Dia 5 de junho, seis meses após a última reunião com a secretária de Saúde de Niterói, Ilza Fellows, o diretor do Sindsprev Regional de Niterói Sebastião de Souza (Tão) e dirigentes da Associação de Servidores da Saúde de Niterói foram cobrar transparência e agilidade quanto às reivindicações dos servidores municipais da saúde. A maior expectativa dos servidores gira em torno da Tabela Salarial, que proporcionará um salário mais digno aos profissionais. A secretária informou que a tabela está em análise na Secretaria de Planejamento, Modernização da Gestão e Controle de Niterói (Seplag).
A atual gestão municipal tem dialogado com os servidores e entidades sindicais sobre os problemas que afetam o serviço público e que atingem diretamente o atendimento à população, mas a demora em resolver gera insatisfação. Vale lembrar que a Tabela Salarial foi aprovada, pela primeira vez, em 2008.
Em Niterói, os servidores enfrentam desafios diários, desde a sobrecarga de trabalho por conta da falta de profissionais — como médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem — até a falta de estrutura adequada nas unidades de saúde. A luta por condições dignas de trabalho, pela valorização salarial, concurso público, fortalecimento do SUS e contra a privatização da saúde é diária.
“Nossa preocupação, como sindicato, não é tratar somente a parte economicista. Nossa avaliação de militância da saúde defende que não adianta a pessoa ganhar um salário que sabemos que não será de 14 ou 15 mil e não poder pagar um plano de saúde e ter que procurar a rede. Tivemos discussão sobre plano de cargos e salários. O secretário de Planejamento nunca tem vontade política para resolver. Isso porque o prefeito Rodrigo Neves sinalizou que este ano será o ano da saúde. Disse que até o primeiro semestre estaria tudo encaminhado. Não está”, lamentou.
O dirigente lembrou de nove médicos que ganharam no Supremo Tribunal Federal (STF) o direito à inclusão de gratificações ao salário, o que elevaria o pagamento para cerca de R$ 14 ou 15 mil reais.
“Isso causou mal-estar dentro da categoria porque os demais continuariam ganhando R$ 4 mil, o que é muito desproporcional. Pedimos para a secretária acompanhar de perto este processo. Precisamos saber o que está faltando. Niterói tem dinheiro. O que falta nesse momento é a questão política. Amarrar a secretaria de Saúde com a de Planejamento e levar esta tabela para o Rodrigo sancionar. Ele sancionando, a Câmara aprova porque a maioria apoia o prefeito. Só tem seis vereadores da oposição. Hoje, nem 1% dos servidores tem plano de saúde”, lamentou.
Sebastião de Souza (Tão) lembrou ainda que a situação da saúde é preocupante também no atendimento à população.
“O Hospital Carlos Tortellly continua muito deficiente porque tem a porta de entrada e não tem a porta de saída. Porta de saída são exames de alta complexidade (exame médico que utiliza tecnologia avançada, mão de obra especializada e equipamentos de última geração para diagnosticar e tratar doenças). Estes exames envolvem procedimentos mais complexos, como a ressonância magnética e o cateterismo cardíaco. Niterói só tem um aparelho de tomografia. Procuramos saber como está o diálogo dela com a Secretaria Estadual de Saúde porque essas cirurgias de alta complexidade são de responsabilidade do estado. Ela não soube responder”, comentou.
No Rio de Janeiro, os exames de alta complexidade são, em geral, de responsabilidade do Estado, que é o responsável primário por fornecer procedimentos de alta complexidade, como cirurgias cardíacas, neurocirurgias e tratamentos de câncer, entre outros. Já o município tem a responsabilidade de atuar em apoio ao estado para garantir o acesso a esses procedimentos.
“Lembrei para ela da nossa primeira reunião, quando todos saímos otimistas porque ela foi clara. Ela falou: estou aqui, sou da rede privada, nunca gerenciei nada público, mas vim para fazer algo. Se não fizer, eu saio. Eu lembrei isso: secretária, em 150 dias de governo, nada mudou”, frisou.
O dirigente fez também um pedido especial:
“Pedi para ela fazer levantamento de uma verba de R$ 50 milhões do Ministério da Saúde que entrou na gestão da Anamaria Schneider, ex secretária de saúde. Esse dinheiro era para atender aos exames de alta complexidade. Dentro do protocolo, um infartado tem que fazer o cateterismo em 48h. Se não fizer, ele começa a ficar sequelado. Se ele não puder trabalhar, vai ter que entrar na fila do INSS e nem sabe se vai ter o benefício”, enfatizou.
Outro problema apontado pelo dirigente está no Médicos de Família, administrado pela FeSaúde. Segundo Sebastião de Souza (Tão), os usuários demoram até três meses para conseguir uma consulta clínica.
“Com isso, as pessoas são obrigadas a procurar o Carlos Tortelly, o Mário Monteiro e o Largo da Batalha, que ficam superlotados. As Unidades Básicas de Saúde [UBS] também estão demorando muito para marcar consulta. Muitas vezes, a especialidade não tem nas unidades básicas e o paciente é encaminhado, entra na fila da consulta especializada e leva dois, três meses e até um ano para ser atendido em determinada especialidade. Por isso, a saúde está um verdadeiro caos por conta do não atendimento na periferia. Estou me referindo ao Médico de Família e às unidades básicas”, criticou.
Ele lembrou da Maternidade Municipal Alzira Reis, inaugurada em maio de 2025, no bairro de Charitas.
“A maternidade não tem banco de sangue, não tem serviço de esterilização, de lavanderia e de alimentação. Para lavar roupa tem que ser no Hospital Orêncio de Freitas, que fica no Barreto. Para fazer esterilização e lavar roupa, tem que ser fora da unidade. A comida vem de outra unidade. Várias coisas não estão prontas. Imagina se chegam cinco partos para fazer. Não estamos querendo romper porque existe um diálogo em negociação com o Sindsprev Regional de Niterói e os companheiros da Associação dos Servidores da Saúde de Niterói. Nossa bandeira não se resume só à questão financeira. Queremos uma saúde digna para todos e isso envolve valorização profissional e o fim da precarização”, analisou Sebastião de Souza.