‘O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta’, de Ariano Suassuna (1927-2014). Uma das mais profícuas, completas e criativas obras literárias já escritas em língua portuguesa e definida por Rachel de Queiroz como romance a um só tempo ‘épico, lírico, memorial, poema e folhetim’, a Pedra do Reino traduz imagens e figuras de rara beleza, conjugando a inigualável prosa de mestre Suassuna com o verso e o cordel dos cantadores e noveleiros do sertão nordestino.
Narrada pelo personagem Dom Pedro Dinis Ferreira Quaderna, preso em Taperoá por subversão, a história é inspirada em episódio ocorrido no século XIX, no município sertanejo de São José do Belmonte, a 470 quilômetros do Recife, onde uma seita, em 1836, tentou fazer ressurgir o rei Dom Sebastião — transformado em lenda em Portugal após ter desaparecido na África durante a Batalha de Alcácer-Quibir.
Na história, Quaderna declara-se ‘descendente de legítimos reis brasileiros’, castanhos e “cabras” da Pedra do Reino — sem relação com os “imperadores estrangeiros e falsificados da Casa de Bragança” — e conta o seu envolvimento com as lutas e desavenças políticas, literárias e filosóficas no seu ‘reino’ imaginário. Lutas que, no contexto da narrativa feita por Dinis Quaderna (o ano de 1938), expressavam também as polêmicas da época envolvendo diferentes concepções de mundo em choque nos anos 30, como liberalismo, integralismo e comunismo.
Quando de seu lançamento, em 1971, o livro foi considerado um marco da literatura nordestina, dando assim continuidade ao chamado ‘ciclo do romance regional’ da década de 1930, tendência inaugurada por José Américo de Almeida, com ‘A Bagaceira’ (1928), e por Raquel de Queiroz, com ‘O Quinze’ (1930), entre outras obras de referência que, futuramente, influenciariam até mesmo a literatura de um escritor como Jorge Amado (1912-2001), em sua famosa e já clássica trilogia composta por ‘Terras do Sem-Fim’ (1943), ‘São Jorge dos Ilhéus’ (1944) e ‘Gabriela, Cravo e Canela’ (1958).
‘Romance da Pedra do Reino’ foi adaptado para o cinema, o teatro e a televisão.
É leitura obrigatória para todos os que querem realmente conhecer uma das maiores obras de nossa literatura e que até hoje ainda não recebeu a merecida atenção de crítica e público no Brasil.