A prisão preventiva de Fabrício José Carlos de Queiroz no último dia 18 pela Polícia Civil de São Paulo, por determinação do juiz Flávio Itabaiana Nicolau, do Rio de Janeiro, caiu como uma bomba no colo de Jair Messias Bolsonaro (sem partido). Amigo de longa data do presidente e de sua família, o policial militar reformado é peça-chave do inquérito instaurado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP/RJ) para investigar a existência de uma organização criminosa chefiada pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) quando era deputado estadual tendo como operador o próprio Queiroz e negócios com a milícia do Rio de Janeiro.
Jair Bolsonaro enfrenta, ainda, o inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal que apura a difusão de notícias falsas e investiga empresários, ativistas e políticos aliados do presidente. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados investiga o mesmo caso.
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Também tramita no STF um inquérito para apurar a interferência do presidente na polícia federal para proteger a família e outro para investigar o financiamento e a organização de protestos populares antidemocráticos, que pedem o fechamento do Congresso e do Supremo e, segundo faixas de alguns manifestantes, um “golpe (das Forças Armadas) com Bolsonaro no poder”. No âmbito desse inquérito, já foram quebrados os sigilos bancários de dez deputados federais e um senador aliados de Bolsonaro.
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Também há ações tramitando contra Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pedindo a cassação de sua chapa ao lado do vice Hamilton Mourão, vitoriosa na eleição presidencial de 2018.
Organização criminosa
Caso se confirmem as acusações feitas no inquérito pelo MP/RJ, não apenas o senador Flávio Bolsonaro poderá perder o mandato e ser preso, como ainda, dependendo do desenrolar das investigações, também ser atingido em cheio o mandato do presidente da República. A prisão de Queiroz – ainda mais nas circunstâncias em que se deu, escondido que estava há mais de um ano na casa em Atibaia (SP) do advogado de defesa de Flávio Bolsonaro no caso da ‘rachadinha’ e amigo pessoal de Jair Bolsonaro e de sua família, Frederick Wassef – pode ser o início do fim do governo Bolsonaro.
Ainda mais porque a cada passo a investigação feita pelos procuradores do MP/RJ para encontrar os responsáveis pela ‘rachadinha’ no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro – objetivo inicial do inquérito – mostrava que o esquema de desvio de dinheiro do salário dos funcionários, inicialmente depositado na conta de Queiroz, era apenas a ponta de um iceberg de crimes que envolveriam a família Bolsonaro e amigos. Era como puxar a linha de um novelo.
Os procuradores acabaram por descobrir uma suposta organização criminosa chefiada pelo hoje senador Flávio, na qual Queiroz tinha papel central como operador. Este grande esquema teria, segundo o MP/RJ, uma intensa ramificação de negócios, entre os quais a construção e venda de imóveis, lavagem de dinheiro e transações com a milícia do estado do Rio de Janeiro.
Ligação com miliciano
O ex-policial e ex-assessor do filho zero um do presidente movimentou quase R$ 3 milhões em sua conta entre abril de 2007 e 17 de dezembro de 2018 e pagou dezenas de boletos pelo chefe, segundo o inquérito do MP citado pelo juiz Itabaiana. Além de homem forte do gabinete, o inquérito reforça ainda mais o elo de Queiroz e da família Bolsonaro com Adriano Magalhães da Nóbrega, o ex-capitão do Bope que liderava o grupo miliciano Escritório do Crime, suspeito de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do seu motorista Anderson Gomes. Adriano estava foragido e foi morto em uma operação policial em fevereiro deste ano.
A ligação entre a família Bolsonaro e Adriano já era conhecida. Além de ter sido homenageado com a Medalha Tiradentes (entregue a ele enquanto estava preso do Batalhão Prisional da PM) pelo então deputado Flávio Bolsonaro, por orientação de seu pai Jair Bolsonaro, entre os assessores de seu gabinete estavam Danielle Mendonça da Costa e Raimunda Veras Magalhães, ex-esposa e mãe, respectivamente, de Adriano. O inquérito do MP mostra que tanto Raimunda quanto o miliciano participaram do suposto esquema criminoso e fizeram vários depósitos nas contas de Queiroz. Estima-se que somente Adriano possa ter transferido mais de R$ 400 mil para o ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
O envolvimento de Queiroz com milicianos, no entanto, não se limitava a esses vínculos empregatícios.
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Segundo o inquérito, até o final do ano passado, às vésperas de o STF destravar as investigações sobre o esquema, Queiroz orientava Raimunda a permanecer escondida fora do Rio. Através dela, também seguia mantendo contato com o foragido Adriano. Em dezembro, Márcia Oliveira de Aguiar, esposa de Queiroz, e o advogado Gustavo Botto Maia, que representava Flávio Bolsonaro, foram até Minas Gerais e se reuniram pessoalmente com Raimunda. O encontro foi inclusive registrado em fotografia e consta no inquérito.
Negócios com a milícia
Em abril deste ano, o site de notícias The Intercept Brasil divulgou documentos e dados sigilosos do MP fluminense que apontam ter Flávio Bolsonaro financiado com dinheiro público a construção de prédios da milícia no Rio. De acordo com os investigadores, que falaram com The Intercept em condição de anonimato, o atual senador teria recebido o lucro do investimento dos prédios por meio de repasses feitos por Adriano da Nóbrega e Queiroz. O senador nega qualquer irregularidade e diz que as investigações são um ataque a seu pai.
Dos quase R$ 3 milhões movimentados por Queiroz em sua conta, mais de R$ 2 milhões vieram de centenas de transferências e depósitos em espécie feitos por ao menos 11 assessores fantasmas com quem o ex-policial tinha relação de parentesco, vizinhança ou amizade. O dinheiro era então repassado para Flávio Bolsonaro através de outros depósitos ou pagamento de despesas pessoais. O Ministério Público do Rio identificou mais de cem boletos de escola e plano de saúde pagos com dinheiro em espécie, além do depósito de R$ 25 mil na conta da esposa de Flávio, mesmo valor depositado na conta de Michele, mulher de Jair Bolsonaro.
Toda essa movimentação financeira, descoberta pelo Coaf e investigada pelo MP, gerou reportagens na imprensa que levaram Queiroz para o centro dos holofotes no final de 2018. Após ser submetido a uma cirurgia para a retirada de um câncer no hospital Albert Einstein, em janeiro de 2019, o faz-tudo da família Bolsonaro sumiu. Mas, durante o período em que ficou escondido, o ex-policial continuava dando ordens através de mensagens de celular e “atuava de forma sistemática para embaraçar as investigações”, segundo o MP. Por exemplo, orientava os envolvidos a não comparecer em depoimentos ou a assinar folhas de ponto em branco na Alerj.
Ao longo de todo esse tempo em que agia nos bastidores, o juiz Itabaiana aponta para uma “rotina de ocultação do paradeiro de Queiroz que envolvia restrições em sua movimentação e em suas comunicações”. Ele era monitorado por “uma terceira pessoa” que, por sua vez, se reportava a um superior hierárquico referido como “anjo”. Trata-se de Frederick Wasseff, advogado da família Bolsonaro que é dono do imóvel em Atibaia onde Queiroz foi encontrado.
*Com informações do site The Intercept Brasil, Jornal El País e BBC Brasil