O governo perdeu o controle sobre os preços, que dispararam, atingindo principalmente os mais pobres. O aumento da inflação gera um enorme desgaste, o que, somado à corrupção, à estagnação econômica, ao alto desemprego e às ações que fizeram aumentar de maneira expressiva o número de mortos pela covid-19, amplia ainda mais a crise que isola Bolsonaro.
A alta dos preços fez surgir a campanha nacional #Bolsocaro. Vídeo postado nas redes sociais chama a atenção para o descontrole dos preços causado pela política econômica que, ao mesmo tempo, fez aumentar o lucro dos bancos, grandes empresas e da bolsa de valores.
Em 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou alta de 8,35%. Com o resultado, a inflação está muito acima do teto da meta estabelecida para o ano, que é de 3,75%, podendo variar entre 2,2% e 5,25%.
A situação tende a se agravar porque, pela política de metas, para conter a alta de preços, o único remédio previsto, o aumento da taxa básica de juros, a Selic, além de não ter qualquer efeito sobre a inflação — que é gerada pela desvalorização do real incentivada pela política econômica, e não por excesso de demanda (consumo de bens e serviços) —, terá outro impacto negativo, reduzindo ainda mais a atividade econômica.
O baque maior é sobre os assalariados. A disparada dos preços está acontecendo principalmente sobre alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transporte, saúde e cuidados pessoais — veja ao final desta matéria.
Inflação agrava crise política
Para o economista Adhemar Mineiro, ex-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a inflação alta desgasta muito o governo, tendo efeito negativo em sua popularidade, e está concentrada nos chamados preços administrados, como energia elétrica, combustíveis e no preço dos alimentos, que estão dolarizados devido à política econômica. “Aumenta sobremaneira o desgaste do governo por ser uma inflação muito sensível e por atingir sobretudo os mais pobres, pegando produtos como açúcar, óleo de soja, carnes em geral”, explica.
Dione Oliveira, doutora em economia pela UFRJ e diretora da Associação de Funcionários do IBGE (Assibge-Sindicato Nacional), concorda que a alta persistente da inflação contribui para desgastar o governo Bolsonaro, que não entrega ao país o que prometeu em campanha. “O descontrole da economia já ocorria antes da pandemia e as escolhas do governo, conduzido por políticas econômicas ultraliberais, refletem o baixo desempenho do PIB (Produto Interno Bruto), o alto desemprego com severa subutilização da força de trabalho e alta da inflação”, frisou. Acrescentou que estes fatores combinados levam a uma ainda maior concentração de renda, carestia e miséria para a população.
Crise econômica vai se ampliar
A forte alta dos preços gera um desgaste ainda maior porque agrava a situação econômica de crise, que, por conta da política econômica e dos efeitos da pandemia, é de alto desemprego e salários em baixa. “Na verdade, é um momento que se complica ainda mais com a subida da inflação. As pessoas estão tendo uma baixa de rendimentos, especialmente no setor informal, por conta da recessão e da pandemia e com os preços subindo. É uma situação muito grave”, avaliou Adhemar.
Segundo o economista, a tendência é de piora da situação. Isto porque o governo vai se mover de duas maneiras para lidar com a inflação, com consequências ainda mais negativas: “A primeira, pelo programa de metas de inflação, o Banco Central vai voltar a subir a taxa de juros (Selic), e ao fazer isto provocará um efeito negativo, encarecendo o crédito sobre o consumo e investimento. O efeito será um crescimento ainda menor da economia”, explicou.
Frisou que o BC tem tentado segurar o valor do dólar, por conta de que vários preços estão vinculados a ele, sejam os dos derivados do petróleo, sejam os dos alimentos. Mas sem sucesso. “Vinha tentando conter a alta da moeda, que voltou a subir para RS$ 5,30. Se o BC fracassar nesta política de contenção, que é o que parece estar acontecendo, a inflação vai seguir alta”, argumentou.
Acrescentou que o diagnóstico da política de metas, de subir a Selic para conter a inflação, não vai funcionar porque não existe uma inflação de demanda. “As pessoas não estão correndo para comprar nada. O que existe é uma inflação por aumento de custos devido à subida do dólar. É uma perspectiva muito ruim e um degaste enorme para o governo. Imagino que a gestão da crise vai se dar pela adoção dessas medidas liberais da política econômica que têm feito subir a inflação ao determinar que os preços dos combustíveis acompanhem os preços internacionais do petróleo, ao mesmo tempo, de olho também nas eleições do ano que vem. A alta da inflação terá efeito negativo sobre a popularidade do governo”, previu.
Dione Oliveira frisou que não há perspectiva de melhora se persistirem as escolhas do governo, para o curto e para o longo prazo. “A ausência de políticas setoriais articuladas, aliada à manutenção do teto de gastos, arrocho fiscal e privatização, vai agravar o quadro. Se o índice de preços está sendo puxado agora pela energia elétrica, imagina depois da privatização da Eletrobras”, argumentou.
Inflação por setor, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As informações são relativas aos meses de maio e junho, respectivamente.
Alimentação e bebidas: Maio: +0,43% /Junho: +0,44%
Habitação Maio: +1,10% / Junho: +1,78%
Artigos de residências: Maio: +1,09% / Junho: +1,25%
Vestuário: Maio +1,21% / Junho: +0,92%
Transportes: Maio +0,41% / Junho: +1,15%
Saúde e cuidados pessoais: Maio: +0,51% / Junho: +0,76%
Despesas pessoas: Maio: +0,29% / Junho: +0,21%
Educação: Maio: +0,05% / Junho: +0,06%
Comunicação: Maio: -0,12% / Junho: +0,21%
IPCA: Maio: +0,53% / Junho: +0,83%
Assista ao vídeo da campanha ‘Bolsocaro’, clicando no link abaixo:
https://youtu.be/T_nnjL_vaQA