Servidores da rede federal de saúde do Rio bloquearam, na manhã desta terça-feira (15/10), a tentativa do Ministério da Saúde de entregar a gestão do Hospital de Bonsucesso (HFB) ao Grupo Hospitalar Conceição (GHC). Postados desde as 6h da manhã em frente à entrada principal do HFB — onde abriram uma grande faixa com a frase ‘não ao fatiamento’ —, os servidores impediram a entrada do corpo administrativo do Grupo Conceição, que estava sendo conduzido por uma viatura da Polícia Federal. Num dos carros da ‘comitiva administrativa do GHC’ estavam a nova diretora-geral do Hospital de Bonsucesso, Teresa Navarro, e o Secretário Adjunto de Atenção Especializada à Saúde (SAES), Nilton Pereira Junior, que travaram bate-boca com os servidores, sendo em chamados de “vendidos” pelos trabalhadores.
Até o fechamento desta postagem, uma proposta de “acordo” estava sendo construída entre o Comando de Greve da Rede Federal e o Ministério da Saúde, prevendo uma negociação, às 11h desta quarta (16/10), no DGH, sobre os pontos do acordo de greve de 2023 até hoje não cumpridos pelo governo.
Uma assembleia realizada pelos servidores da rede federal em frente à entrada do HFB aprovou três deliberações básicas: que apenas o Sindsprev/RJ está autorizado a falar em nome dos trabalhadores em greve; que os servidores continuarão em vigília permanente, na entrada do HFB, para evitar a entrada do Grupo Conceição; e que o Comando de Greve participe da negociação com o Ministério da Saúde, na quarta (16), se o governo confirmar a negociação.
Após a primeira tentativa frustrada de furar o bloquei imposto pelos servidores na entrada do HFB, tanto Nilton Pereira quanto Teresa Navarro e os representantes do Grupo Conceição postaram do outro lado da rua, na esperança de que os trabalhadores esmorecessem. Enquanto isto acontecia, os gestores eram “brindados” com as palavras de ordem gritadas pelos servidores desde o início da greve da rede federal: “o SUS é nosso, ninguém tira da gente, direito garantido não se compra nem se vende” ou “Fora Navarro, fora daqui”.
“Quem é o ilegal e que merecia ser intimado é o Ministério da Saúde. Vemos a Advocacia-Geral da União [AGU] atuar com a mão forte do Estado contra nós, servidores, mas é mansa como cordeirinho na hora de apontar as ilegalidades da política praticada pelo atual governo. Nós queremos acreditar que a Justiça neste país existe inclusive para garantir os preceitos constitucionais e a lei orgânica do SUS. Mas o fato é que estão desmontando o Hospital de Bonsucesso para entregar a unidade para o Grupo Conceição, numa processo autoritário e sem qualquer diálogo com os servidores e as instâncias do controle social. Não aceitaremos. Fora Grupo Conceição”, afirmou Cristiane Gerardo, dirigente do Sindsprev/RJ em Jacarepaguá.
“A população do Rio tem dificuldade de fazer tomografia e ressonância. Mesmo assim, o Ministério da Saúde usou R$ 28 milhões de verbas do Hospital de Bonsucesso para promover atendimentos no Rio Grande do Sul, deixando a população carioca sem assistência. Na verdade, o Ministério e o Grupo Conceição não estão preocupados em atender a população ou resolver os problemas da saúde pública. Falam em reabrir a emergência do Hospital de Bonsucesso, mas não tem estrutura para isto. Precisamos defender este hospital e as demais unidades da rede federal”, pontuou Sidney Castro, da direção do Sindsprev/RJ.
Lotada no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), Roberta Vitorino manifestou seu apoio aos trabalhadores do HFB. “Seremos resistência, fora Grupo Conceição e fora fatiamento. Somos profissionais muito capacitados para gerir as melhores práticas de assistência nos nossos hospitais. Seremos resistência em todas as unidades federais. Juntos vamos lutar e vencer”, disse.
“O Ministério da Saúde e o Grupo Conceição achavam que ia ser fácil chegar aqui e entrar. Mas aí houve a grande surpresa, com os servidores presentes aqui, para resistir. A rede federal nunca esteve tão unida e por isto o Grupo Conceição não vai entrar aqui. Não adianta chamarem a repressão. Não vamos deixar. Esta casa tem dono, e o dono desta casa é a população”, frisou Roseane Vilela, servidores do HFB.
“A luta não é do HFB, mas de todos. É de toda a rede federal. O Ministério da Saúde fala em reabrir a emergência do HFB, com que condições? Expresso aqui meu apoio à luta contra a entrada do Grupo Conceição. Não é porque eu sou lotada no Hospital Cardoso Fontes que eu vou dar as costas para vocês. Fora Grupo Conceição”, afirmou a servidora Simone Santana.
“É uma vergonha o governo Lula chamar a repressão contra os trabalhadores. Vamos derrubar sim o Grupo Coneição. Aqui estão bilhões de reais em jogo, e Nísia Trindade não tem moral alguma de fazer o que está fazendo. Vamos ficar e resistir. Fora Nísia, que veio para privatizar”, resumiu Sebastião José de Souza (Tão), dirigente do Sindsprev/RJ.