar do assunto a partir da decisão da plenária nacional dos dirigentes das instituições federais de ensino (Ifes) do ANDES-Sindicato Nacional, em 22 de março, que aprovou indicativo de greve dos docentes das universidades federais, institutos federais e cefets para 15 de abril.
O calendário definido pelo Setor das Ifes decidiu pela realização de uma nova rodada de assembleias nas seções sindicais entre 26 de março e 9 de abril. O Setor orientou como pauta das assembleias: deflagração da greve no dia 15 de abril, criação dos comitês locais de mobilização e construção das pautas locais. Na sequência, ocorrerá uma outra reunião do Setor das Ifes no dia 10 de abril, com tempo de 72 horas para informar, governo e reitorias, sobre a deflagração de greve no dia 15 de abril.
Ignorância?
Outra constatação foi a de que poucos veículos de comunicação fizeram a ligação entre a greve da educação e a Campanha Nacional Unificada dos Servidores Públicos Federais. Ou que alertaram para o óbvio: este será o primeiro setor a entrar em greve, devendo vir logo em seguida os demais, caso o governo Lula continue a tratar com descaso as reivindicações da categoria, entregues em fevereiro do ano passado.
A verdade é que a mídia age em nome dos seus anunciantes, sendo os maiores o próprio governo federal; os bancos; petroleiras públicas, como a Petrobras, ou privadas; o agronegócio; e grandes redes de atacado; que em nada estão interessados na melhoria dos serviços públicos. Muito pelo contrário: quem precisa de um serviço público de qualidade é a população.
Mais do que isto, os grupos privados querem o fim da previdência pública, querem tomá-la para si; o mesmo em relação aos hospitais públicos; também querem ver desmontados os mecanismos públicos de fiscalização. Dar espaço para uma categoria que defende o fim do desmonte e a volta dos investimentos por parte do governo no setor não corresponde aos interesses da mídia.
Todos estes setores privados apoiam o Arcabouço Fiscal do governo que prevê cortes no custeio da máquina pública e de investimentos como parte do arrocho fiscal. O objetivo é economizar nas áreas sociais garantindo superávit no Orçamento da União para pagar a dívida pública com os bancos, única rubrica do orçamento que não sofre cortes.
Reivindicações
A mídia também não vem dando a devida visibilidade à contraproposta entregue em 31 de janeiro e que até hoje não teve resposta da parte do governo, através do Ministério da Gestão e Inovação no Serviço Público (MGI). Entre outras questões reivindica a reposição das perdas salariais de 2016 a 2023 em dois índices diferenciados – 34,32% e de 22,71%, a serem pagos em três anos: 2024, 2025 e 2026, corrigidas pelas estimativas de inflação – já que os reajustes garantidos pelo acordo da greve de 2015 não foram iguais para todos os setores, como mostra levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) a pedido das entidades nacionais dos servidores.