A secretaria de saúde do estado montou o que seria um verdadeiro esquema voltado para perseguir os servidores estatutários do Hospital Eduardo Rabello, em Campo Grande.
A unidade é especializada no atendimento a idosos. O caso foi objeto de denúncia ao Ministério Público e está sendo investigado também pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa (Alerj).
O assédio moral, prática covarde e ilegal, estaria sendo imposto através de desqualificações, gritos, xingamentos, ameaças dos mais variados tipos tendo chegado, no último domingo, segundo denúncias, ao uso da força para retirar da sala de atendimento técnicas de enfermagem que prestavam socorro a outras profissionais que passavam mal após terem sido maltratadas aos berros pelo diretor técnico do hospital, Joel Freitas de Castro, tido como principal assediador, e pelo diretor-geral, Helmer Cardoso de Matos. Além de assediador, Joel estaria praticando nepotismo, tendo a filha e a sogra trabalhando na unidade em cargos comissionados.
Outros três gestores integram o grupo, segundo informações, nomeados por indicação do deputado federal Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior (PP-RJ), ex-secretário estadual de saúde do Rio de Janeiro de 2016 a 2018, e ex-secretário de saúde de Nova Iguaçu, de 2013 a 2015. Um deles, Oscar Vinícius Menezes Neto, jamais poderia ocupar o cargo de chefe da Infraestrutura do Eduardo Rabello.
Menezes teria desviado insumos de hospitais públicos. Teria sido condenado, e, segundo denúncias, usaria tornozeleira eletrônica no hospital estadual. Outro integrante do grupo é Fábio do Vale, nomeado diretor administrativo do Eduardo Rabello. No que seria um comportamento ilegal estaria obrigando os servidores estatuários e os contratados da Fundação Estadual de Saúde, que também trabalham no hospital, a fornecer seus números de celular. A iniciativa é vista como forma de ter acesso aos funcionários inclusive fora do ambiente de trabalho, podendo ser considerada invasão de privacidade.
Máfia eleitoral
“Poderíamos dizer, pelas informações que temos, que um grupo se apossou da direção do Eduardo Rabello. Nele há até pessoas sem qualificação técnica. O objetivo deste grupo é impor o terror aos servidores estatutários para forçá-los, através do assédio a sair do hospital, pedindo demissão ou se aposentando”, afirmou a diretora do Sindsprev/RJ, Clara Fonseca.
A dirigente acrescentou que esta pressão deliberada teria finalidades econômicas e políticas. “Há fortes evidências de que as vagas seriam preenchidas por contratados de organizações sociais. Em troca dos contratos estas empresas privadas passariam a ser, entre outros possíveis favores financeiros, potenciais financiadores da campanha eleitoral deste ano. Além disto, seria formado um curral eleitoral, com os que entrassem, para trabalhar nas campanhas deste ano”, avaliou Clara Fonseca.
Denúncia ao Ministério Público
Os servidores estão passando por um clima de terror, causado pelo assédio sistemático e crescente. Vários deles estão adoecendo. Diversos profissionais tiveram que ser levados às pressas para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), com pressão alta, tendo que ser medicados.
O principal denunciado como assediador, Joel Freitas de Castro, é também chefe do Ambulatório, apesar de não ter qualificação para o cargo nem para ser diretor técnico, já que, segundo informações, ainda não se formou em Medicina. Pressiona e destrata os médicos. No último domingo, Joel e Helmer, dispensaram todos os médicos que estavam de plantão, e ficaram como únicos responsáveis pelos pacientes.
Outra informação a ser investigada é a ausência do diretor-geral, Helmer Cardoso. O médico, apesar da importância do cargo que ocupa, somente estaria presente no Eduardo Rabello à noite e nos fins de semana. O fato aconteceria porque o profissional trabalha numa clínica em Nova Iguaçu. No último domingo, segundo relatos, teria apoiado a agressão verbal de Joel sobre técnicas de enfermagem e a outras que foram prestar socorro a estas, sendo puxadas pelo braço por Joel.
“Todos estes casos gravíssimos foram denunciados para a apuração ao Ministério Público, para a deputada Enfermeira Rejane, da Comissão de Saúda de Assembleia Legislativa (Alerj), ao Sindicato dos Médicos e à própria secretaria estadual de saúde para o afastamento do grupo”, afirmou Clara Fonseca.
O hospital é o único em todo do estado voltado exclusivamente para o tratamento de idosos e passou por obras após uma luta dos servidores, no ano passado, ter impedido o seu fechamento, como queria o governador Claúdio Castro. Na volta ao funcionamento, o secretário de Saúde, Alexandre Chiepe, anunciou que a gestão passaria para a Fundação Saúde, como já ocorre em outras unidades que, ou submetida a empresas privadas travestidas de organizações sociais (OS).
A informação que se tinha era a de que a remoção para outras unidades dos que se negassem a ser subordinados à fundação, seria uma forma de pressionar os servidores a pedir demissão ou se aposentar. Os que aceitassem a pressão pela transferência, perderiam diversos direitos, tendo aumentada a jornada de trabalho e, ficando sujeitos ao assédio moral e a serem transferidos a qualquer momento, caso lutassem por seus direitos.