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terça-feira, dezembro 3, 2024
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Protesto no TJ exige Justiça para Claudia Ferreira e outras vítimas do Estado brasileiro

Representantes da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia do Sindsprev/RJ, do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Quilombo Raça e Classe realizaram manifestação, na tarde de quinta-feira (18/4), para exigir justiça nos casos de Claudia Ferreira, Kathlen Romeu, Johnatha de Oliveira Lima e várias outras pessoas de cor negra vitimadas pelo Estado brasileiro durante incursões policiais. Ocorrida em frente ao prédio do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) — na Av. Pres. Antônio Carlos, Centro —, a manifestação questionou os resultados de julgamentos que absolveram ou não condenaram por homicídio doloso os policiais envolvidos nas ações que provocaram as mortes de Claudia Ferreira, Kathlen e Johnatha.

O caso de Claudia Ferreira foi o mais recente alvo dos protestos porque, em março deste ano, o juiz Alexandre Abrahão Teixeira, do 3º Tribunal do Júri, inocentou seis policiais militares acusados de matar e arrastar o corpo dela em um carro da corporação. Todos os PMs respondiam na Justiça por homicídio e por remover o corpo da auxiliar de serviços. O caso ocorreu no bairro de Madureira, em 2014, quando Claudia Ferreira foi atingida por tiros disparados pela PM, nas proximidades de sua residência. A pretexto de “socorrê-la”, os policiais jogaram Claudia no porta-malas de uma viatura e saíram em disparada. Durante o trajeto, o bagageiro se abriu, e Claudia foi arrastada pelo asfalto. A viatura ainda circulou em alta velocidade por quase 400 metros. Quando os PMs chegaram com Claudia ao Hospital Estadual Carlos Chagas (Marechal Hermes), a vítima já estava morta. Claudia tinha 38 anos de idade, era negra e mãe de 4 filhos.

“Estamos aqui para exigir justiça. Nosso povo está sendo abatido pelo Estado brasileiro, um Estado que infelizmente absolve os acusados pela morte de Claudia Ferreira e de outras vítimas. Mesmo com todas as provas apresentadas contra os policiais, eles foram absolvidos, o que é inaceitável. Nós do MNU e do Sindsprev/RJ continuaremos na luta por Justiça, e é por isto que estamos aqui, em frente ao tribunal, onde atuam juízes e advogados”, afirmou Lennyr Claudino (Leninha), dirigente da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia do Sindsprev/RJ.

“Não é possível considerar normal que seres humanos continuam perdendo a vida nessas situações. Estamos aqui, em frente ao Tribunal de Justiça, porque é aqui que temos de reivindicar. É aqui que têm ocorrido muitas injustiças. Não ao racismo, sim à vida”, frisou a vereador Mônica Cunha (PSOL-RJ).

Para reforçar o protesto, os manifestantes abriram faixas pedindo justiça e colocaram no chão alguns cartazes com nomes de vítimas de incursões policiais em favelas e comunidades do Rio.

“Para o Estado brasileiro, nós, negros, somos tidos como inimigos. Isto acontece porque o projeto de nação vigente no Brasil é um projeto elitista e excludente, um projeto para pessoas brancas. Por isso que os agentes do Estado nos matam e agem como na época da escravidão. E é por isso que também exigimos reparação do Estado brasileiro”, completou Osvaldo Mendes, também dirigente da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia do Sindsprev/RJ.

Representando o Quilombo Raça e Classe, Júlio Condaque reforçou as críticas à absolvição de policiais em casos que resultaram na morte de pessoas negras. “Nós também abraçamos a causa por justiça. Claudia Ferreira foi arrastada num camburão porque os policiais queriam ocultar o cadáver dela. O que aconteceu com Claudia é o que acontece sempre em favelas e comunidades carentes, onde os policiais já chegam atirando, como também ocorreu no caso de Johnatha. O racismo estatal é muito grande no Brasil. E a prova é o caso Marielle Franco, que demorou 6 anos até que os irmãos Brazão fossem presos”, disse.

Conselheira Tutelar, Patrícia Félix criticou a situação brasileira no tocante aos direitos humanos. “Para quem ainda não se deu conta, o Brasil é o país que mais mata defensores de direitos humanos no mundo. Aqui pessoas negras e moradoras de favelas são constantemente assassinadas e não têm segurança alguma. Aqui a Justiça não é imparcial. Por isso é tão importante estarmos juntos e lutando contra o genocídio do povo preto. O Estado mata nossas famílias várias vezes porque o sistema é hipócrita e racista. É impossível concordarmos com a absolvição dos PMs que mataram Claudia e outras vítimas”, afirmou.

O caso da jovem Kathlen Romeu ocorreu em 2021. Moradora do Complexo do Lins, ela estava grávida e foi morta em julho daquele ano, durante incursão policial.

Quanto a Johnatha de Oliveira Lima, ele tinha 19 anos e foi morto com um tiro nas costas durante uma operação policial da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Manguinhos, em maio de 2014, quando voltava a pé para a casa da avó.

Segundo levantamento realizado pelo Instituto Fogo Cruzado, operações policiais provocaram 283 chacinas, de agosto de 2016 a julho de 2023, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Cerca de 1.137 civis (ou seja, não policiais) morreram nessas ações.

O Instituto Fogo Cruzado considera chacinas os episódios de violência em que há três ou mais mortos. Quando isso ocorre durante operações da polícia, são chamadas de chacinas policiais.

De acordo com o levantamento, a região do Grande Rio com maior número de chacinas e mortes é a zona norte da cidade do Rio de Janeiro, com 73 ações que resultaram em 373 mortes. Em seguida, aparecem a Baixada Fluminense (com 72 casos e 255 mortos) e Leste Metropolitano (com 70 casos e 252 mortes).

 

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