“Algo deve mudar para que tudo continue como está”. Pronunciada pelo pensador italiano Giuseppe di Lampedusa, esta frase é a que mais serve para definir a recente troca de “comando” no Ministério da Saúde, onde o general Eduardo Pazuello foi substituído pelo médico cardiologista Marcelo Queiroga.
Em declaração compartilhada na noite desta segunda-feira (15/7) no seu canal do Telegram, Bolsonaro afirmou que a missão do novo ministro será “manter tudo como está”. Ou seja: manter a vacinação a passo de tartaruga em todo o país; continuar combatendo as medidas de distanciamento; continuar debochando dos mais de 279 mil brasileiros que já perderam a vida por causa da covid; continuar atacando governadores, prefeitos e especialistas em saúde que alertam para a gravidade da doença. É isto o que Bolsonaro deseja. O mesmo Bolsonaro que, em postagem no Telegram, afirmou que Pazuello “fez um bom trabalho”. Será?
Em seus dez meses à frente do Ministério da Saúde, Pazuello cumpriu todas as absurdas “orientações” de Bolsonaro, começando pela recomendação do chamado ‘tratamento preventivo’ contra a covid. Primeiro, com o uso de cloroquina. Depois, com o uso de medicamentos como o antibiótico Azitromicina e o vermífugo Ivermectina. Tratamentos (todos eles) sem nenhuma eficácia comprovada cientificamente.
Enquanto centenas de países se antecipavam para a compra de vacinas para imunizar suas populações, o Brasil permanecia dormindo. E foi este comportamento absolutamente irresponsável do governo Bolsonaro levou o Brasil a estar, hoje, nos últimos lugares em ritmo de vacinação contra a covid. É bom lembrar que, no ritmo atual de imunização, toda a população brasileira só estará efetivamente vacinada no final de 2022. Tempo suficiente para que o coronavírus desenvolva novas e ainda mais agressivas mutações, provocando mortes que poderiam (sim) ser evitadas.
Lamentavelmente, a gestão Bolsonaro-Pazuello transformou o Ministério da Saúde no ‘Ministério da Doença’. Além de negligenciar suas funções de coordenação nacional de combate à pandemia, o ministério aprofundou o desmonte das unidades da rede federal de saúde, ao demitir 3.650 profissionais contratados que faziam o atendimento de pacientes de covid e de outras patologias.
Especialistas e pesquisadores em saúde de todo o país alertam que, se a atual política do governo não for completamente modificada, o Brasil poderá chegar em breve à inacreditável marca de 500 mil mortes de covid, consolidando uma triste posição de centro mundial da pandemia. Exemplo de tudo o que não se deve fazer para combater a disseminação do coronavírus.