Neste momento grave da pandemia do novo coronarírus, a insistência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em pôr fim ao isolamento social, bem como seu apoio e participação em protestos contra a democracia, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), levam a população a uma situação de maior insegurança. Márcia Modesto, psicóloga e psicanalista, avalia que este comportamento acaba gerando mais medo e sensação de desamparo, já que se esperava que Bolsonaro liderasse e unificasse o país no combate à disseminação da doença.
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Segundo a profissional, a falta de definição sobre como agir, principalmente em relação à pandemia, tem gerado muita angústia, fato constatado no atendimento on line a seus pacientes. “São muitas contradições o que, obviamente, adoece as pessoas, criando um caos emocional”, argumenta. Acrescenta que as posições externadas pelo presidente podem ter contribuído para o relaxamento e baixa adesão ao isolamento social, por parte da população, verificados em quase todos os estados, tendo como consequência a disparada dos casos de contaminação e morte pela Covid-19.
Sindsprev/RJ – O presidente Jair Bolsonaro tem dado mostras de um comportamento descontrolado, às vezes, fora da realidade, como na negação sistemática da pandemia do coronavírus, defendendo a volta ao trabalho, o fim do isolamento social e, mesmo, atacando instituições como o parlamento e o STF, gerando aumento da instabilidade política num momento em que se precisa de unidade para combater essa doença que pode ser fatal. Na sua avaliação, do ponto-de-vista psicológico, como este comportamento impacta na saúde mental da população?
Márcia Modesto – Neste momento de pandemia, as pessoas, neste processo global que estamos vivendo, de mudanças absolutas da rotina, de mudanças das expectativas e dos planos, e com este caos político, com todas as intervenções que vêm sendo feitas pelo presidente – comentários e ações – acabam gerando mais medo, mais insegurança e uma sensação de total desamparo.
Sindsprev/RJ – Este medo e insegurança podem ser somatizados e fragilizar a saúde das pessoas?
Márcia – Com certeza, esse medo e essa insegurança que a população está vivendo, sem ter muito um rumo definido de como deve agir, tem gerado muita angústia nas pessoas.
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Eu continuo atendendo os pacientes on line e, todos, independentemente de estarem em uma posição política favorável ao governo, ou não, ficam ansiosos com estas oscilações políticas e com essas oscilações do comando de como agir durante essa pandemia, o que tem assustado muito as pessoas. As pessoas estão tendo muita insônia, outras, muita dor de cabeça, outras iniciando um processo depressivo, muito desanimadas, muito assustadas. Você pode me perguntar: mas não é por causa do isolamento? Sim, também. Só que nós estamos num momento de isolamento em que, a princípio, não se vê como isso vai caminhar daqui para a frente. E são muitas contradições que, obviamente, adoecem as pessoas, que somatizam, e vai-se criando um caos emocional.
Sindsprev/RJ – Esta insegurança tem, em parte, se traduzido, também, na negação do perigo iminente do contágio, com o desrespeito ao isolamento por parte da população na maioria dos estados do país. Como se explica esta reação?
Márcia – Muitas pessoas, numa situação de medo, angústia e ansiedade, desenvolvem comportamentos reativos. Este comportamento tem o caráter de proteção, embora esteja desprotegendo aquela pessoa. A pessoa reage àquela situação porque também está assustada, também está com medo, insegura, e reage dizendo: ‘não, isso não é nada, isso não mata ninguém, se morrer é porque era pra morrer mesmo, isso é uma coisa muito simples, não precisa disso tudo’. É uma negação, porque é uma reação também ao próprio medo e à própria insegurança.
Sindsprev/RJ – Países em que os governantes foram líderes no combate à pandemia do novo coronavírus, como a Alemanha, de Ângela Merckel, e a vizinha Argentina, de Alberto Fernández, conseguiram controlar a disseminação do Covid-19. O comportamento oposto do presidente brasileiro pode ter levado parte da população a relaxar o isolamento social?
Márcia – Esse relaxamento do isolamento social pode sim, em grande parte, ter sofrido a influência das determinações do atual presidente da República que deveria ter um papel de liderança, de trazer mais conforto, mais apoio. Nossa estrutura psíquica é formada com as leis que nosso pai, independentemente de ter um pai físico, ou não, mas daquele que tem o papel de nos ensinar, de nos dar os limites, de nos colocar no mundo para viver em sociedade, esse pai é o que nos mostra o caminho. Se esse ‘pai’, entre aspas, que está na liderança, que é o presidente do país, nos diz: ‘não há perigo nenhum’, eu não tenho porque me isolar, se esta pessoa, em quem eu confio, me diz isso. Aí estão envolvidas muitas questões: emocionais, questões políticas, questões de maturidade pessoal e individual, porque eu preciso ser maduro para discernir o que é bom para mim, ou não. Nós não podemos descartar a questão da nossa maturidade como povo. Será que o brasileiro tem uma maturidade emocional suficiente para lidar com um momento caótico como esse que nós nunca tivemos, nunca experimentamos antes? Termino com esta pergunta: nós somos um povo maduro?
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*Márcia Modesto é psicóloga, psicanalista, especialista em terapia familiar sistêmica e escritora. Atua há 40 anos em clínica com atendimento individual, a grupos, casais, famílias, crianças, adolescentes e idosos. É autora do livro ‘Reflexões e experiências entre quatro paredes’ e participou como coautora do livro ‘Mulheres Antes e Depois dos 50’. Foi consultora da Revista Pais e Filhos por 15 anos e, por mais de 10 anos, participou do Programa Sem Censura da TV Brasil, abordando temas de saúde e comportamento.