Os servidores do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), em assembleia nesta quinta-feira (6/6), no auditório do prédio da Maternidade, rejeitaram a proposta rebaixada e com erros graves apresentada em mesa específica da saúde às entidades nacionais, entre elas a Federação Nacional (Fenasps), pelo Ministério da Gestão e Inovação no Serviço Público (MGI). A assembleia havia sido marcada por dirigentes do Sindicato dos Enfermeiros e Sindicato dos Auxiliares e Técnicos, para as 10 horas, tendo como objetivo aprovar a mesma proposta e pôr fim à greve da saúde federal.
A assembleia foi marcada sem que o Sindsprev/RJ fosse avisado, mesmo estando à frente da greve contra a divisão e privatização da rede federal de hospitais, iniciada em 15 de maio. Com a rejeição, os sindicatos que apoiam o governo federal convocaram uma nova assembleia, com poucos servidores, para uma pequena sala de reuniões, no segundo andar do prédio onde funciona a diretoria do HFB. O objetivo seria fazer uma nova votação para aprovar a mesma proposta, mas ela acabou também sendo rejeitada, como aconteceu na anterior.
Os diretores do Sindsprev/RJ Sidney Castro e Christiane Gerardo condenaram o jogo feito pelos sindicatos de categorias contra a greve. “Estes sindicatos estão traindo os servidores e apoiando o governo, ao agirem nas sombras tentando aprovar uma proposta rebaixada e com erros graves, já admitidos pelas entidades nacionais (Fenasps e CNTSS), que a tornam ainda mais prejudicial aos profissionais da rede federal de saúde. O Sindsprev/RJ está aqui para impedir que esta traição aconteça”, afirmou Christiane, na assembleia.
Esquema sindical governista – Assembleias semelhantes e também convocadas por estes sindicatos estão acontecendo em outras unidades, sem o conhecimento do Sindsprev/RJ e dos comandos de greve. Na Lagoa, uma reunião sem a participação do Sindsprev/RJ e com apenas 15 servidores aprovou a proposta. A partir da descoberta do esquema governista, o Sindsprev/RJ, juntamente com os comandos de greve, passou a convocar assembleias para rejeitar a proposta, o que aconteceu no Cardoso Fontes, Andaraí, Servidores e, nesta quinta-feira (6/6), em Bonsucesso.
Sidney Castro denunciou que diretores do Sindicato dos Enfermeiros, do Sindicato dos Médicos e do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos têm ligações com o governo, tendo, vários deles, sido assessores do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH). Entre estes estariam a enfermeira Mônica Armada e os médicos Jorge Darze e Júlio Noronha. “É estranho ver todas estas pessoas convocando assembleias, em meio à greve, para aprovar uma proposta rebaixada e com erros. Ou estão com o governo ou com os trabalhadores”, afirmou.
Passeata para a Av. Brasil – Pouco antes da votação, foram detalhados os erros do governo na proposta de mudanças na tabela salarial da saúde. Entre eles, o MGI mentiu ao dizer que passaria a carreira de 17 para 20 níveis, pois a carreira já tem 20 níveis. Outro ‘erro’ apontado é que as diferenças entre os níveis não tiveram o reajuste de 1%, como anunciou o MGI, mas percentuais sempre inferiores, tanto nos níveis intermediários quanto nos superiores.
Logo após a assembleia, os servidores do HFB participaram de um ato em unificado em frente ao hospital, ao qual estiveram presentes profissionais de saúde de toda a rede. Também participaram da manifestação servidores da educação federal em greve, entre eles os do Hospital Universitário Antônio Pedro.
Em seguida ao ato, os servidores fizeram uma passeata que paralisou parcialmente as pistas da Avenida Brasil. O protesto causou um grande engarrafamento, chamando a atenção da população para a tentativa do governo de privatizar a rede, ao invés de cumprir as promessas de campanha feitas pelo então candidato Lula, de investir na rede federal, realizar concurso público para melhorar as condições de trabalho e atendimento à população e valorizar os servidores.
Lula quer privatizar a saúde federal – Ao invés disto, o governo Lula está impondo um projeto que prevê o desmembramento do complexo hospitalar federal, entregando cada unidade para um gestor diferente, estando entre estes a Prefeitura do Rio, o governo do estado, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e os grupos privados Nossa Senhora da Conceição e Hospital Alemão.
Organizações sociais – Como parte deste projeto, numa segunda etapa, as unidades federais seriam entregues separadamente para organizações sociais (O.S.), como fizeram o governo do estado com toda a sua rede e a Prefeitura do Rio de Janeiro. Para implementar este plano, a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, nomeou para comandar o DGH a ex-subsecretária municipal de saúde de Eduardo Paes, Tereza Navarro, que, juntamente com o secretário Daniel Soranz, privatizou toda a rede municipal de saúde, passando-a para a gestão das O.S.
Greve continua forte – Para impedir o fatiamento e a posterior privatização da rede, os profissionais da saúde federal, após fracassarem as negociações para evitar a entrega das unidades, decidiram entrar em greve em 15 de maio, por tempo indeterminado.
Estão também entre as reivindicações da greve o fim do sucateamento das unidades federais de saúde; a transferência dos servidores para a carreira da Ciência e Tecnologia; concurso público; cumprimento do acordo de greve de 2023; pagamento do adicional de insalubridade em grau máximo e do piso da enfermagem em valores integrais; prorrogação de todos os Contratos Temporários da União (CTUs) até a realização de público; e reajuste linear em índice que recomponha o efetivo poder de compra dos salários.