A Polícia Federal foi à casa de Jair Bolsonaro, em Angra dos Reis, e apreendeu o celular de um de seus assessores, Tercio Arnaud Thomaz. Determinou também que o ex-presidente entregasse o passaporte. Como o documento não estava na residência, os policiais deram 24 horas para que ele o entregue.
Bolsonaro tentou se vitimizar. “Saí do governo há mais de um ano e sigo sofrendo uma perseguição implacável”, disse, por mensagem, à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. “Me esqueçam, já tem outro governando o país”, pediu o ex-presidente investigado como um dos principais articuladores da tentativa de golpe. Afirmou, por celular, que está ainda se ‘inteirando das buscas e apreensões’ e das prisões e que não poderia dar mais declarações.
O confisco do passaporte faz parte da Operação Tempus Veritatis, desencadeada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (8/2) para apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder.
Generais bolsonaristas na mira
São alvos de buscas, ainda, entre outros, o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil; General Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); General Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; General Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército; Almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante-geral da Marinha; Anderson Torres, delegado da PF e ex-ministro da Justiça; Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro; Tercio Arnoud Thomaz, ex-assessor de Bolsonaro, conhecido como um dos pilares do chamado “gabinete do ódio”. Ailton Barros, coronel reformado do Exército.
STF manda prender preventivamente
Foram presos, Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro; Marcelo Câmara, coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro citado no inquérito que apura os presentes recebidos pelo ex-presidente.
Há, ainda, outros dois mandados e prisão. As ordens foram expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que determinou que Bolsonaro entregue o passaporte e não fale com outros investigados.
A investigação tenta elucidar a participação dessas pessoas nas invasões e depredação dos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro.
Investigações se aprofundam
Estão sendo cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas. Policiais federais cumprem as medidas judiciais, expedidas pelo Supremo Tribunal Federal, nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.
Nesta fase, as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.
O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.
O segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.