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quinta-feira, novembro 21, 2024
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Para cientistas, vacinação contra covid-19 no Brasil também deve priorizar população pobre e negra

Estudo inédito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da UFRJ mostra que trabalhadores negros no Brasil correm risco 39% maior de morrer de covid-19 do que os brancos. Já um trabalho publicado na revista britânica Public Health revela que brasileiros com educação superior — e brancos são 70% do total neste importante indicador de renda — correm risco 44% menor de serem vítimas fatais do vírus. “Os pobres, em especial os negros, são obrigados a se expor mais, adoecem mais e morrem mais de covid-19 no Brasil. Por isso, é justo e necessário que haja uma prioridade para eles. Isso é totalmente factível de realizar”, afirmou ao jornal O Globo o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ, coordenador do estudo em parceria com o IPEA e propositor da ideia de que os negros pobres sejam incluídos em grupos prioritários.

No Brasil, segundo Medronho, o pobre é quase sempre negro. São negros 75,2% da camada com menor renda da população, segundo o IBGE. Também são negros dois terços dos desempregados. “É eticamente justificável que profissionais de saúde e de segurança sejam priorizados. Eles precisam de proteção, mas é a imunização da população socialmente mais vulnerável que protegerá toda a sociedade”, salienta o epidemiologista.

Já a pesquisa “Fatores sociodemográficos associados à mortalidade por covid-19 em hospitais do Brasil”, publicada este mês na Public Health, mostra que, entre os brasileiros hospitalizados, negros têm maior taxa de mortalidade (42%) que brancos (37%). Além disso, têm menos acesso a recursos. “A covid-19 afeta os brasileiros de forma diferente. Os negros pobres correm um risco maior e isso é evidente nos dados”, afirma Fernando Bozza, coordenador do estudo e pesquisador da Fiocruz e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).

Outro estudo da UFRJ mostra que quanto maior a desigualdade e quanto maior a população negra um município brasileiro tiver, a tendência é de haver mais casos de covid-19.

A desigualdade também fica evidente em dados analisados pelas pesquisadoras da UFRJ Ligia Bahia e Jessica Pronestino para o estudo “Alerta Covid IDEC-Oxfam-Anistia Internacional-Inesc”. Esses dados mostram que a letalidade da covid-19 em negros internados em UTIs chega a 79% e é de 56% entre os brancos.

A médica Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, também se preocupa em priorizar acesso ao grupo mais exposto devido a condições de vida. “A população negra tem mortalidade mais elevada, e não apenas os quilombolas, que mesmo assim só foram incluídos após muita discussão. Estamos numa situação muito ruim, mas guardo um lado otimista, que vê a sociedade sendo forçada a se mexer para garantir seus direitos”.

Para especialistas em saúde, portanto, a vacinação contra a covid-19 acentuará ainda mais a desigualdade social e racial no Brasil, caso as populações mais vulneráveis não sejam efetivamente priorizadas.

“Por que isto acontece? Porque o estado brasileiro não considera o povo negro e pobre como sujeito de direitos, embora a Constituição de 1988 afirme que saúde é direito da população e dever do estado. Atualmente assistimos a um verdadeiro genocídio da população negra, pobre e indígena, como acontece no Amazonas, onde a covid continua vitimando muita gente por conta do desprezo do estado e do governo brasileiro pela vida humana. Temos que denunciar o governo Bolsonaro no tribunal penal internacional da ONU. O povo pobre e negro não é prioridade da vacinação contra a covid porque vivemos numa sociedade racista. Isto não pode mais continuar”, analisou Osvaldo Mendes, dirigente da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia do Sindsprev/RJ.

 

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