“Mas vamos tocar a vida, tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema”. A frase foi dita por Bolsonaro durante transmissão ao vivo realizada na noite desta quinta-feira (6/8), ao lado do ministro da saúde, Eduardo Pazuello, no momento em que comentava a perspectiva de que o Brasil atinja a marca de 100 mil mortos em decorrência da pandemia do novo coronavírus.
Nesta mesma quinta-feira, o próprio Ministério da Saúde divulgou a atualização do balanço sobre a covid no país, onde 2,9 milhões de casos foram confirmados e o número de mortes já atingiu a espantosa cifra de 98.493 pessoas, sendo 1.237 delas registradas nas últimas 24 horas.
Para “se safar desse problema”, como disse Bolsonaro em sua cínica resposta, seu governo deveria ter agido de forma complemente diferente da que vem agindo desde o início da pandemia. Se, por exemplo, dos R$ 39,2 bilhões que o Ministério da Saúde tem disponíveis para o enfrentamento à covid-19, não tivesse investido somente R$ 12,2 bilhões (ou 31%). Se, em vez de insistir no uso de cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz no combate ao novo coronavírus, desse crédito ao que dizem a Ciência e respeitadas instituições, como a Fiocruz e o Instituto Butantã. Se tivesse um pingo de respeito que fosse pelos brasileiros vitimados pela doença e se abstivesse de proferir declarações em tom de deboche, como aquela que fez ao dizer, em abril deste ano: “quem for de direita toma cloroquina, quem for de esquerda toma tubaína”.
Se respeitasse a vida como valor absoluto, deixando de aparecer sem máscaras em locais públicos. E se parasse de agir como se o avanço da pandemia fosse uma ‘fatalidade’ diante da qual todos devam se resignar.
De forma também irresponsável — como tudo no atual governo —, em maio deste ano Bolsonaro ordenou que o Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército ampliasse em 100 vezes a sua produção de cloroquina, o que levou o Tribunal de Contas da União a abrir uma linha de investigação sobre o gasto adicional com o medicamento. A pergunta que não quer calar é a seguinte: Bolsonaro vai (ou não) responder por improbidade administrativa, uma vez que seu governo aumentou os gastos públicos com uma droga (cloroquina) comprovadamente ineficaz para o tratamento da covid?
Grande parte da responsabilidade pelos quase 100 mil brasileiros mortos pela covid é do governo Bolsonaro.
Responsabilidade que precisa ser cobrada.
Nesta sexta-feira (7 de agosto), as centrais sindicais estão realizando as manifestações virtuais do Dia Nacional de Luto e de Luta, em defesa da vida e dos empregos. Durante as manifestações, os trabalhadores também vão protestar contra as quase 100 mil mortes que são o produto da irresponsabilidade e do descaso do atual governo pela vida humana.