A pandemia do novo coronavírus e o papel fundamental da rede pública de hospitais no tratamento dos pacientes contaminados pela doença, ampliou na sociedade o debate sobre a necessidade urgente de fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS). Como exemplo, neste domingo (5/7), o 22° Encontro Estadual dos Empregados da Caixa Econômica Federal do Rio de Janeiro, aprovou como um dos eixos da sua campanha salarial deste ano a defesa do SUS. Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), divulgaram, em abril nota em defesa do SUS, na qual condenaram o boicote do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao isolamento social.
A proposta do Encontro Estadual dos Empregados da Caixa deve ser aprovada, também, pela sua 36ª Conferência Nacional (36º Conecef) a ser realizada virtualmente, por conta da pandemia, nos dias 10 e 11 de julho. Rogério Campanate, diretor do Sindicato dos Bancários do Rio, explicou que as palestras do Encontro, que antecederam à análise das propostas sobre o tema ‘Defesa da Vida’, fortaleceram o entendimento a respeito da importância de defender o que é público. “Não só a CEF e as demais estatais, como todo o setor público, especialmente o SUS, que é tão importante para a população, e que mostrou, nesta pandemia, como é fundamental para toda a sociedade”, afirmou.
Na avaliação do dirigente bancário, as consequências da pandemia seriam muito mais graves se não fosse o SUS. Criado a partir da Constituição de 1988, o sistema é público, universal e gratuito, porém, vem sofrendo ataques de seguidos governo, que foram aprofundados por Temer (MDB-SP), com a aprovação da PEC da Morte, que congelou o investimento público por 20 anos, reduzindo os recursos das áreas sociais, como saúde e educação, e pelo de Jair Bolsonaro (sem partido) que cortou ainda mais a verba do SUS, através de contingenciamentos.
Sucateado
Mesmo subfinanciado e sucateado, o SUS, muito em função do empenho e dedicação dos seus profissionais, está mostrando ser o instrumento capaz de cuidar da vida da população, sobretudo a mais pobre, mesmo que sem a qualidade que deveria, devido ao sucateamento sistemático. Um dos debatedores do encontro, o médico da Comissão Executiva dos Empregados (CEE-Caixa), Albucaccis Pereira, disse que a pandemia do novo coronavirus veio reforçar a importância do SUS e a necessidade de defender o seu fortalecimento uma luta dos bancários e de toda a sociedade.
“Os números de contaminados e mortos no Brasil são alarmantes, muito por conta do boicote feito pelo governo federal, mas seria muitas vezes pior não tivéssemos um Sistema Único de Saúde público. O Brasil é uma país muito desigual. Por isto a população pobre foi a mais atingida. É urgente cobrar investimentos pesados na saúde pública, ou seja, lutar pelo SUS”, argumentou.
Elogio até da mídia conservadora
Jornais como o conservador O Estado de S. Paulo, com a pandemia, passaram a defender o SUS. Em editorial citou o agradecimento do primeiro-ministro, Boris Johson, ao NHS (Sistema Nacional de Saúde Britânico), por ter salvado a sua vida. Johson foi internado com covid-19 e salvo. O jornal lembrou que o modelo de saúde pública do Reino Unido foi a maior inspiração para a criação, no Brasil, do Sistema Único de Saúde (SUS), reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o maior sistema de saúde universal e gratuito do mundo. “Há mais de 30 anos, o SUS é o único refúgio para 8 em cada 10 brasileiros que precisam de atendimento médico-hospitalar”, admitiu o editorial.
E acrescentou: “A universalização do acesso à saúde no País, portanto, é uma conquista inestimável dos brasileiros. Assim há de ser valorizada em seus pontos fortes e corrigida em suas deficiências. A capilaridade do SUS, seja no atendimento à população, seja na gestão regionalizada, é uma das fortalezas do sistema.
Por outro lado, há anos os investimentos públicos no sistema – nas três esferas de governo – não condizem com sua necessidade e com sua importância para o Brasil. O Orçamento da União de 2019 destinou R$ 132,8 bilhões para o SUS. Este ano, R$ 142 bilhões. Parece muito dinheiro, mas este montante serve apenas para cobrir despesas de manutenção, sem margem para investimentos. Ainda assim, com todas as limitações, o SUS é reconhecido internacionalmente pela excelência de seus programas de vacinação e de transplantes de órgãos, o maior do mundo, sem falar na enorme quantidade de atendimentos que presta e na gama de pesquisas científicas que realiza anualmente”.
E foi obrigado a dizer: “Não fosse o SUS, o País estaria em situação muito pior no enfrentamento da maior emergência sanitária em um século, a pandemia de covid-19.
Se os britânicos podem se orgulhar de seu serviço público de saúde, aos brasileiros não faltam razões para que também se orgulhem do seu.
É necessário, pois, que a União, os Estados e os municípios, nos limites de suas responsabilidades, invistam no SUS para que o sistema seja aprimorado e possa entregar com mais qualidade tudo o que dele a Nação espera”.